30 de junho de 2011

HAITI: MINUSTAH TENTA JUSTIFICAR AÇÕES DOS MILITARES BRASILEIROS NO AEROPORTO DE PORTO PRÍNCPE

Confusão gera confronto entre tropa do Brasil e haitianos em aeroporto
Militares usaram gás e balas de borracha em resgate de colegas no Haiti.
Alfândega diz que funcionários foram 'humilhados' em 'escandalosa' ação.

Tahiane Stochero
Militares do Brasil entraram em confronto com haitianos no Aeroporto Internacional Toussaint Louverture, em Porto Príncipe, capital do Haiti, no último dia 5 junho. O problema aconteceu quando seis militares brasileiros, que retornavam ao Haiti após férias em Miami, foram retidos por integrantes da alfândega.
Militares fardados foram até o aeroporto para resgatar os colegas e um policial da Polícia Nacional do Haiti (PNH) tentou prender um soldado brasileiro que não estava uniformizado. Ao deixarem a parte interna do aeroporto, os militares teriam sido atingidos por pedras jogadas por haitianos e funcionários da alfândega. Segundo o coronel Jorge Roberto Lopes Fossi, porta-voz do batalhão brasileiro no Haiti, foi neste momento que reagiram, usando gás lacrimogêneo e tiros de bala de borracha.
A confusão ocorreu após seis militares brasileiros terem supostamente se negado a serem revistados por agentes aduaneiros. Conforme Fossi, os soldados não entenderam qual era a intenção dos funcionários. “O que houve foi um desentendimento por causa da língua, os haitianos usam o créole, semelhante ao francês. Os militares não entenderam e daí houve uma atitude mais agressiva, eles só que reagiram”, diz o coronel ao G1.
Segundo o coronel Fossi, os militares tentaram negociar uma saída pacífica, mas funcionários alfândega e policiais do Haiti "tomaram atitudes agressivas". “O tenente conseguiu tirar o pessoal dele que estava trancado no aeroporto e prometeu que pagariam depois, se tivesse algo acima da franquia individual”, afirma.
Na saída, os brasileiros foram atingidos por pedras jogadas por haitianos e funcionários do aeroporto. Foi aí que, diz o oficial, revidaram com gás lacrimogêneo e tiros com balas de borracha. “Eles só usaram armamento não-letal”, diz Fossi.

Investigação
Os brasileiros chegaram a salvo no quartel, mas o caso repercutiu, chegando a ser alvo de pronunciamentos de senadores haitianos em apoio aos funcionários da aduana e pedido informal de explicações por parte do governo do novo presidente, Michel Martelly.
O comando da Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah) e o batalhão brasileiro abriram investigações separadas e a ONU informou que as informações serão repassadas ao presidente do Haiti assim que concluídas. A alfândega informou que irá colaborar com a apuração.
Militares do Brasil que já participaram da missão de paz no Haiti relataram ao G1 que constantemente reclamam de terem bens apreendidos irregularmente na alfândega haitiana ao voltarem de férias para o país. Algumas malas, dizem eles, são abertas, e materiais são retirados sem o consentimento e conhecimento dos passageiros.

'Escandalosa intervenção'
Em nota, a direção-geral da Administração Geral das Aduanas (AGD) do Haiti demonstrou “indignação” com a ação brasileira e apoiou seus funcionários, afirmando que os haitianos “foram humilhados no exercício de suas funções”. O órgão diz ser “solidário a todos agentes de viagens, visitantes, autoridades e turistas que presenciaram o momento da escandalosa intervenção dentre de um espaço considerado neutro pelas convenções internacionais”.
Segundo a ADG, os militares brasileiros “violaram todas as regras em rigor” e que, “com armas em punho, e com uso de gás lacrimogêneo, se opuseram ao controle aduaneiro para favorecer alguns colegas”.
G1

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