ANGELA PINHO
O Conselho Regional de Medicina do DF vai julgar o comportamento profissional de 18 médicos militares acusados de "delitos éticos" no tratamento do sargento Laci Marinho de Araújo, que alega ter sofrido perseguição do Exército após assumir relação homossexual.
Araújo foi preso pelo Exército em 2008 após dizer, em entrevista à Rede TV!, que era gay e que vivia com o sargento Fernando de Alcântara Figueiredo, que depois saiu da corporação.
O Exército alegou que Araújo estava sendo detido por ser considerado um desertor, o que os dois contestaram à época.
Ao todo, de acordo com Alcântara, foram 58 dias de detenção e 19 de retenção compulsória em um hospital, com tortura, de acordo com a denúncia encaminhada pelo próprio Araújo à entidade médica.
O CRM irá julgar se os profissionais denunciados infringiram nove artigos do Código de Ética Médica, entre os quais aqueles relativos a imperícia, negligência e discriminação.
Todos eles já passaram por uma sindicância no conselho, que constatou irregularidades nos procedimentos. O parecer diz que o sargento, embora tivesse diagnóstico de epilepsia, ficou preso e foi recolhido compulsoriamente ao hospital.
O parecer afirma que os médicos militares agiram como "militares médicos", colocando a medicina em segundo plano em relação aos interesses da sua instituição (o Exército).
O documento relata, ainda, que eles se negaram a reconhecer atestado feito por médico civil, adiaram a realização de exames e permitiram que uma pessoa doente fosse presa e internada compulsoriamente.
A partir de agora, o CRM irá ouvir o sargento Araújo, os profissionais de saúde acusados e testemunhas antes de emitir a decisão final -caso sejam punidos pelo órgão, os médicos ainda poderão recorrer ao Conselho Federal de Medicina.
O Exército informou ontem que os profissionais estão sendo notificados e que todos deverão ser defendidos pela Advocacia-Geral da União.
FOLHA DE SÃO PAULO