23 de junho de 2012

'Esquila de porco': caso do enxoval dos recrutas do IME acaba em punição disciplinar

Pedido de enxoval no IME terá punição
Sindicância conclui que oficial errou ao exigir de recrutas até papel higiênico

Fachada do Instituto Militar de Engenharia, na Praia Vermelha
Foto: Fabio Rossi - 26/05/2010 / O Globo
Fachada do Instituto Militar de Engenharia, na Praia Vermelha
FABIO ROSSI - 26/05/2010 / O GLOBO

RIO - Uma sindicância do Instituto Militar de Engenharia (IME) decidiu punir administrativamente o oficial que exigiu de recrutas a compra de um “enxoval” para a prestação do serviço militar obrigatório. O processo concluiu que o oficial cometeu uma infração disciplinar. Como O GLOBO revelou em março, jovens de famílias humildes tiveram que comprar roupas para os testes de aptidão física e até material de consumo, como papel higiênico. É obrigação do Exército fornecer esses itens.
Leia também:Recruta do Exército no IME precisa levar ‘enxoval’Sindicância e MPM investigam caso do enxoval dos recrutas do IME
Por outro lado, o promotor Jorge Augusto Lima Melgaço, da 3ª Procuradoria de Justiça Militar do Rio, resolveu arquivar o procedimento criminal, que corria em paralelo, por considerar suficiente a punição administrativa.
Ele explicou que seu parecer ainda será apreciado em Brasília pela Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Militar — formada por três subprocuradores — e pelo procurador-geral da Justiça Militar, Marcelo Weitgel. O procedimento é usual em arquivamentos.
— O militar errou, mas não foi caracterizado que ele se locupletou com aqueles bens ou dinheiro. A resposta tem que ser proporcional ao erro cometido. Seria exagero enquadrá-lo no Código Penal Militar. Ele não ficará impune — disse o promotor Jorge Augusto Lima Melgaço, esclarecendo que o comandante do IME determinará a punição, de advertência à prisão.
Os familiares dos recrutas compraram shorts, camisetas brancas, tênis, meias, sunga e chinelos, além de pratos, talheres e copos, sabonetes e papel higiênico. Segundo o promotor, os prejudicados poderão pedir ressarcimento à direção do IME ou no Juizado Especial Cível.
Procurado na sexta-feira, o Comando Militar do Leste (CML) informou, por meio da assessoria de imprensa, que só poderia dar informações sobre o caso a partir da próxima segunda-feira.

O GLOBO/montedo.com


Comento:

Esse é o típico caso de 'esquila de porco', como diz o gaúcho - muita gritaria para pouca lã - ou seja, um episódio banal que movimentou até o Comandante Militar do Leste. À época, escrevi o seguinte:
Um general de quatro estrelas vir à público dar explicações e mandar abrir sindicância sobre enxoval de recrutas de uma simples companhia auxiliar é,no mínimo, um fato estranho. Parece mais um caso em que a mídia consegue pautar os altos coturnos.O IME é comandando por um general de brigada. Será que não poderia ser a ele delegada a função de dar as explicações necessárias e tomar as medidas cabíveis? A atitude do comandante do CML retira autoridade de um oficial general sem necessidade, com o objetivo principal, ao que parece, de dar satisfações à imprensa.

Atualização 10h10:

Eis um comentário muito lúcido:
Anônimo disse...
"Prezado Montedo,nesses árduos anos pós-governo militar, me parece que o EB ainda está tentando encontrar seus caminhos... Tenho visto decisões de pequeno e amplo espectro serem tomadas e implementadas, nos comandos e corpos de tropa, quase que exclusivamente em função do que a opinião pública poderia pensar, acreditar, achar, observar, e assim por diante. Parece que as gerações mais antigas trazem um complexo de culpa, que se reflete na necessidade quase visceral do Exército ter que estar "bem na fita", em qualquer situação que seja. Podemos estar "péssimos" na cozinha interna, mas a imagem do EB, me parece, se tornou o principal patrimônio a ser preservado. Se chega ao ponto de um 4 estrelas ter que se engajar nisso, imagine a quantas coisas (tão ou mais importantes), no âmbito interno, estão sendo colocadas em 2o plano..."
É isso aí (infelizmente).