19 de abril de 2011

GUARARAPES: A GÊNESE DO EXÉRCITO BRASILEIRO!

19 de abril de 1648
Batalha dos Guararapes - Nasce o Exército Brasileiro.
Batalha dos Guararapes - quadro de Victor Meirelles
Gleuber Vieira*
Voltemos aos idos de 1600. Portugal, disputando o poder na Europa, mantinha na Colônia mínimo efetivo militar. Difícil fortificar, instruir e defender o vasto litoral e o extenso território. Na população, física e culturalmente diferenciada, éramos europeus, africanos e nativos, descendentes e miscigenados. O açúcar valia ouro no Velho Mundo. De lá, veio uma empresa comercial e poderosa esquadra. Inicialmente expulsa, voltou. Conquistou Recife e ficou por mais de 20 anos em Pernambuco. À pequena milícia uniram-se as lideranças locais: o escravo alforriado Henrique Dias, o chefe indígena Poti, Felipe Camarão e o capitão Antonio Dias Cardoso, entre outros.

Luta sem tréguas
À doutrina de guerra do bravo e experiente opositor, adicionamos práticas de combate e armamentos peculiares. Somamos conhecimentos, inteligência, denodo, coragem e espírito guerreiro. Utilizamos a guerra de movimento e, aliados ao terreno, a surpresa na ação de choque. Mais que tudo, dispúnhamos do forte impulso de solidariedade, anseio de liberdade e sentimento comum de amor à terra. Pela primeira vez, falava-se em pátria. Expulsamos o invasor de Pernambuco. Da união de raças nascia a nacionalidade e, com ela, o Exército Brasileiro.

O tempo correu
Hoje, contemplando o passado de glórias e sacrifícios, compreendemos e valorizamos a vida castrense, seu potencial e sua energia. Pusemos labor intenso e aplicada lucidez em cada fase da História. Enfrentamos mudanças e desafios necessários. Olhamos em frente. Construímos, no presente de cada tempo vivido, com descortino e otimismo, o futuro de grandeza, ordem e prosperidade. O século XXI exige respostas rápidas aos prováveis conflitos e uma prontidão eficaz para a oportuna projeção do poder do Estado. Importa uma organização moderna, com suporte tecnológico, flexível, aberta às inovações e pronta para incorporar novos conhecimentos e técnicas ao já consolidado arcabouço de valores, disciplina e hierarquia.
Ao longo de quase quatro séculos, estivemos voltados para a missão, substancialmente nascida em Guararapes, afirmada na Independência, confirmada no Império, exaltada nas lutas internas e externas e manifestada, com orgulho e certeza de seu cumprimento, nas constituições da República.
Somos uma força que não se confunde com a violência, porque reside nos valores consagrados pelos que laboram, confiantes, competentes e determinados, colocando acima dos interesses pessoais o bem da Instituição e do Brasil. Distantes das paixões que apequenam, dos desejos que subvertem e corrompem, nos revigoramos nos relacionamentos afetivos, leais e fraternos que mantemos com toda a sociedade brasileira.
Aniversariamos uma Força que não brilha, prepotentemente, no olhar da autoridade, porquanto o luzeiro é o da consciência de grandeza, que implica humildade e simplicidade; que não distancia intelecto e espírito, razão e emoção; que combate sem ódio e respeita o próximo. Essa é tua força, soldado, exemplificada pelos verdadeiros heróis do passado e por tantos, atuais e anônimos, da ativa e da reserva, fardados ou não, que realizam com seriedade, responsabilidade e eficiência, a parte que lhes cabe na construção do progresso e na defesa do Brasil.
*General de Exército, ex-Comandante do EB