30 de julho de 2011

ALEMÃO: À DISTÂNCIA, TRAFICANTES CONTINUAM DANDO AS ORDENS

General da Força de Pacificação diz que traficantes de fora transmitem ordens
Oficial diz que bandidos possuem uma rede de comunicação via rádio no Alemão e na Penha

Mario Hugo Monken
Além da suposta pressão feita nos moradores para atacar as tropas da Força de Pacificação, os traficantes tentam manter seus negócios nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro. O comandante do órgão, general Carlos Sarmento, afirmou ao iG que os bandidos mantêm uma rede de comunicação via rádio no interior das comunidades.
Ele revelou que, nesta semana, prendeu um suspeito de tráfico que admitiu receber R$ 550 por semana para atuar como olheiro do tráfico. "Temos informações de que, via rádio, os traficantes dão ordem aqui para dentro", disse.
O oficial disse já ter recebido denúncias de que alguns antigos chefes do tráfico no Alemão e na Penha como Paulo Rogério de Souza Paz, o Mica, e Luiz Cláudio Machado, o Marreta, já estiveram nas comunidades, mas essas informações não foram comprovadas. Fontes da Polícia Civil disseram que eles costumam frequentar a área à noite armados com fuzis.
"Que esses chefes circulem armados de fuzis não sabemos, mas temos informes do Disque-Denúncia falando da presença de alguns por aqui, como é o caso do Mica, que já teria sido visto na região do Caracol. Acho que a presença dos criminosos aqui, caso ocorra, possa ser porque eles possuem familiares e relações nas comunidades", afirmou.
Sarmento disse que as bocas de fumo existentes no Alemão e na Penha são itinerantes, não se fixam num ponto só. Segundo ele, os traficantes que ainda permanecem normalmente não possuem passagem pela polícia, o que dificulta a identificação. "Hoje, as drogas são escondidas em mochilas ou até dentro dos bancos das motocicletas", disse o oficial.
Dados da Força de Pacificação indicam que, entre os dias 15 de maio e 17 de julho, foram apreendidos mais de 3 mil papelotes de cocaína, quase 500 trouxinhas de maconha, 455 pedras de crack e 65 trouxinhas de haxixe.
"As drogas apreendidas aqui são para consumo interno. E vem de fora para dentro. Não existem grandes estoques. As apreensões não são grandes. Às vezes, podemos prender alguém com 400 ou 500 papelotes de cocaína, por exemplo", explicou.

Disparo para o alto
Sobre armas, o general afirmou não ter notícias da existência de armamento pesado. Segundo ele, há apenas revólveres e pistolas. Ele disse que, há poucos dias, suspeitos avistaram uma patrulha da Força na favela da Chatuba, na Penha, e fugiram, mas efetuaram um disparo para o alto. Nos últimos dois meses, 15 armas foram recolhidas nos dois complexos. Para o oficial, a presença de armas na área de pacificação estaria acontecendo para resolver disputas internas entre os traficantes remanescentes.

Assaltos e homicídios
Além do tráfico de drogas, o Exército confirma que, durante o período de pacificação, já houve homicídios e assaltos no interior das comunidades. Segundo a Força de Pacificação, foram dois assassinatos. Um deles, de acordo com a corporação, por motivo passional.
No outro assassinato, a do eletricista Wallace Moreira Amorim, que foi morto a tiros, a polícia tem informações de que o crime foi cometido por traficantes. Segundo denúncias, o rapaz foi morto porque fez uma festa em sua casa que contou com a presença de policiais.
Remanescentes do tráfico não gostaram e mataram o morador. Um suspeito do crime já foi preso. A família do eletricista, não se sentindo segura de permanecer no local decidiu se mudar.
Sobre este crime, o comandante da Força de Pacificação, general Carlos Sarmento, disse ter recebido denúncias de que o rapaz teria ligação com milícias, foi expulso pelo tráfico, mas retornou ao local com a ocupação do Exército.
Sobre assaltos, a Força confirma três ocorrências entre maio e julho na área de pacificação. E uma delas, um caminhão de gás foi roubado na Rua do Cajá, na Penha, no dia 28 de junho. Um estabelecimento comercial localizado na mesma rua foi assaltado no último dia 10.