30 de novembro de 2014

Soldado morto serviu no Haiti, mas temia favela no Rio

Michel Augusto Mikami, primeiro militar das Forças Armadas morto desde o início do plano de pacificação, ficou seis meses na missão da ONU no Haiti
Soldado Michel Augusto Mikami foi morto durante patrulhamento na Favela da Maré, no Rio
Soldado Michel Augusto Mikami foi morto durante patrulhamento na Favela da Maré, no Rio (Reprodução/Facebook/VEJA)
Mariana Zylberkan
O cabo Michel Augusto Mikami, de 21 anos, morto na tarde desta sexta-feira com um tiro na cabeça durante patrulhamento no Complexo de Favelas da Maré, no Rio de Janeiro, sabia do risco que corria. Nos últimos dois meses, o soldado foi destacado pelo Exército para atuar no processo de pacificação do complexo. A cada qinze dias, quando voltava para casa em Vinhedo, no interior de São Paulo, ele falava do medo que tinha de retornar ao trabalho.
"Ele falava que não tinha sossego, era tiroteiro dia e noite. Um amigo dele havia tomado um tiro dias antes e ele estava com medo de voltar. Ele sabia o risco que ele estava correndo", diz a prima Isabela Moreira. O soldado iria para casa novamente na próxima terça-feira. Ele é o primeiro militar das Forças Armadas morto desde o início do plano de pacificação de favelas que originou as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).
O soldado foi baleado na cabeça durante patrulhamento de rotina na Vila dos Pinheiros, no Complexo de Favelas da Maré, e morreu a caminho do Hospital Central do Exército; antes ele foi atendido na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Vila do João. Mikami servia no 28º Batalhão de Infantaria Leve, localizado na cidade de Campinas (SP).
Mikami sempre quis servir o Exército e almejava seguir carreira até alçar postos de comando. Em novembro do ano passado, ele embarcou para servir na Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH) por seis meses. A experiência e o contato com a extrema pobreza eram descritas pelo soldado como transformadoras. "Ele se impressionou como a frequência como as pessoas adoecem lá por causa da qualdiade da água", diz a prima.
Na casa onde o soldado morava com os pais, o clima era de incredulidade com a morte tão precoce de Mikami. "Estamos todos transtornados, parece que ainda não caiu a ficha", diz Isabela. A mesma sensação é compartilhada por amigos e parentes na página que deixam mensagens de despedida na página do Facebook do soldado; colegas de Exército o chamam pelo apelido de "japa".
O corpo do soldado será enterrado na tarde deste sábado no Cemitério Municipal de Vinhedo, no interior de São Paulo. Até a noite desta sexta-feira ainda não havia informações sobre o translado do corpo do Rio para São Paulo. O vídeo abaixo mostra o momento em que o soldado foi socorrido após ser baleado.
Veja/montedo.com

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