28 de novembro de 2010

ESPECIALISTA COMPARA OPERAÇÃO NO RIO COM TOMADA DE MONTE CASTELO

A ocupação do alto da Serra da Misericórdia por militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) foi essencial para a estratégia de cerco dos traficantes no Complexo do Alemão, segundo Rodrigo Pimentel, ex-capitão do Bope. Para ele, agora, o próximo passo é a invasão mesmo que haja uma rendição em massa.
- A estratégia de tomar o Complexo por camadas é acertada. A polícia tem uma vantagem tática muito grande que é dominar o ponto mais alto da serra. Pode posicionar atiradores no alto da mata, infiltrando no Alemão dezenas de equipes por várias localidades distintas, causando uma dificuldade para os traficantes de evitar a invasão - explica Pimentel. - O próximo passo certamente é a invasão, não há como a polícia não entrar. Mesmo que ocorra uma rendição em massa, é preciso invadir e vasculhar se há outros criminosos, beco por beco, laje por laje.
Segundo ele, a estratégia de cerco por duas frentes (pelo alto e por baixo) chama-se "martelo e bigorna" e é historicamente adotada por todos exércitos. Ele ressalta que a tática é desgastante para os traficantes, mas também para policiais e moradores.
- Para entrar na Vila Cruzeiro, a polícia invadiu por uma única frente, com utilização dos blindados por baixo, enfrentando muita resistência. Agora, eles estão encurralados, cansados e sob o estresse de uma invasão iminente. Não têm para onde fugir. O fim de semana é o momento ideal para invadir, pois há menos circulação de moradores - diz Pimentel.Analista compara ação no Haiti
Professor de Relações Internacionais do curso de Defesa e Gestão Estratégica Internacional da UFRJ, Leonardo Valente faz um paralelo entre a estratégia adotada no Complexo do Alemão com outros momentos históricos como a tomada das Colinas de Golã pelo Exército de Israel, em 1967, e os conflitos no Afeganistão e no Haiti, mais recentemente.
- A analogia com Golã é válida, pois, se você toma a base e o alto, isola operacionalmente o adversário, impedindo qualquer movimentação do inimigo. No Afeganistão, também é comum as tropas aliadas tentarem isolar os revoltosos na montanha - compara Valente. - Já no Haiti, as tropas brasileiras vivenciaram condições muito parecidas com as das favelas cariocas: vielas estreitas com casas e alta densidade populacional.
Valente concorda que essa estratégia não pode se estender por muito tempo:
- A polícia está debilitando e encurralando os traficantes. Mas esse isolamento não pode durar muito pois tem um custo, que é o de também isolar parte da sociedade civil.
Francisco Carlos Teixeira, professor titular de História das Relações Internacionais da UFRJ, diz que o paralelo mais próximo que se pode fazer é com a batalha de Monte Castelo, na Itália, na Segunda Guerra.
- Mas lá não havia residências em volta. O que estamos vivendo é uma guerra urbana, a mais difícil das guerras modernas. Quem desenvolveu os princípios dessa tática foi Michael Collins, teórico do IRA, que dizia que a melhor coisa era um pelotão do exército entrando em vielas, pois é obrigado os a se expor com pouquíssima defesa - explica Teixeira.
De acordo com o professor, a estratégia de isolamento e prazo de rendição impostos pela polícia foram corretos, mas ele acredita que a invasão é inevitável.
O GLOBO