19 de novembro de 2011

EMBRAER ESPERA QUE JATOS MILITARES LIDEREM CRESCIMENTO

PAULO WINTERSTEIN e CHARLES ROTH
KC-390 - avião de transporte militar

A Embraer SA, quarta maior fabricante de aviões do mundo, acredita que sua divisão de defesa vai liderar o crescimento da companhia, com expansões de "dígitos duplos" em 2012 e respondendo por um quinto do faturamento dentro de poucos anos, disse o diretor-presidente Frederico Curado.
A Embraer, sediada em São José dos Campos, SP, provavelmente vai obter vários desses pedidos militares no mercado interno, disse Curado à Agência Dow Jones esta semana. Grandes pedidos devem partir do Brasil, que segundo ele está décadas atrasado em investimentos em seu aparato de segurança. As necessidades se tornaram ainda mais prementes com a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, que o país vai sediar, e também por causa das enormes reservas de petróleo do litoral.
A companhia também tem expectativa de fechar mais negócios com forças armadas de outros países com os quais o Brasil tem relacionamento de longo prazo, na América Latina, no Sudeste Asiático e na África. O setor de defesa, que foi transformado numa unidade independente ano passado, já entregou aviões para o Chile, a Colômbia, a República Dominicana e o Equador, na América Latina. A companhia também já assinou contratos com a Indonésia e ter recebido consultas da Europa também.
"Em defesa, nós somos um concorrente de nicho, mas é ali que vemos o maior crescimento", disse Curado, que está no cargo há cinco anos.
O faturamento da Embraer provavelmente vai subir cerca de 7% este ano, para em torno de US$ 5,7 bilhões, disse Curado, e isso deve vir principalmente da venda de aviões comerciais e executivos, com os militares respondendo por cerca de 10% das vendas. No ano que vem, o segmento de defesa vai ter crescimento de dois dígitos enquanto os outros segmentos terão de apenas um dígito.
A companhia espera que em poucos anos a receita militar responda por 20% das vendas, com outros 20% vindo de aviões executivos, 50% de aviões comerciais e os demais 10%, de serviços.
A escolha do novo caça da Força Aérea Brasileira – uma decisão adiada várias vezes pelo governo – será importante porque a Embraer S.A. trabalhará com a firma que terminar ganhando o contrato para adaptar os jatos às necessidades locais. Mas Curado disse que o desenvolvimento de seu próprio avião de carga, o KC-390, é mais importante, já que acrescenta um novo produto ao portfólio da empresa.
A empresa também tem esperança de conseguir penetrar no mercado militar americano e aguarda os resultados da licitação mais recente, esperados para logo e que podem render um pedido de caças Super Tucano.
Apesar do otimismo geral sobre o papel dos mercados emergentes para impulsionar o crescimento mundial, Curado disse que não prevê que a demanda dos países em desenvolvimento vai compensar a queda no número de pedidos de aeronaves da Europa e dos Estados Unidos.
Os mercados emergentes "não são tão abertos e desenvolvidos como os mercados desenvolvidos", disse ele.
"Não vejo o comércio internacional evoluindo tanto quanto antes da crise [de 2008]. Também não vejo o fim do mundo", disse ele. "O panorama geral no mundo não é brilhante. Nós prevemos um crescimento pequeno se o PIB mundial for usado como média."
A Embraer tem um caixa líquido "confortável" de cerca de US$ 300 milhões. Contar com boas reservas é um seguro essencial para as fabricantes de aviões, especialmente durante períodos de volatilidade econômica e financeira no mundo todo, disse Curado. Os recursos podem ajudá-la a administrar possíveis discrepâncias entre mudanças nos pedidos e compras de fornecedores, disse ele.
Diante desse cenário, a Embraer optou por abandonar planos de uma família maior de aviões para concorrer diretamente com a Airbus e a Boeing Co. Em vez disso, a empresa vai se concentrar em manter sua posição atual do mercado com mudanças nos aviões que já tem, como trocar as turbinas por modelos que consomem menos combustível.
A empresa está conversando com os clientes para determinar o tipo de turbina que eles precisam e provavelmente escolherá entre as fabricantes mais importantes, a General Electric Co., a Pratt & Whitney e a Rolls Royce, em algum momento do ano que vem. Depois de escolhida a turbina, a Embraer "muito provavelmente" precisará redesenhar suas asas e pode contar com os aviões de novos motores deixando a linha de montagem a partir de 2018.
A empresa também está negociando com o governo da China para finalizar o licenciamento da construção de uma fábrica da Embraer no país. A empresa finalizou em abril seu último modelo do jato regional ERJ 145 e planejava fabricar aviões maiores com o sócio local Aviation Industry Corp. of China, ou Avic.
Como ainda não recebeu autorização, a Embraer "desistiu totalmente" de construir aviões maiores na China e em vez disso vai se concentrar em transferir para lá a produção para a família de jatinhos Legacy 600, que usa uma estrutura parecida com a do ERJ 145, disse Curado.
THE WALL STREET JOURNAL/montedo.com