29 de novembro de 2013

Ossada é encontrada em antigo quartel do Exército no Centro do Recife

Tércio Amaral
Nos tempos da ditadura, o local foi usado como
Nos tempos da ditadura, o local foi usado como "casa de passagem" para
presos políticos. Foto: Helder Tavares/DP/D.A Press/Arquivo
Uma obra no estacionamento da Procuradoria do Ministério Público de Pernambuco (MP-PE), no bairro de Santo Amaro, pode revelar mais um capítulo da história recente da política pernambucana. Na noite desta quarta-feira (27), operários encontraram uma ossada possivelmente humana nas dependências do órgão. Suspeita-se de que os restos mortais podem pertencer a algum preso político na época do Regime Militar (1964-1985). O material foi enviado ao Instituto Médico Legal (IML) para análise.
Até o ano de 1997, funcionou no prédio o Quartel do Exército Brasileiro. Nos tempos da ditadura, o local foi usado como “casa de passagem” para presos políticos. De acordo com um material disponibilizado logo na entrada do prédio, pelo menos 132 presos políticos foram encarcerados no local, a exemplo do ex-governador Miguel Arraes, o ex-prefeito do Recife Pelópidas da Silveira e o líder de esquerda Francisco Julião. Membros da Comissão da Memória e da Verdade de Pernambuco, que investigam crimes políticos ocorridos no estado nesta época, estiveram no local na manhã desta quinta-feira (28) e deram uma entrevista coletiva.
O coordenador do grupo, o ex-deputado Fernando Coelho, preferiu aguardar os resultados da perícia no IML para tomar qualquer tipo de posição. Porém, ele frisou que este é o primeiro caso no estado onde é encontrada uma ossada em escavações numa antiga dependência das Forças Armadas. “De quem é, a gente não sabe ainda. Vamos ter que descobrir. De acordo com informações que for dada pelo IML, ou algum órgão de arqueologia, daremos um parecer. A esta altura é precário dizer como surgiu este achado. Mas é bom frisar que na época da ditadura militar aqui funcionou uma prisão, onde algumas centenas de adversários do regime tiveram presos”, disse.
“É bom assinalar que estas prisões não tinham registros, não tinham registro legal. Não há nenhum depoimento, que eu me recorde (nos trabalhos da Comissão da Verdade), sobre casos de morte aqui. Aqui funcionava mais como casa de passagem de presos políticos. Daqui eram encaminhados para outros locais. Daí a surpresa dos achados”, completou Coelho, frisando ainda que não há certeza que a ossada é humana. Membros da Comissão da Verdade, em reserva, declararam que outras suspeitas estão sendo analisadas.
O local, que é histórico, teria feito parte da antiga propriedade do Visconde de Suassuna, ainda no século 19. Como os ossos foram encontrados numa profundidade inferior a um metro, poderia ser possível que se tratasse de resquícios de um antigo cemitério da propriedade. O procurador-geral do Ministério Público, Aguinaldo Fenelon, disse que o órgão vai trabalhar junto aos membros da Comissão de Verdade. “Caso seja confirmado (ossada humana), vamos instaurar um inquérito junto à Polícia Civil e com a Comissão”.
“Todo mundo sabe que aqui funcionou um antigo Quartel do Exército. Não queremos afirmar, no entanto, mas as precauções estão sendo tomadas e vamos apurar rigorosamente o que aconteceu hoje. É muito precoce tomar uma decisão”, destacou. A área onde os ossos foram encontrados já está isolada. A reforma no estacionamento da Procuradoria do MP está em andamento há mais de dois meses e deve continuar.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO/montedo.com

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