29 de setembro de 2012

O ponto e o contra ponto

*Paulo Ricardo da Rocha Paiva

"O PONTO"
10 de agosto de 2012
Em Marabá/PA, general graduado assume problemas do Exército
O chefe do Estado Maior do Exército Brasileiro, general-de-exército Joaquim Silva e Luna, esteve nesta sexta-feira (17) em Marabá para a passagem de comando da 23ª Brigada e não escapou de perguntas sobre a precariedade da estrutura daquela força terrestre, denunciada nacionalmente pela imprensa. Luna disse que as reportagens são verdadeiras, mas que as fontes, generais da reserva, estão desatualizadas quanto à realidade, e os investimentos já começaram a acontecer nos últimos dois anos.
Entre outras coisas, a série de reportagens do portal G1, divulgou que o EB não teria munição suficiente para uma hora de guerra, que o armamento tem 35 anos, que os fuzis e blindados são das décadas de 1970 e 1980 e que a artilharia antiaérea parou no tempo, com alcance limitado.
Ao CORREIO DO TOCANTINS, o general respondeu: “Uma grande parte do material velho e obsoleto já está sendo substituído. A parte de armamento, viaturas de um modo geral, são situações que estão mudando, eu diria, rapidamente”.
Silva e Luna não fugiu das perguntas nesse sentido e nem criticou a reportagem ou as fontes desta, preferindo contemporizar quanto à atualidade das informações. “Essas informações divulgadas recentemente, algumas foram colhidas junto a oficias da reserva, que têm ainda uma visão de três, quatro anos atrás. Isso tem sido mudado. Tem havido um cuidado do governo, da sociedade, dos poderes e da nossa força”, garante.
Em seguida, o general-de-exército ainda afirmou que a Amazônia está nesse contexto e será contemplada com material e melhores condições. Uma das situações apontadas nas reportagens do G1 é de que o EB precisa investir em mais batalhões de fronteira e aprimorar o que já é feito para guarda dos 17 mil km de linha fronteiriça do Brasil com outros 10 países.

ESTRATÉGICA
Sobre a unidade do Exército que ele veio visitar e que estava trocando de comando, o chefe do Estado Maior respondeu: “A 23ª Brigada é a mais importante brigada do Comando Militar da Amazônia, pela sua responsabilidade em área tão extensa e sensível do Brasil. Diria que é uma área que junto com o seu crescimento, pujante, traz consigo os conflitos naturais da organização. A presença do Exército aqui tem, entre outras razões, a de garantir a lei e a ordem”. (Patrick Roberto)
Fonte:"O TOCANTINS"
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Quatro estrelas diz que generais da reserva estão 'desatualizados' em relação aos problemas do Exército
"O CONTRAPONTO"
28 de setembro de 2012
Em Santa Maria /RS, coronel reformado desagrava a reserva do Exército
Não sou oficial-general da reserva, mas, também, não preciso sê-lo para rebater a opinião de quem se julga o dono da verdade, sobretudo quando diz que: -"... as fontes, generais da reserva, estão desatualizadas quanto à realidade e os investimentos já começaram a acontecer." Esse interlocutor não sabe o que está dizendo ao pensar que companheiros desligam das deficiências da Força Terrestre quando vão para casa. Eu não temo dizer que o porta-voz está muito mal informado quanto ao "espírito de corpo" de que estamos animados, máxime quando do abandono pelos irmãos em armas na lamentável tarde do “escracho" a que fomos submetidos na saída do Clube Militar/Rio de Janeiro, no dia 29 de março último.
Quanto à série de reportagens sobre o Exército no portal G1, causa espécie o fato do "especialista" não ter se reportado com vistas a, de pronto: refutar a vulnerabilidade no pertinente à munição suficiente para, tão somente, 60 (sessenta) minutos de combate; garantir que o novo fuzil, prometido, não vai esperar o "Dia de São Nunca" para ser distribuído, pelo menos para as unidades de infantaria; informar porque as geringonças sobre lagartas provenientes do Vietnã (viaturas blindadas de transporte de pessoal VBTP M113), ao invés de serem substituídas pelos CHARRUAS, fabricados pela MOTOPEÇAS de São Paulo, vão ser repotencializadas por empresa britânica (e isto, é de pasmar, apenas após o "sinal verde" concedido pelo "Tio Sam") que vai abocanhar em torno de US $ 43 milhões; justificar a intenção de compra de material antiaéreo/GEPARD (30 milhões de euros), da década de 1960, na União Européia, de tecnologia ultrapassada e retirado do serviço pela Alemanha, Bélgica e Holanda.
Interessante, não especificou qual "material velho e obsoleto' que está sendo substituído, como se o cidadão brasileiro não lesse, agora com desusada atenção, os "alertas" veiculados na mídia com muita propriedade e conhecimento de causa por tantos oficiais da reserva. Que se diga, muitos destes "desatualizados" foram instrutores na Academia Militar das Agulhas Negras, na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais e na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, de quantos se julgam hoje verdadeiros "Napoleões Bonapartes". Seria bom um esclarecimento, pois, se forem caminhões novos para as unidades de "infantaria motorizada", este tipo de infantaria já foi de há muito substituído pelos grandes predadores militares, com a conseqüente blindagem da arma base, atualmente detentora de mobilidade superior justamente viabilizada pelas VBTP sobre lagartas. Olho vivo pé ligeiro! Já tem político cogitando sobre caminhões da Força para fazerem o escoamento da produção agrícola!
Atenção! É uma temeridade sem precedentes assumir que quem vai para a reserva se desatualiza. Quem sabe, talvez isso passe pela cabeça de desvocacionados que visualizam entrar "em OFF" quando vestirem o pijama, mas, jamais, daqueles que elegeram a farda como sua segunda pele.
Quanto a investir mais em batalhões de fronteira, isto não é atribuição do Exército mas do governo, do Estado e, tem algumas décadas, já foi objeto da sinalização por tantos generais da reserva, mas tantos que até perdi a conta. Quanto às unidades de infantaria de selva, é de se perguntar se estas já foram abarrotadas (apenas contempladas não resolve o problema) por mísseis portáteis, para bater helicópteros e lanchas artilhadas de uma "coalizão" que adentrem a Amazônia ao longo das calhas dos rios. Aliás, quem vai complementar, nas capitais (centros urbanos) da grande região norte, a guerra na selva de responsabilidade da Força Terrestre? O que já foi feito com relação ao planejamento e preparo das forças subterrâneas (guerrilha urbana) e das forças de sustentação (apoio logístico às forças subterrâneas), eminentemente constituídas pela população civil? Será que vamos esperar primeiro acontecer o pior para só depois remediarmos o desastre?
*Coronel de Infantaria e Estado-Maior
(Chefiou o Estado-Maior da 23ª Brigada de Infantaria de Selva em 1999)

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