20 de agosto de 2016

Alison se orgulha de "ser milico" e admite tratamento diferente a atletas

Súplica do editor:
Sim! Eu sei que o cara diz que é militar e está com uma barba de último dia de férias.
Sim! Eu sei que ele não tira serviço, não faz marcha, não atira, etc.
Entretanto, rogo que leiam com a atenção suas respostas às perguntas canalhas, carregadas de rancor, do repórter do UOL. Uma aula de como lidar com o jornalismo engajado.
Adriano Wilkson
Do UOL, no Rio de Janeiro
Um dia depois de conquistar o ouro olímpico em Copacabana e prestar continência no pódio, Alison Cerutti falou ao UOL Esporte sobre o patrocínio que recebe das Forças Armadas. O programa sofre algumas críticas de pessoas que veem no incentivo uma tentativa dos militares em se promoverem e ganharem destaque com o desempenho dos atletas nos Jogos Rio-2016.
Uma das "alfinetadas" foi feita pelo técnico de Arthur Zanetti, Marcos Goto, que disse que as Forças Armadas se preocupam apenas em contratar atletas de alto nível, e não investem na base. As Forças Armadas, no entanto, argumentam que tem um programa chamado Profesp, cujo principal obtido é inclusão social.
Terceiro-sargento da Marinha, Alison saiu em defesa do apoio aos atletas de elite do Brasil. Ele e seu parceiro de quadra Bruno Schimdt participam do programa federal que apoia os atletas de elite e já teve participação em 12 das 15 medalhas brasileiras no Rio. Capixaba de 30 anos, conhecido como Mamute por seus 2,03 metros e 102 kg, Alison se disse "orgulhoso de ser milico", mas admite que como atleta profissional não passa muito tempo frequentando o quartel.

Veja alguns trechos da entrevista feita na tarde de sexta-feira (19).
UOL Esporte - Você é um atleta militar em um país que recentemente passou por uma ditadura militar de 25 anos. Refletiu sobre isso quando aceitou o convite da Marinha?
Alison Cerutti - Não. Eu recebi o convite e tenho muito orgulho de ser milico porque me dá uma estrutura de trabalhar. Me dá uma tranquilidade de fazer meu melhor dentro de quadra.
O passado, as atrocidades que aconteceram, não dizem respeito a mim. Eu recebi um convite nos últimos três anos pra ser milico, representar meu país nos Jogos Militares, de participar dessa ideologia de ter os atletas próximos. Acho uma puta oportunidade.
Na Alemanha é assim, e tem um passado horroroso a Alemanha também. Nos Estados Unidos é assim, na China é assim, Japão é assim e outros países. O problema do Brasil é sempre esse. Sempre que você faz uma coisa já querem levar a outra. O passado é o passado, hoje já não existe mais isso. Claro que houve atrocidades, coisas feias, mas não cabe a mim julgar. O que eu estou vivendo hoje é que hoje eu sou um atleta militar.

Hoje muitos militares relutam em reconhecer os erros cometidos no passado. Muitos dizem que a tortura, por exemplo, foi feita de maneira localizada, quando na verdade sabemos que foi uma prática institucional. Você conversa com os militares sobre essas coisas?
Não tenho diálogo com ninguém sobre isso, não pergunto sobre isso, não cabe a mim julgar. A gente não conversa sobre isso. Até porque o atleta profissional dificilmente vive a vida militar. A gente representa o nosso país e acaba não ficando muito no quartel. Não é uma regalia, mas nós somos diferentes.

O que acha de figuras como o Bolsonaro, uma pessoa que exalta um torturador? Acha que ele "queima o filme" dos militares?
Ele sempre foi assim, sempre foi assim, é difícil o cara mudar. Eu não discuto política, religião e futebol (sou flamenguista!). Não estou fugindo da sua pergunta, mas não discuto porque é uma coisa que desgasta tanto. Sobre o Bolsonaro, eu respeito o jeito dele, a maneira que ele pensa. Agora cabe a mim ou não acreditar ou concordar. Tenho minha opinião e prefiro não comentar

Você não vota nele então?
Não falei isso, falei que prefiro não comentar.

Como se define politicamente, esquerda ou direita?
Não me defino de nenhuma forma. Não vou falar sobre política, não me sinto à vontade. Sou formador de opinião, uma referência, então prefiro não comentar. Não estudei para isso, não é minha área. Tenho que falar sobre voleibol, minha vida, minha opinião. Mas política e religião não comento.

Você estudou para quê?
Me formei na escola, gostava de estudar. Fiz seis meses de publicidade e dois anos de administração. É a área que eu mais gosto, publicidade, administração e marketing. Não tive continuidade porque minha carreira tomou outro rumo, mas gosto de coisas novas, inovadoras, e é assim que toco minha carreira, com desafios, inovações...

Como foram seus últimos dias? Muita pressão?
De todos os atletas do vôlei de praia eu era o mais pressionado. Que tenham participado das últimas Olimpíadas só tinha eu e o letão que éramos medalhistas. Ele saiu na primeira fase e sobrei eu. É incrível como você vive esse momento. Existe essa pressão, mas eu consigo junto com meu parceiro reverter e jogar.

Você tem a frase “Dias de Lutas Dias de Glória” tatuada no braço. Qual sua relação com a banda Charlie Brown Jr.?
Conheci a banda desde o primeiro CD deles. Antigamente se comprova muito CD, né? Eu gostava meio de rockzinho, tive todos CDs e hoje tenho todas as músicas compradas na internet. Pra mim foi um baque muito grande o que aconteceu com a banda [a morte do vocalista Chorão]. As letras me tocam muito.
“Dias de Luta Dias de Glória” reflete muito minha carreira. A vida do atleta tem momentos ruins e bons. Ruins são as lesões, falta de patrocínio, pensar em desistir. Mas tive dias de glória, vitórias, títulos, conhecer pessoas bacanas que te ajudam, conhecer o mundo...
UOL/montedo.com

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