30 de dezembro de 2013

AM: índios deixam batalhão do Exército e retornam a reserva em Humaitá

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Indígenas deixaram quartel do 54º BIS
Após seis dias em quartel, índios voltam a aldeias no Sul do AM, diz PF
Transporte de cerca de 140 indígenas ocorreu na madrugada desta segunda.
Grupo estava no 54º BIS deste o dia 25, após ataques a bens da Funai.




Adneison Severiano e Eliena Monteiro
Do G1 AM
Após seis dias refugiados no 54º Batalhão de Infantaria de Selva (BIS) do Exército, em Humaitá, município no Sul do Amazonas a 590 km de Manaus, a maioria dos 143 indígenas voltou para as aldeias de origem na madrugada desta segunda-feira (30). O grupo estava no quartel militar desde o dia 25, dia de Natal, quando bens da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) foram incendiados por moradores da área que cobravam agilidade nas buscas por homens desaparecidos na BR-230 (Rodovia Transamazônica) desde o dia 16 deste mês. A população da região culpa índios da etnia Tenharim pelo sumiço do grupo.
De acordo com informações da Superintendência da Polícia Federal em Rondônia, o transporte dos índios para as aldeias aconteceu por volta de 5h. A intenção era manter a integridade física dos indígenas. No grupo, há adultos, adolescentes e crianças. Apenas três indígenas que necessitam de transporte aquaviário para chegar às aldeias onde moram permaneceram na unidade do Exército.
As autoridades que montaram uma operação, tanto para fazer buscas pelos homens na Rodovia Transamazônica como para proteger os indígenas de possíveis agressões de moradores da região, marcaram uma coletiva com a imprensa às 9h desta segunda-feira (30). O encontro, que deve trazer um balanço das ações realizadas na área dos conflitos, foi remarcado para às 10h30.
Neste domingo (29), a Justiça Federal do Amazonas acatou o pedido de proteção à terra indígena Tenharim Marmelos, em Humaitá, feito pelo Ministério Público Federal no Amazonas (MPF-AM). A partir da decisão, a União e a Fundação Nacional do Índio (Funai) deveriam adotar medidas de segurança no local em até 24 horas. O MPF informou que acompanha os desdobramentos da situação para verificar se há necessidade de novas ações em favor dos indígenas.
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Conflitos
O Sul do Amazonas sofre com constantes conflitos agrários. Há suspeitas de que a tensão na área se agravou após o desaparecimento de três homens na Transamazônica. Moradores da área culpam a etnia Tenharim de fazer o grupo refém dentro da reserva indígena, localizada na divisa entre os estados de Rondônia e Amazonas. Segundo eles, a suposta ação dos indígenas seria uma retaliação pela morte do cacique Ivan Tenharim. A polícia afirma que a liderança indígena morreu atropelada no início do mês de dezembro. Os indígenas suspeitam de assassinato, segundo Marcos Apurinã, vice-presidente da Articulação dos Povos Indígenas de Rondônia (AIR).
De acordo com o coronel Antônio Prado, comandante do 54º Batalhão de Infantaria de Selva (BIS), no dia 24, véspera de Natal, familiares e amigos dos desaparecidos interditaram a balsa que faz a travessia do Rio Madeira, em Humaitá.
No dia 25 deste mês, moradores de Apuí e Humaitá promoveram diversas manifestações para cobrar agilidade da Polícia Federal de Rondônia (PF-RO) nas buscas pelos homens que desapareceram na rodovia. Os manifestantes chegaram a atear fogo nas sedes da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) de Humaitá e em bens das instituições.
Após os ataques, 143 índios Tenharim passaram a receber segurança do Exército no 54º BIS, em Humaitá. Na tarde de sábado (28), foram iniciadas as buscas - dentro da reserva indígena - pelos homens desaparecidos. A operação parou na noite de sábado e foi retomada na manhã de domingo (29). De acordo com o 54º BIS ainda não há novas informações sobre as buscas. Cerca de 400 homens do Exército, Polícia Federal, Força Nacional, Polícia Militar e Polícia Rodoviária Federal atuam na operação.
Pedágio
Outro impasse que estaria entre os motivos da retaliação aos indígenas seria a cobrança de pedágio em um trecho da Transamazônica, na altura do Distrito de Santo Antônio do Matupi, em Manicoré, município a 332 km de Manaus.
A cobrança de pedágio feita pelos índios não é legalizada na rodovia. "Para nós indígenas, isso é legal, apesar de que não existir na Lei. A rodovia levou à degradação do meio ambiente, introdução do álcool nas aldeias, entre outros problemas. Esses danos não foram reparados e nós entendemos que deveríamos fazer a cobrança como forma de compensação. Cabe ao governo regularizar, caso contrário vai continuar morrendo índios e não-indígenas. E nós queremos a harmonia", afirmou Marcos Apurinã, vice-presidente da Articulação dos Povos Indígenas de Rondônia (AIR), em entrevista ao G1 na sexta-feira (27).
A Federação de Agricultura e Pecuária do Estado do Amazonas (Faea) critica o pedágio. O presidente da instituição, Muni Lourenço, também cobrou a instalação de um posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na localidade. Para ele, a unidade ajudaria a evitar desentendimentos entre indígenas e não-índios sobre o tráfego na rodovia.
G1/montedo.com

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