14 de dezembro de 2011

"A PRIVATARIA TUCANA": NÃO EXISTE MAIS BOBO NO MARKETING

Artigo esclarecedor para entender a origem de certas lendas. Sem dúvida, o que está em jogo é a Prefeitura de São Paulo. O resto é só confete e serpentina ideológica.

Marcos Guterman
Vende-se como pão quente na internet, em blogs e sites alinhados ao governo petista, a versão segundo a qual os grandes jornais do país estão boicotando o livro “A Privataria Tucana” (Geração Editorial), do jornalista Amaury Ribeiro Júnior. O motivo seria óbvio: como o livro trata de corrupção e desmandos de tucanos, a imprensa, obviamente classificada de “tucana”, decidiu “silenciar” sobre “a reportagem da década”, como a definiram alguns dos entusiastas do trabalho de Amaury. Eis o cenário ideal para aqueles que vêem os grandes jornais como a vanguarda da oposição “golpista”. É um cenário tão ideal, mas tão ideal, que dá até para desconfiar.
“A Privataria Tucana” foi lançado no dia 9 de dezembro. Segundo o próprio jornalista Luiz Fernando Emediato, dono da Geração Editorial, nenhuma redação de jornal recebeu o livro antes do lançamento. “Nós tínhamos receio de alguma ordem judicial que impedisse a distribuição. E não mandamos para nenhuma redação”, disse Emediato ao site Brasil247. Ou seja, aqueles que acusam a imprensa de “silenciar” sobre o livro queriam que os jornais falassem dele sem que seus jornalistas tivessem a chance de lê-lo.
Como sabe qualquer jornalista que se dedica a resenhar livros, um trabalho com mais de 300 páginas, como o de Amaury, requer pelo menos uma semana de leitura, que deve incluir verificação de dados e informações para enriquecer a crítica. Estamos na terça-feira, apenas quatro dias depois do lançamento, e uma porção de gente militante viu nessa “demora” o sinal evidente de que houve má vontade com o livro.
Mas a estratégia foi ainda mais inteligente. Segundo Emediato, uma única redação recebeu o livro antes do lançamento: a da revista Carta Capital, também alinhada ao governo. Ato contínuo, em sua edição que circulou no dia 9, a publicação trouxe em sua capa “O escândalo Serra”, reportagem sobre o livro de Amaury. Pronto. Estava criada a sensação segundo a qual só a imprensa “progressista” se interessara pelo livro, enquanto a imprensa “golpista” permaneceu em silêncio, sinal evidente de sua cumplicidade com Serra e os tucanos.
Melhor marketing do que esse, impossível.
Estadão/montedo.com