21 de julho de 2013

Jornada Mundial da Juventude: um desafio para as Forças Armadas

JORNADA DA JUVENTUDE: Participação das Forças Armadas na segurança do evento é difícil e arriscada — um desafio para a instituição
O esquema está teoricamente organizado, teoricamente perfeito, para que as Forças Armadas, e principalmente o Exército, por determinação da presidente Dilma Rousseff, assuma a segurança de vários eventos durante a Jornada Mundial da Juventude, com a presença do papa Francisco, no Rio de Janeiro, a partir desta segunda-feira, 22.
Vou explicitar algumas das várias medidas que estão sendo tomadas mas, ao mesmo tempo, externar uma preocupação, especialmente diante da intolerável onda de violência e vandalismo que afetou boa parte do bairro do Leblon, ontem, com o pretexto de “manifestações” próximas à residência particular do governador Sérgio Cabral: a de que o Exército, cujos quadros são preparados para outros tipos de situação, se veja envolvido em problemas e conflitos indesejáveis, de graves consequências, com risco não negligenciável de desmoralização das Forças Armadas.
Até porque, não custa lembrar, há baderneiros profissionais e vândalos querendo encrenca e desordem — quebra-quebra, incêndios, ataques a propriedades públicas e particulares, saques ao comércio. (Leia reportagem.)
O Exército, por exemplo, é quem cuidará do isolamento do Palácio Guanabara, sede do governo do Rio, foco de manifestações, de baderna pura e simples e de confrontos violentos com a Polícia Militar nos últimos dias e onde ocorrerá a cerimônia de boas-vindas ao pontífice, a partir de 17 horas — e onde Francisco se encontrará, 40 minutos depois, com a presidente Dilma..
A Polícia Militar estará na primeira linha de fogo, mas o Exército é quem coordenará as operações e quem, provavelmente, manterá soldados dentro do Palácio. (Leia reportagem a respeito.)
O Exército também será encarregado da segurança no imenso terreno em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio, propositalmente escolhido por ser a 60 quilômetros do centro, sede do Campus Fidei, onde o papa vai celebrar missa para estimados 2 milhões de fiéis no encerramento da jornada, no domingo, 28. Também terá apoio da PM.
O Exército igualmente manterá vigilância sobre a presidente Dilma Rousseff durante toda a sua estada no Rio de Janeiro para a JMJ.
Teoricamente, como o Exército está investido de poder de polícia para esse período — medida prevista na Constituição –, quando um oficial ou mesmo um soldado der ordem de prisão a alguém, a pessoa será encaminhado (por um policial) à delegacia móvel montada atrás do palco do Campus Fidei. Em outras situações, a previsão é de que um policial conduza o cidadão que de alguma forma violou a lei a uma delegacia.
O general Costa Abreu: quem usar máscara ou
fizer manifestação vai preso (Foto: extra.globo.com)
O site de VEJA informou que mesmo antes de as manifestações de protesto se espalharem pelo país, as Forças Armadas já trabalhavam com a possibilidade de alguma mobilização em Guaratiba de manifestantes de alguma forma hostis à visita ou às posturas do papa — por exemplo, grupos favoráveis ao aborto ou ao uso de preservativos, eventualmente até pró-casamento gay.
As possibilidades de manifestações são várias, especialmente em eventos que ocorrerão com a presença do papa no Palácio da Cidade, em Botafogo, e sobretudo na praia de Copacabana, na quinta e na sexta-feiras. Mas também na quarta, durante sua visita a um hospital na Tijuca, ou no sábado, quando haverá a missa na Catedral Metropolitana ou mesmo no encontro com personalidades no Theatro Municipal, ambos no centro da cidade.
Claro que não devem ser, exceto em casos minoritários, manifestações contra o papa, mas aproveitando a publicidade de sua visita.
Como se vê — e isso são apenas alguns exemplos das muitas atividades difíceis em que se envolverão as Forças Armadas –, as possibilidades de as coisas fugirem ao controle existem.
Sobretudo porque será necessária uma finíssima e intensa coordenação entre um vasto conjunto de órgãos federais e estaduais para que as coisas andem bem.
Estão envolvidos na manutenção da ordem no Rio o governo do Estado, naturalmente, a Polícia Militar fluminense, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), o Ministério da Defesa, o Exército, certamente a Agência Brasileira de Informações (Abin) e o Ministério da Justiça, por meio de sua Secretaria de Grandes Eventos.
Aí mora o perigo. Vejam só o que diz o diretor de operações da Secretaria, José Monteiro, cujo organismo é teoricamente encarregado de planejar e coordenar todos os eventos da JMJ no aspecto segurança, excetuadas a vigília e a missa de encerramento em Guaratiba.
– Enquanto não houver imposição legal, não podemos restringir o direito de ir e vir. Se não houver crime, não podemos barrar. Não é esse o objetivo.
Segundo monteiro, a polícia poderá revistar pessoas por alguma razão tidas como suspeitas, mas não vetar a participação de mascarados nos eventos.
Já em entrevista que concedeu ao site, o coordenador das operações de manutenção da ordem durante a JMJ, general José Alberto da Costa Abreu, comandante da 1ª Divisão do Exército, acredita que, em Guaratiba, não devem ocorrer manifestações de grandes proporções por duas razões: 1) a distância do local em relação a outros pontos da cidade e 2) o “respeito às Forças Armadas”. (Leia a reportagem.)
Ocorre, porém, que, o mesmo general José Alberto foi na contramão do coordenador Monteiro ao dizer que quem tentar promover qualquer mobilização no espaço sob o controle das Forças Armadas será expulso do evento e, dependendo do caso, até mesmo preso.
“Isso (levantar cartaz) não será permitido, nós vamos retirar esse pessoal e eventualmente prendê-los por desacato. Vamos convidar que se retirem porque lá não é local de se manifestar. Temos que ter educação nessa hora e saber respeitar a personalidade mundial que é o papa”. Não será tolerado também o uso de máscaras.
A segurança do Exército em Guaratiba, consoante a linha de trabalho do general, pretende barrar os manifestantes antes de eles chegarem ao terreno onde estará o papa. A organização da JMJ vai fechar os acessos para os veículos chegarem ao Campus Fidei, o que obrigará os peregrinos a caminharem 13 quilômetros.
Ao longo desse percurso e nos pontos em que ônibus e carros não poderão mais seguir em frente estarão cerca de 4 000 militares. Grupos organizados, que não sejam peregrinos, ou mascarados, serão vetados nos acessos ou no caminho a ser feito a pé. “Se os manifestantes chegarem ostensivamente, não passarão”, afirma o general.
Não quero ser pessimista e espero que tudo corre bem durante a visita do papa ao país. Mas tenho dúvidas, sérias dúvidas, sobre se o “respeito às Forças Armadas”, e mesmo a atuação delas, será suficiente para que a instituição não se veja envolvida em eventos negativos — que poderão incluir, sem a menor dúvida, excessos cometidos por seus integrantes.
As Forças Armadas estarão sendo submetidas a uma prova difícil e decisiva durante a JMJ.
Veja/montedo