17 de abril de 2014

A ditadura do saber nas escolas

RÔMULO BINI PEREIRA*

Ao final do mês de março último, membros da Comissão Nacional da Verdade afirmaram que há imperiosa necessidade de serem reformulados os currículos das escolas militares, principalmente no que tange ao ensino da disciplina História do Brasil nos Colégios Militares. É “intolerável” para eles que a Revolução de 31 de Março seja ainda hoje enaltecida.
Esses membros poderiam pesquisar em outras fontes e, na mesma intensidade, escrever a respeito de ensinos de teorias radicais de esquerda nas escolas pertencentes à rede pública. Será que o Ministério da Educação deve também, como sugerem tais comissões, atuar nesses estabelecimentos de ensino público ou a atuação vale somente para as escolas militares? Que opção seria melhor para a História do Brasil? “Vaporizar” dos currículos das escolas militares a Revolução de 31 de Março ou debater democraticamente o fato histórico?
Eis alguns tópicos para a segunda opção. O Sistema Colégio Militar do Brasil (SCMB), constituído de 12 colégios, atualmente com 14 mil alunos matriculados, destaca-se pela excelência do seu ensino. Tais colégios herdaram de seus antecessores um legado que transcendeu gerações, principalmente em relação aos corpos docente e discente. Os resultados em exames divulgados nacionalmente comprovam a citada excelência, oriunda da solidez, profundidade e amplitude de seu ensino. Seus alunos se sobressaem muito bem em Olimpíadas Escolares e no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Os princípios e condutas que nós, os militares, continuamos a cultuar e cultivar, embora sejam tidos nestes tempos de permissividade como valores ultrapassados, evidenciam detalhes que não constam dos currículos, como a disciplina, o respeito ao professor, o culto à verdade, a observância de horários e planejamentos, a responsabilidade e a ausência de greves. São valores que nos norteiam por toda a vida.
Já faz muito tempo que recebemos em silêncio, uma carga enorme de notícias desfavoráveis e de inverdades a respeito do período dos governos militares. Entretanto, nossos familiares são as principais testemunhas dos nossos exemplos de sacrifício, de conduta honesta e de abnegação não somente para com a instituição, mas, sobretudo, para com o Brasil. Sabem que nós fomos envolvidos em uma luta fratricida _ que não desejávamos e não iniciamos _ com o objetivo único de evitar a instalação de uma ditadura comunista ou de uma “democracia” que até hoje as esquerdas não conseguiram definir. Sabem, também, que lutamos, tivemos nossos mortos e não nos beneficiamos de execráveis indenizações ou abjetas benesses, cujo exemplo maior está na concessão das famigeradas “bolsas-ditadura”. Sabem, ainda, que erros foram cometidos pelos dois lados e que só um deles é tido como vilão.
O segmento militar, com esta unidade de pensamento e com esta conduta, deixa surpreendidos e encabulados os intelectuais e ideólogos de esquerda. Em defesa desses louváveis resultados educacionais, não permitiremos que currículos escolares de nossas escolas militares sejam modificados unicamente para que caprichos ideológicos contrários à vocação democrática do nosso Exército sejam atendidos. Por isso, quando o assunto for currículos de escolas militares, seria muito bom que os entusiasmados membros da CNV não fossem além das sandálias, porque tal proposta abre caminho para a “ditadura do saber nas escolas!”.
* General-de-Exército da reserva
ZH/montedo.com