21 de setembro de 2009

TEMPORADA DE COMPRAS DEIXA EXÉRCITO IMPACIENTE

Força terá em 2010 valor três vezes menor que os de Marinha e Aeronáutica para reaparelhamento
Com um efetivo quase três vezes superior aos da Marinha e da Aeronáutica, o Exército aguarda impaciente uma definição do Planalto sobre o programa de reaparelhamento da tropa.
Há insatisfação entre os generais com a preferência do governo Lula pelos investimentos de R$ 34 bilhões na compra de submarinos e caças para as demais forças, em detrimento do esquálido orçamento verde-oliva.
– A ciumeira é evidente entre os altos oficiais – assegura um general de quatro estrelas, grau mais elevado na hierarquia do Exército.
Para 2010, o Ministério da Defesa destinou apenas R$ 361 milhões para a modernização dos equipamentos do Exército, valor três vezes menor que o dispensado à Aeronáutica (1,3 bilhão) e sete vezes inferior ao da Marinha (R$ 2,7 bilhões). Por conta da escassez de recursos, desde a semana passada não há expediente nos 652 quartéis nas manhãs de segunda-feira e nas tardes de sexta-feira. Além de economizar na alimentação da tropa, a medida visa a racionar as despesas com água e energia elétrica.
– Antes, isso só ocorria em dezembro, com a dispensa dos recrutas e o elevado número de militares em férias. Desta vez, foi em setembro – reclama um interlocutor do comandante do Exécito, general Enzo Peri.
A dispensa foi uma forma de o Comando protestar pelo contingenciamento de R$ 580 milhões no orçamento deste ano. Elogiado pelo Ministério da Defesa pela parcimônia com que gerencia o fluxo de caixa, desta vez o Exército decidiu gastar todo o dinheiro que tinha à disposição. A iniciativa é uma tentativa de barganhar mais recursos junto ao governo, tática empregada com êxito pela Marinha e pela Aeronáutica.

No Dia do Soldado, general pediu “condições adequadas”
A penúria ameaça até o treinamento dos militares que estão sendo preparados para se incorporar à missão de paz no Haiti. Dos R$ 90 milhões previstos para a preparação da tropa, apenas R$ 58 milhões foram liberados, comprometendo inclusive exercícios de tiro do contingente. Por falta de munição, cada militar efetuou apenas 50 dos 200 disparos previstos. As manobras para o restante do efetivo também foram suspensas.
– Isso é péssimo para a auto-estima da tropa – exagera um general.
O próprio armamento pessoal dos soldados é considerado obsoleto. O Fuzil Automático Leve (FAL), de tecnologia nacional e calibre 7.62mm, está em uso desde 1967.
Seguindo a tendência mundial, a Imbel, indústria de armamento bélico vinculada ao Ministério da Defesa, já projetou um fuzil calibre 5,56 para substituir o FAL. O Exército pretende encomendar 150 mil unidades da nova arma, mas não há data nem previsão orçamentária para a compra.
As reclamações, contudo, ficam restritas aos bastidores. Em público, os generais citam que o programa de reaparelhamento do Exército chega a R$ 42 bilhões. O cronograma de investimentos prevê uma injeção de R$ 2,1 bilhões anuais, de 2010 a 2030, e projeta a compra de blindados, a ampliação dos pelotões de fronteira da Amazônia, bem como a aquisição de radares e aeronaves não-tripulados.
– Nossas compras são quase todas feitas no Brasil, e não no Exterior – justifica o presidente do Clube Militar, o general da reserva Gilberto Figueiredo.
Para Nelson Düring, especialista em estratégia e equipamentos militares, o pacote do Exército é ambicioso, mas perde em marketing para as compras da Marinha e Aeronáutica.
– Os comandantes do Exército estão perdendo uma guerra midiática. Qual o apelo do Exército sobre os jovens diante de uma Marinha com submarino nuclear e uma Aeronáutica com modernos equipamentos? – compara o editor do site Defesa.net.
O comando do Exército aproveita todas as brechas para mandar recados ao governo. Por ocasião do Dia do Soldado, Enzo Peri fez um pronunciamento ao efetivo de 183 mil homens. Em meio a elogios ao espírito de Duque de Caxias, patrono do Exército, deixou uma mensagem velada ao Planalto:
– Urge que haja condições adequadas de estrutura e preparo para manter nosso exército em permanente estado de prontidão – asseverou.

fabio.schaffner@gruporbs.com.br
FÁBIO SCHAFFNER
Brasília

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