9 de agosto de 2010

HAITI:CAPITÃO DO EXÉRCITO RELATA MISSÃO EM LIVRO.


Aray Nabuco

Soldado brasileiro veste capacete da ONUA primeira experiência do Brasil como força de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) em outro país, o Haiti, é narrada no livro “Combate de Paz”, do capitão Luciano Moreira, instrutor da Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em Campinas. Junto com outros militares em ativa na cidade, Moreira integrou o Pelotão de Fuzileiros no quarto contingente brasileiro a chegar na ilha caribenha.
Dramas
O capitão, também atleta de alto rendimento, esteve no Haiti entre novembro de 2005 a junho de 2006, tempo suficiente para conhecer e viver os dramas da população local, oprimida entre a miséria e a violência e sem uma autoridade governamental com estrutura e capacidade suficientes para controlar a situação.
“Nos primeiros contingentes, a violência no Haiti era muito grande. Os brasileiros foram colocados em favelas com grande rejeição ao governo local. O governo não tinha condições de exercer a autoridade em seu próprio território”, conta o militar, comparando a situação à do Rio de Janeiro, onde o crime supre as necessidades da população ao invés do estado. Seis anos após a intervenção da ONU, diz Moreira, o Haiti tem índices de violência menores que os cariocas.
'Cozinha do Inferno': lixão e feira livre com esgoto a céu abertoHistórias
Os dramas diários da população e os combates com rebeldes vividos pelo capitão estão no livro, com nomes fictícios. São várias histórias, mas a felicidade de duas crianças ao ganharem do capitão simples balas de confeito está entre as cenas que mais marcaram sua estadia no Haiti.
“As crianças fizeram uma festa por causa das balinhas, foi uma alegria. Mas aquilo acabou comigo. Veja só, uma bala fazer diferença na vida de uma criança”, diz ele sobre o episódio vivido na chamada ‘Cozinha do Inferno’, nome dado pelos brasileiros a um local que mistura lixão a céu aberto e feira livre e que atraía catadores em busca de alguma migalha para matar a fome. “Naquele dia, o esgoto estava tão alto que a viatura não conseguia passar.”
Pacificação
No livro, o capitão não escreve sobre se o Brasil fez bem ou não de colocar seus soldados no conflito haitiano. Mas Moreira não tem dúvida: “O Brasil fez muito bem de ter ajudado o país tão necessitado como o Haiti. Hoje o Brasil é reconhecido como um poder de pacificação já que outros países tentaram antes e não conseguiram.” Com as ações, o Brasil cumpriu a classificação da ONU e permaneceu no país.
Aos 31 anos, Moreira é também atleta e alto rendimento e atualmente está fora de Campinas, treinando a equipe brasileira para o mundial de esportes militares que ocorre no Brasil no ano que vem.
Capitão Luciano MoreiraRelatos
Seu livro é o segundo relato de soldados brasileiros que estiveram no Haiti, experiência que lhe valeu um certo amadurecimento. Quando o repórter comenta que, apesar da patente de capitão, ele ainda é novo, o militar devolve: “Sou novo, mas depois de tudo o que vi no Haiti, acho que envelheci um pouco, devo estar com uns 40.”
O livro está disponível na rede de livrarias Cultura e, em São Paulo, Folha, além do site da editora. A obra também está entre os lançamento da Bienal do Livro de São Paulo, que abre quinta-feira (12).
Capa do livroServiço
Título: “Combate de Paz”
Autor: Luciano Moreira
Editora: Baraúna
Número de páginas: 358
Preço sugerido: R$ 40,90