31 de janeiro de 2011

FX-2: AS IDAS E VINDAS DA NEGOCIAÇÃO PARA COMPRA DOS CAÇAS

Dilma baralha programa F/X
O programa de substituição dos caças Mirage III da Força Aérea Brasileira, está em vias de se transformar numa novela ao melhor estilo mexicano, longa e com inúmeros capítulos em que tudo o que era verdade antes, passa a ser mentira e vice-versa.
O programa dura há já tanto tempo, que a própria força aérea foi forçada a adquirir um pequeno numero de caças Mirage-2000, que ainda que relativamente antiquados são mais eficientes que os Mirage-III que pura e simplesmente foram retirados de serviço por já não estarem em condições de voar. Tudo começou no mandato do presidente Fernando Henrique e passou para o governo Lula da Silva. A decisão foi sendo empurrada e adiada, no meio de indecisões e pressões ao mais alto nível por parte de todos os concorrentes. 
Fato, é que dos seis concorrentes iniciais, três deles foram retirados da concorrência pelas mais diversas razões. Retirados três, ficaram outros três para a escolha final: O francês Rafale da Dassault, o americano F/A-18E da Boeing e o Gripen, da SAAB sueca. 
Na segunda metade de 2009, a aproximação entre o Brasil e a França, levou a um acordo de aquisição de submarinos convencionais do tipo Scorpene, que ficou associado à cessão por parte dos franceses de tecnologia para permitir ao Brasil concluir um submarino nuclear de ataque.
Essa associação e parceria estratégica, levou a que o próprio presidente Luis Inácio da Silva mencionasse que o Brasil estaria prestes a fechar o contrato de compra dos aviões com a francesa DASSAULT.
Os problemas, no entanto, cedo se tornaram evidentes e a decisão final acabou por não acontecer. O caça da França tinha um preço proibitivo, muito acima dos outros dois. Para piorar as coisas, também se tornou evidente que o ministro da defesa brasileiro, Nelson Jobim, parecia ter uma preferência pessoal pelo caça da França, ainda que a FAB tenha colocado a opção francesa no último lugar das preferências.
Iniciou-se então durante a primeira metade de 2010 um jogo em que o ministério da defesa tentou justificar a opção de Jobim pelo caça francês, relacionando a aquisição com a sua parceria estratégica e com a END ou Estratégia Nacional de Defesa, desenhada no papel pelo ministro, para justificar o aumento das despesas militares brasileiras. 

Estratégia brasileira 
Os planos de Jobim, apareceram na imprensa brasileira relacionados com as opções estratégicas delineadas pelo filosofo anarquista Roberto Mangabeira Unger, que ocupou o cargo de Ministro dos Assuntos Estratégicos até meados de 2009. Mangabeira, que chamou Lula de corrupto, acabou aceitando um lugar de ministro, para ficar calado. 
Ele concebeu com Jobim a END (Estratégia Nacional de Defesa).
Mas a visão estratégica de Unger sobre o Brasil e sua posição no mundo, mostrou ser completamente impraticável, pois incluía até a possibilidade de estapafúrdios acordos de defesa com Russia. Mangabeira Unger, gastou milhões em viagens ao exterior, para compor suas politicas, mas acabou caindo em desgraça.
Visto pelos militares como pouco mais que um louco destrambelhado, ele não sabe distinguir entre uma geladeira e um rifle. Suas estratégias eram tão furadas que não deram em nada e Unger voltou para os Estados Unidos para dar aulas de filosofia, aos filhos da classe alta americana.
Sem Mangabeira Unger nos assuntos estratégicos, Jobim ficou sozinho e recebeu carta branca do presidente Luis Inácio da Silva para aprimorar sua estratégia de defesa. Sendo claro que as opções estratégicas de Mangabeira estavam furadas, Jobim optou por uma associação com a França, como forma de manter a independência do Brasil face aos Estados Unidos.
Mas tudo indica que a estratégia de Nelson Jobim, não teve nada que ver com os militares, que entraram em choque com o ministro depois que Lula afirmou na presença de Sarkozi em 2009, que o Brasil compraria caças da França.

E agora 
Sabe-se hoje, que embora haja na FAB militares que favorecem todas as tendências, a opção técnica acabou por favorecer o caça Gripen da sueca SAAB.
Pior que isso, o Rafale preferido de Nelson Jobim, foi de longe o menos preferido pelos militares brasileiros. O chefe da aeronáutica, brig, Juniti Saito, também deu a entender numa visita aos Estados Unidos que tinha em alta consideração a capacidade norte-americana, o que foi entendido desde aí como sendo prova de alguma preferência pelo caça norte-americanos F/A-18.
Por estas razões, a nova presidente decidiu aparentemente adiar qualquer decisão pelo menos até 2012.
Não está de facto confirmado qualquer cancelamento do programa F/X-2, mas o aparente adiamento da aquisição das aeronaves, condicionado pelas catástrofes e pelo deficit das contas públicas, destruiu definitivamente a preferência que até agora era dada ao Rafale e à industria francesa na escolha dos caças do programa F/X.
Também não é provável que o programa F/X-2 seja definitivamente cancelado e outro programa iniciado. Essa possibilidade traria um total descrédito para a imagem internacional do Brasil, que iniciou o programa de aquisição de caças há praticamente 16 anos atrás.
A possibilidade de voltarem a ser analizados caças como o antiquado Su-27 «Flanker» russo, o caríssimo Eurofighter Typhoon ou ainda a versão modernizada do vetusto F-16E/F da Lockeed, não passa pelo menos para já de pura especulação. 

Razões para o adiamento 
Até ao momento a situação é confusa e de contornos não definidos, correndo várias versões sobre o que efectivamente se passa em Brasilia e na cabeça da presidente da república.
Dilma, terá interesse em colocar Nelson Jobim na ordem, porque o ministro gozou durante o governo de Lula de uma grande autonomia. Ele foi reconduzido por Dilma, mas enfrenta agora um estilo de governo muito diferente, pois a presidente pretende saber exactamente quando dinheiro ele pretende gastar.
Nelson Jobim, quando delineou os faraônicos planos da END, planejou como se o Brasil nadasse em dinheiro e tivesse disponíveis todos os recursos existentes e previsíveis.
As pressões internacionais a todos os níveis também poderão influir na decisão de adiamento. Vários analistas brasileiros afirmam que o governo do Brasil não quer dar impressão de que a escolha não foi técnica e perfeitamente justificada, pretendendo manter boas relações com os perdedores, sejam eles os que forem.
Postado por Luiz Maia, no blog Notícias Militares