22 de janeiro de 2015

Família acusa Exército por morte de jovem baleado no Complexo da Maré.

Testemunhas dizem que não havia confronto e que rapaz foi executado com tiro de fuzil em padaria do região
Tropas do Exército devem permanecer na Maré até abril deste ano
Foto:  Severino Silva / Arquivo Agência O Dia
FRANCISCO EDSON ALVES
Rio - Parentes de Felipe de Araújo Vieira, de 23 anos, assassinado com um tiro de fuzil no peito, na manhã de terça-feira, na porta de uma padaria da Vila dos Pinheiros, no Complexo da Maré, acusam soldados do Exército de terem matado o jovem sem motivação. Em nota emitida no dia do crime, a Força de Pacificação afirmou que a vítima fatal era “bandido”. Indignados, familiares e amigos contestam as informações dadas por militares.
Depois do enterro de Felipe, também nesta quarta, no Cemitério da Cacuia, na Ilha do Governador, a mãe dele, a auxiliar de serviços gerais Maria do Socorro Viana de Araújo, 40, fez um desabafo, acusando soldados do Exército de homicídio.
“Os militares, em dois jipes, assassinaram covardemente meu filho. Ele era caseiro, nunca pegou em armas e jamais teve problemas com a polícia. Tinha vários cursos profissionalizantes, até de Inglês. Há um ano trabalhava num lava-jato que montou junto com o compadre dele”, lamentou.

Resposta evasiva
Em nota, enviada pela Força de Pacificação às 22h02 desta quarta-feira, o Exército deu uma resposta evasiva sobre o questionamento do DIA de como chegou à conclusão de que Felipe era bandido, conforme afirmou em nota anterior: "A Força de Pacificação reitera que o indivíduo que faleceu na UPA da Vila do João participava de ações criminosas, conforme o contínuo monitoramento que realiza das facções que atuam na área de pacificação", diz o texto, que não esclarece as circunstâncias da morte do jovem.
Mais adiante, na mesma nota, o Exército alega que "o comportamento da comunidade" indicou que Felipe seria bandido. "Corrobora esta avaliação (de que Felipe seria bandido) o comportamento de indiferença observado na comunidade e o modus operandi do socorro, típico das facções criminosas, antecipando-se às forças legais para evitar a coleta de provas", argumentou o comando da Força de Pacificação.

Mãe quer provar inocência do filho
Maria do Socorro vai pedir nesta quinta à Divisão de Homicídios (DH) que sejam feitos exames de balística, de pólvora nas mãos do rapaz e toxicológico. “Quero provar ao Exército que Felipe não disparou contra a tropa, como a corporação alega, pois ele não estava armado”, justificou a mãe do jovem.
De acordo com testemunha, Felipe — que estava sem camisa, de short e com uma bicicleta —, em companhia de um amigo, tinha ido comprar pão às 7h, quando foi parado por militares. Após revista em ambos, os soldados teriam mandado o amigo da vítima correr.
Em seguida, após rápida discussão, um disparo foi ouvido. “Os assassinos (se referindo aos soldados) sequer prestaram socorro”, disse Maria. Vídeo feito por morador minutos após o tiro mostra Felipe agonizando e sendo socorrido por populares.

Confronto contestado
Moradores próximos à localidade onde Felipe de Araújo Vieira foi morto garantiram que não havia confronto entre militares da Força de Pacificação e traficantes no momento em que o jovem foi baleado.
“Depois do ocorrido, os traficantes da área ficaram revoltados com a covardia praticada pelo Exército e abriram fogo contra as duas patrulhas que tinham abordado Felipe. Os soldados revidaram”, comentou X., 35 anos.
Nesta terça-feira, a Força de Pacificação informou que um sargento ficou ferido por estilhaços no confronto. Em nota, a assessoria da Polícia Civil ressaltou que a DH solicitou a identificação dos soldados para depoimentos e que agentes realizam diligências.
iG/montedo.com