31 de janeiro de 2015

Comissão da Verdade: Forças Armadas devem seguir orientações, diz ministro.

Wagner presidiu passagem do Comando da FAB (Imagem: Sargento Batista/FAB)
Chefe das Forças Armadas, o ministro de Defesa, Jaques Wagner, afirmou nesta sexta (30) que o governo deve acolher e buscar cumprir as recomendações feitas pela Comissão Nacional da Verdade.
Em relatório publicado em dezembro, o colegiado que por dois anos investigou as mortes, torturas e desaparecimentos da ditadura militar (10964-1985) faz 29 recomendações.
Dentre elas, que as Forças Armadas reconheçam sua responsabilidade nas violações aos direitos humanos no período, que seus responsáveis sejam punidos e que as academias militares reformulem seus currículos para valorizar os direitos humanos.
"Temos que acolher as recomendações e, a cada caso, buscar cumpri-las. Agora, eu acho que tudo isso deve ser feito com a tranquilidade daqueles que estão com o olhar para o futuro. Buscar a verdade para mim é base para qualquer nação, mas não buscar a verdade para qualquer tipo de retaliação ou de revanchismo. Então cada caso será analisado [com] o intuito de cumprir", disse Wagner, após a cerimônia em que o tenente-Brigadeiro do ar Nivaldo Luiz Rossato assumiu o comando da Aeronáutica no lugar de Juniti Saito.
Ele não especificou, no entanto, a quais das recomendações ele estava se referindo.
Para Wagner -que como militante de esquerda foi perseguido pelo regime militar e chegou, como a Folha de S.Paulo revelou, a ter um estágio na Petrobras vedado por sua atividade política- é importante contudo personalizar as responsabilidades e evitar culpar as instituições.
"O que às vezes é ruim são as generalizações. Primeiro, a generalização em relação às instituições das Forças Armadas. As Forças Armadas têm serviços prestados ao Brasil de altíssima relevância, inclusive no sentido de garantir a soberania nacional. Agora, eventualmente, aquilo que aconteceu tem nome, tem responsável. Peca-se ao falar o Exército, a Marinha e a Aeronáutica. Evidentemente [tem que ser individualizado]. Por que senão você na verdade generaliza e fere aqueles que vestem as roupas das Forças Armadas com o orgulho de sê-lo. Eu mesmo, que fui aluno do Colégio Militar do Rio de Janeiro".
Questionado pela reportagem se deve ocorrer uma mudança na cultura ideológica das Forças Armadas, Wagner afirmou que "as Forças Armadas têm uma ideologia que é a Constituição brasileira".
"A missão das Forças Armadas é a proteção da Constituição brasileira. Ponto. Cada um pode ter sua convicção político-partidária, cada um vota como cidadão brasileiro, mas falar em ideologia numa carreira de Estado como são as Forças Armadas ou Itamaraty eu acho que é um equívoco".
Segundo o novo comandante da Aeronáutica, Nivaldo Rossato, "os assuntos afetos à Comissão Nacional da Verdade são tratados pelo nosso ministro da Defesa".
"Nós não temos esse envolvimento direto. Nós aguardamos nosso ministro da Defesa. A própria presidente da República disse que iria se debruçar sobre os documentos para analisá-los".

POSSE
Em seus discursos, Saito e Rossato fizeram elogios mútuos e citaram o FX-2, pelo o qual foi firmado contrato para adquirir os caças Gripen NG, e a produção do KC-390, aeronave de transporte logístico da Embraer, como os principais projetos das Forças Aéreas.
Rossato afirmou a jornalistas, depois da cerimônia, que pouco irá mudar em sua gestão.
"Não existe nada de diferente do que estava sendo feito. A Força Aérea prima pela continuidade, manutenção dos mesmos oficiais nos mesmos cargos. Então pouca coisa muda em nossa Força.
Apenas algumas oportunidades novas que nós sempre ficamos atentos para que venham a ocorrer."
Em, entrevista a órgãos de imprensa oficial, contudo, ele disse que sua missão será melhorar a gestão da FAB.
"Precisamos de mais eficiência, melhorar a produtividade. A parte operacional está no nível do que tem de melhor no mundo. Talvez não em quantidade, mas em conhecimento", disse ao "Notaer", jornal da Força Aérea.
"A nossa parte administrativa, não [está parelha com o que há de melhor no mundo]. Pode até ser uma crítica para mim mesmo", afirmou à "Aerovisão", revista da Força Aérea.(FOLHAPRESS)
O Tempo/montedo.com