Compradora de modelo francês adquirido pelo Brasil reclama de problemas para fazer Scorpène submergir
O Scorpène, submarino que simboliza o bilionário acordo militar Brasil-França, está passando por apuros no Oriente. O governo da Malásia, um dos raros compradores do modelo, afirmou que não consegue fazê-lo submergir em segurança.
Desde dezembro a Marinha local luta contra defeitos no barco, como uma falha no seu sistema de resfriamento. "O submarino ainda pode submergir, mas nós fomos alertados de que ele não deve fazer isso", disse na semana passada o ministro Ahmad Zahid Hamidi (Defesa), citado pela agência France Presse.
Ele afirmou que fará nova tentativa no mar no dia 18. A Malásia comprou dois Scorpène em 2002 por US$ 960 milhões, e a segunda unidade está com sua entrega atrasada em quase seis meses.
Apesar de problemas na incorporação de novos sistemas militares não serem incomuns, o fato de o governo vir a público falar delas é sinal de sua gravidade.
O contrato foi alvo de polêmica, com denúncias de que um assessor do então ministro da Defesa ganhou propina da França para fechar o contrato. Hoje, o ministro é o premiê do país. Todas as partes envolvidas negam ter havido quaisquer irregularidades.
Acordo
O Scorpène será o novo modelo de submarino convencional do Brasil. No acordo assinado com a França em 2009, a parte referente à aquisição de quatro submarinos e seu apoio logístico é de R$ 5 bilhões no câmbio de sexta-feira passada.
O custo não é comparável ao modelo asiático porque o barco brasileiro tem características próprias, sendo, por exemplo, maior no comprimento.
O total do negócio chega a R$ 17 bilhões, por incluir a construção de base, estaleiro e do futuro modelo de propulsão nuclear brasileiro -fora a logística e os armamentos.
A Marinha do Brasil hoje usa modelos diesel-elétricos alemães, líderes do mercado mundial, e a mudança de padrão foi criticada como antieconômica.
Quatro são da classe Tupi, uma nacionalização do chamado Tipo-209, e um é da mais avançada classe Tikuna.
A justificativa apresentada pela preferência do francês foi que o pacote incluía a tecnologia para fazer o modelo nuclear, o que os alemães não possuem.
O Brasil domina o ciclo do combustível nuclear, em programa controlado pela Marinha, mas não a tecnologia para integrar casco, reator e sistema de propulsão.
Causou estranheza a observadores também o fato de o estaleiro francês DCNS ter subcontratado, sem licitação ou consulta oficial ao Brasil, a empreiteira Odebrecht para a construção das novas instalações no país.
Essa parte consome R$ 4,75 bilhões do acordo. O governo brasileiro afirma que os franceses ofereceram um pacote, e que a escolha da empreiteira já estava embutida nele
Hoje só há dois Scorpène ativos no mundo, no Chile. Além dos modelos da Malásia, estão previstos seis feitos sob licença na Índia e os quatro brasileiros.
FOLHA DE SÃO PAULO