25 de junho de 2013

'Quem sabe faz a hora, não espera acontecer': nota dos clubes militares usa lema anti-ditadura para apoiar manifestações

Militares citam música de Geraldo Vandré para apoiar manifestações pelo País
Comissão Interclubes Militares citou trecho da música “Pra não dizer que não falei das flores”, clássico contra a ditadura militar, para declarar seu apoio aos movimentos populares atuais

Ricardo Galhardo

Reprodução da carta divulgada pela
Comissão Interclubes Militares
A Comissão Interclubes Militares divulgou na quinta-feira, 20 de junho, uma nota de apoio às manifestações que tomaram as ruas do País nas últimas semanas. Os clubes militares representam oficiais da reserva, muitos deles defensores da ditadura militar (1964-1985). Ironicamente a nota termina com o verso “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, trecho da música “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré, um clássico da canção de protesto contra a ditadura.
Segundo a nota assinada pelo general Renato César Tibau da Costa, presidente do Clube Militar (Exército), Almirante Pauilo Frederico Soriano Dobbin, presidente do Clube Naval (Marinha), e brigadeiro Ivan Moacyr da Frota, presidente do Clube de Aeronáutica, a onda de protestos “diz respeito às legítimas aspirações da sociedade”.
Na leitura dos clubes militares, as manifestações são uma reação da sociedade à “impostura e impunidade” e ao “descaso das autoridades governamentais”.
O general Benedito Lajoia Garcia, representante do Exército na Comissão Interclubes Militares, evitou comparar o atual momento do Brasil com outras situações críticas da história. "Estamos acompanhando o que está acontecendo. Existe uma inquietude mas a gente ainda não sabe onde vai descambar isso tudo", afirmou.
Segundo o general, por enquanto o maior risco é o de inflitrações de pessoas ou grupos mal intencionados entre os manifestantes. "Grupos radicais de baderneiros se infiltraram nestas manifestações que são da sociedade", disse ele.
No documento, os militares afirmam também que estarão sempre atentos acompanhando a “evolução dos fatos”, antes de encerrar com o verso de Vandré. A música que ficou em segundo lugar no Festival Internacional da Canção de 1968 se tornou rapidamente o hino da resistência à ditadura militar. No mesmo ano, com a decretação do AI-5, Vandré teve que fugir para o Chile e só retornou ao Brasil em 1973.
Hoje afastado da vida artística, ele atua como advogado. Em 2010 concedeu uma entrevista controvertida no Clube da Aeronáutica.
iG/montedo.com

Comento:
A última nota dessa tal Comissão Interclubes Militares foi emitida em fevereiro de 2012, em desaprovação às declarações da Secretária dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, que acenou com uma ilegal responsabilização criminal dos militares por crimes relacionados à repressão durante a ditadura e da Secretária das Políticas para Mulheres, a abortista e ex-terrorista Eleonora Menicucci, que, sem corar, afirmou no discurso de posse ter lutado pela implantação da democracia no Brasil e teceu elogios aos "companheiros tombados na refrega", no que foi aplaudida por Dilma et caterva. 
A tal nota foi vergonhosamente desautorizada, primeiro, pelo presidente do Clube Naval, que apressou-se a dizer que tudo foi obra de seu homólogo do Clube Militar. Na sequência, Dilma e Amorim enquadraram o comandante do Exército, que, ao arrepio da lei, determinou que a nota fosse deletada. Apesar de amparado pela LEI No 7.524, DE 17 DE JULHO DE 1986que garante aos militares inativos o direito à livre manifestação, o bravo general Tibau encontrou um pretexto para cumprir a ordem. À época, escrevi:
Cadê a nota que estava lá? A Dilma comeu. Os generais de pijama botaram o rabinho entre as pernas e retiraram do ar o texto, que constava no site dos Clubes Militar, Naval e da Aeronáutica. É a desmoralização dos milicos descendo a ladeira.O pior é que os presidentes dos Clubes Militares têm todo o direito de se manifestar. 
Em resposta, altos coturnos na reserva lançaram o 'Alerta [seletivo] à Nação', aberto à adesão de civis, mas não de praças das Forças Armadas. De lambuja, não continha uma linha sequer de crítica à atitude do presidente do Clube Militar.
Agora, atropelados pelos fatos, os estrelados da reserva resolvem fazer média, emitindo uma nota recheada de lugares comuns e obviedades, culminando com a frase que foi o maior lema da luta contra a ditadura militar: 'Quem sabe faz a hora, não espera acontecer', refrão da música 'Pra não dizer que não Falei de Flores', hino das esquerdas nos anos 1960/70. 
Esse inusitado fecho é antecedido de uma advertência emblemática: "Estaremos sempre atentos e acompanharemos a evolução dos fatos". Qualquer semelhança com "nossos chefes estão preocupados" não é mera coincidência.