17 de dezembro de 2014

Dallari sugere a parlamentares condicionar verba para Forças Armadas ao reconhecimento de violações na ditadura.

Coordenador da Comissão da Verdade afirmou que congressistas aprovam Orçamento, mas que militares não são recíprocos
Pedro Dallari, presidente da Comissão da Verdade (USP Imagens/Creative Commons)
EVANDRO ÉBOLI
BRASÍLIA - O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Pedro Dallari, sugeriu, mesmo sem ser explícito, que deputados e senadores pensem duas vezes antes de aprovar verbas orçamentárias para as Forças Armadas. Para ele, o Congresso Nacional aprova "substanciosas" verbas para projetos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, mas não há, por parte das forças, qualquer reciprocidade. A reciprocidade cobrada por Dallari é que os militares reconheçam as violações ocorridas durante a ditadura.
- Acho que o Parlamento tem importante papel porque vota o Orçamento desse país e as Forças Armadas têm recebido enorme apoio. Os maiores investimentos ou gastos públicos individuais são com as Forças Armadas. O maior investimento é o submarino de propulsão nuclear, da Marinha. O Parlamento aprovou orçamento substancioso para compra da frota de jatos da FAB, os aviões Grippen. Há investimento também substancioso de recursos para a Embraer desenvolver o cargueiro que irá substituir o avião Hércules. O Congresso vota o Orçamento, mas não há reciprocidade no entanto. O gesto de apoio não está sendo retribuído com o reconhecimento do que houve no passado. Não há contribuição no sentido da reconciliação, que só virá com esse reconhecimento - disse Dallari, que participou de audiência pública sobre o relatório da CNV no Senado, nesta quinta-feira.
Para o coordenador da comissão os senadores e deputados têm uma responsabilidade nisso.
- Há todo momento vemos comandantes militares e o ministro discutindo projetos para as Forças Armadas. É importante colocar na pauta do Senado e da Câmara esse diálogo do porquê as Forças Armadas não reconhecem que houve esse quadro (de violações).
Dallari disse que não está fomentando uma crise institucional.
- Não tenho essa vocação de atear fogo no circo. Sou de família mineira. Mas é importante que aja esse gesto (dos militares).
Ele disse ainda que esse silêncio das Forças Armadas sobre as conclusões da Comissão da Verdade vai ganhar uma "eloquência enorme" e foi além.
- Vai significar que não há por parte das Forças Armadas a convicção que não tenha sido correto fazer o que fizeram.E que pode vir a ser uma alternativa para o futuro na medida que Forças Armadas não entendem que isso não deveria ter acontecido e que não vai mais acontecer. Só assim (com o reconhecimento das violações) vai significar a superação desse período - disse Dallari.
O GLOBO/montedo.com