22 de setembro de 2012

Iwias: Senhores Da Selva, Demônios Do Exército Equatoriano

A Escola de Selva e Contrainsurgência Iwias foi fundada em 1997
para treinar soldados indígenas equatorianos na arte da guerra na selva.
Bem-vindos à selva!” Gritam dois soldados indígenas em guarda na entrada principal da escola. Vestidos com traje tradicional, complementados com lanças e pintura de guerra, eles gritam um canto de guerra em sua língua nativa. A sensação de intimidação supera o de boas-vindas.
Localizada na região oriental do Amazonas equatoriano, na província de Pastaza, a Escola de Selva e Contrainsurgência Iwias foi fundada em 1997 para treinar soldados indígenas equatorianos nas artes da guerra na selva. Em shuar, idioma de uma das sete tribos indígenas da região, Iwia significa “demônios da selva”, nome atribuído a um dos deuses das matas. A escola, assim denominada, recruta soldados nativos do Amazonas, visto que os mesmos têm a experiência inata e sabem como sobreviver nesse ambiente. Os aspirantes devem falar o idioma nativo fluentemente e conhecer a região como a palma da mão.
“Nossa missão aqui consiste em treinar os soldados indígenas para operações especiais na selva e aperfeiçoar seus conhecimentos sobre o seu habitat natural”, disse o Tenente-Coronel Marcelo Pozo, diretor da escola. “Quem melhor para lutar com você na selva do que um dos nativos da região?”
Soldados aspirantes Iwias devem suportar o duro treinamento
em todos os tipos de terreno da selva, incluindo rios e cavernas.
Os guerreiros Shuar datam da era pré-colombiana, quando se destacaram por serem guerreiros sanguinários, que perseguiam os inimigos até capturá-los e decapitá-los. Atualmente, a tribo Shuar compartilha o Amazonas equatoriano com outros nativos, como os Achuar, Andoa, Huaorani, Kichwa, Sápara e Shiwiar. Em 1981, o Equador e seu vizinho Peru enfrentaram-se no conflito limítrofe de Paquisha. Os soldados indígenas nativos da região participaram desse confronto e demonstraram ao Exército equatoriano sua aptidão para a guerra na selva. Após presenciar essa atuação e visando o futuro, o Coronel do Estado-Maior (reformado) equatoriano Gonzalo Barragán propôs a criação de um grupo especial de soldados indígenas do Amazonas nacional.
Em seguida, o Coronel Barragán criou as primeiras especializações militares em shuar, o que levou à criação da Escola de Iwias tal como é conhecida atualmente, localizada em uma base militar de terreno irregular e íngreme, perto da cidade de Puyo. Mais tarde, em 1995, o conflito entre o Peru e o Equador sofreu uma reviravolta e ambas as nações pegaram em armas no que se denominou a Guerra do Cenepa, quando era disputada a demarcação dos limites entre os dois países junto ao Rio Cenepa. Mais uma vez, os soldados indígenas da selva uniram-se às forças militares equatorianas e provaram ser uma força que deveria ser aproveitada, por seus costumes ancestrais e seu domínio do ambiente da selva, durante as operações para defender o território nacional. Seu desempenho na Guerra do Cenepa lhes trouxe o reconhecimento oficial do governo equatoriano com a Cruz do Mérito de Guerra, por defenderem a integridade territorial.
Com o objetivo de treinar os indígenas que pretendem tornar-se combatentes profissionais de elite das unidades do Exército equatoriano na selva, a escola oferece atualmente um programa de dois anos, com cinco cursos de especialização em nível oficial e de tropa:
Soldados especializados no curso de Arutam da Escola de Selva
e Contrainsurgência Iwias aprendem a fazer armas mortais,
como zarabatanas, a partir de itens encontrados na natureza.
Os alunos são oriundos das sete tribos indígenas da região
amazônica do Equador. [POR STEVEN MCLOUD/DIÁLOGO]
Curso Iwias: É o curso inicial e o mais importante do programa, com duração de quase três meses. Ele treina cadetes para combate na selva, usando armas convencionais (fuzis, pistolas, metralhadoras) e armas indígenas (lanças, facões, dardos envenenados). Este curso também testa a aptidão física e mental de todos os cadetes, além da habilidade e capacidade de sobrevivência na selva. Ao completarem a fase inicial, os soldados têm então a oportunidade de se especializarem em diversas disciplinas nativas da região.
Curso Wañuchic: Esta palavra significa “matador ou assassino da selva” no idioma kichwa e o curso foi elaborado para aperfeiçoar a habilidade dos soldados na caça e treiná-los como franco-atiradores. Os soldados que terminam este curso passam a fazer parte de um batalhão de operações especiais, onde eles têm como missão específica caçar para sobreviver na selva, usando armas improvisadas ou fáceis de construir.
Curso Tayuwa: O nome vem do idioma shuar e significa “explorador”. É também o nome de uma ave local – o tayo – que mora em grutas. Este curso treina os soldados para apoiar as operações através da exploração da selva, de grutas, cavernas e rios, usando equipamentos e materiais especiais que lhes permitam ter vantagem sobre o terreno.
Curso Ñaupak: Também originário do idioma kichwa, o nome significa “precedente”, precursor, o que abre caminhos. O curso treina os soldados para se infiltrarem utilizando meios fluviais, aéreos e terrestres, com o objetivo de escolher heliportos, cabeceiras de praias e realizar resgates com helicópteros, maximizando as operações especiais na selva.
O curso de Arutam da Escola de Selva e Contrainsurgência Iwias
habilita soldados aspirantes a tornarem-se especialistas de medicina,
usando itens encontrados em seus ambientes naturais.
Curso Arutam: O nome significa “ecologista” em shuar e representa o deus da natureza e senhor das cachoeiras. O curso treina os soldados para aplicarem seus conhecimentos ancestrais sobre medicina natural, como, por exemplo, a produção e a aplicação de venenos, bem como a conservação da flora e da fauna da região leste. Os soldados matriculados neste curso especializado aprendem a utilizar a natureza para criar kits de primeiros socorros e cuidar desde cortes, ferimentos ou picadas de insetos até hemorragias, além de preparados energéticos e tranquilizantes. Esses soldados também aprendem a reconhecer as plantas venenosas e como elas podem ser usadas na fabricação de armas letais, como as zarabatanas.
Atualmente, existem cerca de 5 mil soldados Iwias no Exército equatoriano e a escola forma em média 300 soldados em cada classe. Quando um soldado Iwia termina seu treinamento, ele é enviado para a região leste por um período de 12 anos, exceto em circunstâncias especiais. Recentemente, soldados Iwias foram enviados para a fronteira norte com a Colômbia para combater as incursões de grupos guerrilheiros ilegais armados nesse país.
A escola recebeu, no passado, a visita das Forças Militares brasileiras, que têm uma escola com características similares em sua bacia amazônica. Ainda que a Escola de Iwias tenha tido como objetivo, tradicionalmente, o recrutamento de homens de tribos indígenas equatorianas, suas portas estão abertas também para os aspirantes de outros países. “Convido todas as nações amigas a participarem de nossa escola”, disse o Tenente-Coronel Pozo. “Somos os Iwias, os demônios da selva, os demônios do Exército equatoriano… e como diz o lema que coroa nossa insígnia: Nunca derrotados!”
DefesaNet/montedo.com