8 de junho de 2010

FAZ DE CONTA: APÓS COMPRAR OS NOVOS CAÇAS, BRASIL DEVERÁ COMPRAR JATOS DE TREINAMENTO POR UM BILHÃO DE DOLARES!


Modelos serão usados para treinar pilotos dos aviões de combate; compra ficará entre 24 e 36 aparelhos
Marcelo Cabral
Na proteção dos céus brasileiros, os italianos tentam entrar de carona na grande concorrência de pelomenos US$ 10 bilhões para a compra de jatos de combate para equipar os esquadrões da Força Aérea Brasileira (FAB), o chamado projeto FX-2. A Itália não está entre as finalistas do processo – o favorito é justamente o francês Rafale, fabricado pela Dassault -, mas está tentando aproveitar a chegada da sofisticada aeronave para vender novos jatos de treinamento para o país.
Segundo informações obtidas pelo , existe hoje na FAB a convicção de que o novo caça, seja qual for o escolhido, vai exigir a adoção de um avião de treinamento a jato. Isso acontece porque omodelo atualmente usado para treinar os pilotos – o turboélice Tucano – não consegue simular todas as situações que acontecememum aparelho a jato, muito mais rápido, potente e complexo. “O gap (lacuna) entre o Tucano e o Rafale ou Gripen é grande demais. Já existe na cúpula da FAB a convicção de que vai ser praticamente obrigatório comprar um novo aparelho de treino”, afirmou umafonte ligada aosmilitares.
De acordo com essa fonte após a conclusão das arrastadas negociações do FX-2, deverá ser lançada uma nova operação para comprar entre 24 e 36 jatos de treinamento. E o favorito para ocupar o postoéoM-346, fabricado pela Alenia Aermacchi. A um custo mínimo de US$ 20milhões por aparelho, mais o fornecimento de peças, manutenção e treinamento, o preço total da compra deve ficar na casa de US$ 1 bilhão. Valor nada desprezível, chegando a cerca de 10% do que deve ser gasto nos lotes iniciais dos caças. Mas, na visão de Sergio Coniglio, diretor- engenheiro da Alenia Aermacchi, o caro vai sair barato a longo prazo. “O M-346 permite reduzir o emprego dos caças como avião de treinamento. É mais econômico para essa função tanto emtermos de custo de operação quanto de gasto de combustível”, diz. “Então, os gastos menores com treinamento acabam pagando a aquisição a longo prazo”, raciocina.
Aliás, o M-346 é a grande menina dos olhos da Finmeccanica para o setor aeronáutico. A empresa enxerga ummercado de até 2 mil unidades para aparelhos de treinamento e ataque leve ao redor do mundo nos próximos anos, demodo que está ampliando suas linhas de produção situadas no norte da Itália. “O avião é muito avançado.Hoje emdia,um piloto não é só uma pessoa que manobra a aeronave, mas que gerencia os sistemas de bordo. E o nosso aparelho é o único nomundo que permite treinar essa característica, que está presente em todos os aviões de combate de nova geração”, garante o diretor regional de vendas Luigi Taddia.
Os italianos estão emsituação favorável devido à sua tradicional parceria já estabelecida com a FAB. Durante décadas, a Força Aérea operou cerca de 160 treinadores leves MB-326, que inclusive chegaram a ser fabricados sob licença no Brasil com o nome de Xavante. Mais tarde, foi em conjunto com as italianas Aeritalia e Aermacchi (que hoje formama Alenia Aermacchi) que a Embraer desenvolveu o jato tático AMX, que hoje é omaior pilar da aviação de ataque brasileira. “Os aviônicos, componentes estruturais e tecnologias desenvolvidas na ocasião permitiram que a Embraer ganhasse knowhow para criar suas novas linhas de jatos executivos regionais”, explica Fernando Arbache, presidente da Arbache Consultoria.
Surpresa sueca
Caso o Rafale seja surpreendentemente derrotado pelo caça sueco Gripen, fabricado pela Saab, a situação do grupo melhora. Isso porque a Selex Galileo fornece uma boa parte dos sistemas eletrônicos da aeronave, inclusive o radar Raven, além dos modelos Grifo que já são usados pelos atuais jatos F-5F da FAB. “Nós ainda não perdemos a fé no Gripen”, avisa Fabrizio Giulianini, CEO da companhia. “Mas mesmo se o Rafale for escolhido, podemos fornecer radares para outras aeronaves”, garante Giulianini. Aliás, os italianos se propõe a compartilhar a tecnologia dos sistemas de rastreamento, uma das mais sensíveis no meio militar. “Poderíamos criar um centro de excelência no Brasil”, diz o executivo.