9 de junho de 2016

Por que a continência deve voltar ao pódio nos Jogos Olímpicos do Rio


Harry How/Getty Images
Rodrigo Mattos
Do UOL Esporte, no Rio de Janeiro
Assim como ocorreu no Pan de Toronto, as continências devem estar presentes nos pódios nos Jogos do Rio-2016. As Forças Armadas terão 100 atletas da delegação olímpica brasileira (um quarto do total), e preveem ganhar 10 medalhas (um terço das previstas).
No Canadá, a continência chamou a atenção porque poderia ser tomada como um gesto de propaganda ou político, o que é vetado pelo COI (Comitê Olímpico Internacional). Mas o COB rechaçou qualquer tipo de descumprimento do regulamento: entendeu que não havia marketing ou mensagem vetada pelas regras olímpicas. Por isso, está liberado nos Jogos do Rio-2016, mas não é obrigatória.
"Não houve ordem, orientação. A gente fica feliz. Vê como uma forma dele agradecer as Forças Armadas. Até diria que em muitos casos, o programa representou o limite entre prosseguir, ou abandonar a carreira. Foi espontâneo", afirmou o diretor do Departamento Militar das Forças Armadas, vice-almirante Paulo Zuccaro.
Ele explicou que já existem 95 militares confirmados no Time Brasil: o objetivo final é atingir 100 membros. A estimativa de 10 medalhas se baseia em esportes como o judô (a equipe inteira), vela, vôlei de Praia, tiro e natação. No total, as Forças Armadas gastam R$ 15 milhões anuais com os salários para 670 atletas, e outros R$ 3 milhões para apoio.
Um exemplo é a judoca Mayra Aguiar, terceiro-sargento na Marinha, uma das favoritas na categoria até 78kg. Em Toronto, ela disse ter prestado a homenagem por um pedido das Forças, e ressaltou ter incorporado o militarismo.
No vôlei de praia, em que o Brasil é favorito, há cinco entre os oito atletas. Isso inclui Alison e Bruno Schmidt que são considerados a melhor dupla do mundo. Bruno é segundo sargento da Marinha e chega a ir a eventos de premiação olímpica de farda. Orgulha-se de ser militar por ter até um pai que era capitão de mar e guerra.
Outras que apareceram com o uniforme militar para receber prêmios olímpicos foram Martine Grael e Kahena Kunze, que são sargentos da marinha e favoritas na classe da Vela 49rFX. O uso das fardas foi uma orientação das Forças Armadas. Os salários vão até R$ 4 mil dependendo da patente, e os atletas ainda podem usar centros de fisioterapia e planos de saúde das Forças.

Planejamento pós-Olimpíada
Para depois dos Jogos, além da manutenção desses valores, as Forças Armadas contarão com novas instalações graças ao orçamento olímpico que reformará diversos dos seus equipamentos. A previsão é de R$ 120 milhões.
Isso inclui dois campos de padrão Fifa em centro de treinamento da Marinha, reformas em piscinas e instalações e equipamentos de tiros no Complexo de Deodoro, campos de rúgbi, pista de atletismo e ginásios poliesportivos em centros da Aeronáutica. Há previsão de convênios com confederações olímpicas para que essas utilizem as instalações.
Até porque a maioria dos atletas do programa militar não foi formado nas forças, e sim incorporado quando estava no alto nível. Apenas 66 deles, ou 10%, são de esportistas que efetivamente têm a carreira militar completa.
Os outros foram incorporados por meio do CPOR, isto é, em um regime de até oito anos. Alguns acabarão sua carreira em 2017 como prevê a lei. Mas as Forças Armadas pretendem tentar um mecanismo para estender a permanência de alguns.
"Não dá para ficar com todos senão não tem renovação da força olímpica"; completou Zuccaro. "Eles são militares atletas. Dedicam o seu dia a dia para o aperfeiçoamento de sua competência olímpica. A presença deles tem elevado muito o nível do desporto militar de maneira geral. Já somos uma potência militar mundialmente pelo que nos aportam, mais os investimentos nestas instalações."
Assim, as Forças Armadas pretendem aprimorar o programa e torná-lo efetivamente um formador de atletas de excelência. A tese de Zuccaro é de que a presença dos esportistas já aumentou o nível de ciência e medicina esportiva, e instalações, nas forças, o que incentiva a formação de valores dentro das forças. Há ainda um programa social chamado Profesp, em conjunto com o Ministério do Esporte, que pode servir como peneira. Uma limitação é que as Forças Armadas não têm como incorporar menores promissores.
Entre os atletas de alto rendimento, a incorporação é feita por meio de um estágio e treinamento básicos em que eles são ensinados sobre as condutas militares. A partir daí, têm que respeitar o estatuto militar, avisar quando viajam para as bases, e ser avaliado pelas comissões esportivas.
A cada ano as comissões decidem se os atletas continuam nas Forças Armadas, ou não. "Se um determinado atleta não atende, a força pode dispensá-lo. Uma vez por ano, são analisados caso a caso para ver quem segue. São parâmetros bem específicos", explicou Zuccaro. Mas, no dia a dia, treinam onde é mais conveniente para seu desenvolvimento.
Outro fator que leva à exclusão é o doping. Cada comissão das Forças Armadas decide pelo futuro de atletas flagrados, mas a regra é excluir todos os que tenham julgamento definitivo em tribunais esportivos. Há ciclistas militares que estão com testes positivos, e estão à espera da decisão final.
UOL/montedo.com

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