5 de outubro de 2015

Os inúteis



David Coimbra
Quando Renato Janine Ribeiro foi escolhido ministro da Educação, escrevi uma coluna elogiando-o. Pelo que sabia, tratava-se de homem bem-intencionado, principalmente no principal, que é o ensino básico.
Isso, essa coluna, faz menos de seis meses que a escrevi. Agora Janine Ribeiro está sendo substituído por Mercadante, e me sinto um otário por ter consumido tempo e tinta com tamanha nulidade, que é um posto de ministro no Brasil.
Seis meses.
Estão debochando de nós.
Essa reforma ministerial deixa claro que o único cargo de ministro que tem alguma importância é o da Fazenda. Seu ocupante, hoje, manda não apenas na presidente aflita para se manter no emprego, mas também no messias venerado do PT, o Pai Lula. Todos os outros ministérios passariam muito bem sem ministros. Funcionariam melhor, inclusive. Os ministros tão somente atrapalham os funcionários de carreira, sobretudo se têm ideias acerca do seu ministério.
Um ministro com ideias é perigoso. Vamos pegar um dos preferidos do governo: Aldo Rebelo. Ele já foi ministro das Relações Institucionais, seja lá o que for isso, da Ciência e Tecnologia, dos Esportes e, agora, está na Defesa.
Se você tiver mais de 40 anos, vai se lembrar de um personagem de Hanna-Barbera, o Multi-Homem, do grupo de heróis Os Impossíveis. É o Aldo Rebelo. Só que ele é do grupo de heróis Os Supérfluos.
Aldo Rebelo, por seus múltiplos interesses, é o nosso Leonardo da Vinci. Suas ideias também são do tempo de Leonardo. Aldo Rebelo concebeu um projeto para proibir o setor público de adquirir “tecnologia poupadora de mão de obra”. Coisas como… computador. A intenção era ótima, de dar emprego para as pessoas. Que bonzinho. Para isso, ele obrigaria o Estado a ser obsoleto. Milhares de funcionários prescindíveis passariam o dia escrevendo em máquinas de datilografia, usando mata-borrão e se deslocando em carruagens.
Outro de seus projetos tentou proibir estrangeirismos na língua portuguesa. O YouTube, por exemplo, deveria ser chamado de “Tutubo”.
Durante a Copa, Aldo Rebelo era ministro dos Esportes. Ele foi entrevistado no Sala de Redação. Perguntei sobre o despautério de o país ter 12 sedes, em vez de oito ou 10, de construir estádios em lugares em que o futebol não tem público, como Natal, Brasília, Manaus e Cuiabá, e de um desses estádios, o de Brasília, ter custado quase US$ 1 bilhão. Ele respondeu que o Flamengo havia lotado o estádio de Brasília, provando que lá existe futebol, e que a Alemanha também teve 12 sedes. Rebati:
– Mas, ministro, foi o Flamengo que lotou o estádio, não o Brasiliense! E o senhor está comparando o Brasil com a Alemanha?
Ele ficou brabo, e o Pedro Ernesto tocou o programa em frente, no que fez muito bem.
Aldo Rebelo, naturalmente, é do PC do B, o partido apoiador do democrático regime da Coreia do Norte.
A nossa sorte é que, em geral, os ministros não têm tantas ideias como Aldo Rebelo, nem sentem interesse algum por seus ministérios. Eles só estão pensando na sinecura para a qual foram nomeados e em nomear seus apadrinhados para outras sinecuras, e assim formar uma rede de apaniguados que os manterá empregados por longo tempo.
Outra boa notícia é que a presidente da República e seu chefe, Levy, também não se interessam pelo trabalho dos ministros. Eles só querem que os ministros carreiem votos no Congresso para impedir o impeachment e, se der, aprovar seus projetos.
Ufa.
O único novo ministro que teve ideias, pelo que percebi, foi aquele da Saúde: a ideia do homem é dobrar um imposto. Viram que perigo?
Temos de pedir em uníssono:
“Por favor, ministros queridos, façam a coisa direito: não façam nada”.
ClicRBS/montedo.com

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