26 de dezembro de 2010

A DIFÍCIL COMPRA DE CAÇAS




Ficou para a presidenta eleita Dilma Rousseff a decisão pela compra da frota de caça para aparelhamento da Força Aérea Brasileira (FAB), programa que se arrasta desde 2001 com o nome de FX, no governo Fernando Henrique Cardoso, foi transferido para o governo Lula, cancelado em 2005, retomado em setembro de 2007 como FX-2, com desfecho anunciado para dezembro de 2009, novamente jogado para o ano seguinte e, agora, entregue ao novo governo como um dos problemas a serem resolvidos no primeiro semestre de 2011. 

Para entender toda a história da compra de 36 caças para a FAB e a demora para se chegar a uma conclusão, o roteiro é extenso. Primeiro, o entendimento de que se trata de uma urgência nacional: nossa frota de caças envelheceu e logo mais acaba seu tempo útil de vida. Em 2008, no auge da discussão em torno da escolha que o Brasil deveria fazer – se por caças franceses, estadunidenses ou suecos – tínhamos 171 aviões de combate em condições de voar, correspondente a um aparelho para cada 50 mil quilômetros quadrados do território nacional.

Já era e está ficando cada vez mais claro que o Brasil precisa se equipar melhor para patrulhar as fronteiras aéreas e o limite marítimo das duzentas milhas, onde estão as reservas de petróleo do pré-sal. Além disso, alerta o ministro Nelson Jobim, da Defesa, que após a decisão pelo modelo a ser adquirido, o processo de compra nunca demora menos de um ano, a que se acrescenta o tempo que os fornecedores levarão para entregar os novos aviões.

Outro ângulo dessa demorada história de compra de caças tão necessários é a escolha do modelo, quando há três vendedores com bons produtos. Teoricamente, o escolhido deveria ser o que desse o menor preço, mas a mercadoria é muito cara – chega a US$ 10 bilhões – e envolve aspectos delicados, sobretudo políticos e técnicos, que entravam a decisão que parecia tomada em favor do modelo Rafale, da francesa Dassault.

O presidente Lula e o ministro Jobim estavam claramente decididos pelo Rafale, quando entraram em cena componentes inesperados no processo de compra: avaliação técnica da FAB realçou os nomes de dois concorrentes – o F-18 Super Hornet, americano da Boeing, e o Gripen NG, da empresa sueca Saab – ambos com preços inferiores ao Rafale. Nesse caso, porém, a decisão que parecia consolidada em favor do Rafale poderá prevalecer no próximo governo porque, além da excelência do produto francês, entra em jogo a transferência de tecnologia, item considerado fundamental pelo governo brasileiro.

Entretanto, não poderia o governo bater o martelo pelo caça francês quando tinha em mãos um relatório da FAB destacando os preços mais vantajosos dos outros concorrentes. E a compra dos aviões de combate terminou gerando, também, delicados aspectos diplomáticos, em que o governo brasileiro chega a admitir a hipótese de o País sofrer retaliação política dos perdedores dessa monumental concorrência. Chegamos, mesmo, a ver parte desse enredo com a aproximação do presidente Sarkozy, da França, e do presidente Lula. O ministro Jobim apontou para uma das heranças da presidenta Dilma Rousseff, ao afirmar que pode haver questões políticas a administrar.

O certo, contudo, é que se trata de um processo que não pode ser interrompido, pois a FAB já trabalha com projeções para 2025 com um cenário pouco conhecido: defender 7.491 quilômetros de fronteira marítima, a área marítima jurisdicional – soma da chamada Zona Econômica Exclusiva com a Plataforma Continental – que representa mais de 4 milhões e 450 mil quilômetros quadrados. O que isso representa só pode ser exposto pelos estudos técnicos de nossa Força Aérea, hoje postos apenas em papel, esperando a chegada dos caças com tecnologia mais avançada do mundo e a possibilidade de torná-la parte dos grandes avanços da Aeronáutica brasileira.
Jornal do Commércio, via GeoPolítica Brasil