23 de julho de 2015

Alunos do Colégio Militar de Brasília são aprovados em Harvard e outras universidades americanas

Quatro alunos de escola pública de Brasília são aprovados em Harvard e outras universidades americanas
Jovens são do Colégio Militar de Brasília, administrado pelo Exército Brasileiro
Vitor, Nathalya, Luiz Felipe e Alisson aproveitaram a estrutura oferecida e seguirão para universidades mundialmente renomadas (Douglas Lemos/R7)
Harvard, Notre Dame, Yale e UCSD (Universidade da Califórnia em San Diego) serão os destinos de quatro estudantes do CMB (Colégio Militar de Brasília), escola pública do Distrito Federal administrada pelo Exército Brasileiro. Os jovens moradores de Brasília, que possuem entre 18 e 19 anos, passaram por processos seletivos rigorosos e embarcam ainda neste ano para começar os cursos de ensino superior em universidades famosas em todo o mundo por sua excelência na qualidade de ensino.
Vitor Freitas, de 18 anos, foi aceito em Harvard, considerada a melhor universidade do mundo. Ele ainda não tem certeza se fará Economia, Ciência Política ou História, mas disse que está inclinado à escolher a primeira opção. Ele encontrou inspiração no irmão, que se formou na universidade americana, para correr atrás do sonho.
A notícia da aprovação veio três dias após a chegada da formatura do irmão, que aconteceu em solo norte-americano. Anteriormente, Freitas estava apenas na lista de espera, e disse que recorreu ao envio de cartas e redações para aumentar suas chances. Quando recebeu a notícia por telefone, a reação foi de surpresa.
— Eu fiquei em choque. Uma mulher me ligou e falou cinco minutos dando instruções. A única coisa que prestei atenção foi que eu tinha sido aceito. Depois, esqueci o que ela falou e tive que ligar de novo por não ter prestado atenção.
Alisson Zanetti, de 19 anos, fará os cursos de Economia e Ciência da Computação na UCSD, no estado da Califórnia. Ele decidiu no terceiro ano do Ensino Médio estudar fora por influência dos colegas. Sem ter muitas habilidades com o inglês, inicialmente, foi para um curso de idiomas por um ano no país, incentivado pelos pais, e se adaptou bem.
O jovem chegou a ser aprovado para a UnB (Universidade de Brasília), mas não gostou do curso. Ele estava decidido: queria estudar nos Estados Unidos. Inicialmente pensava no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusets), Harvard, Stanford e UC Berkeley, por suas posições em rankings e por apenas conhecer estas universidades. Incentivado por um conselheiro profissional, pensou em outras universidades de acordo com seu perfil. Optou pela UCSD e foi aprovado.
— Larguei a UnB, uma boa universidade no Brasil, e mergulhei de cabeça para ir aos Estados Unidos.
Nathalya Leite, de 18 anos, fará Engenharia Biomédica em Yale, em Connecticut. Segundo a estudante, a decisão foi tomada porque a área que ela pretende seguir não é tão desenvolvida no Brasil. Nathalya fez um curso de verão na universidade e ficou encantada com o ambiente. Para ela, mergulhar em uma outra cultura com certeza fará com que sinta saudades de casa.
— Sou apegada à minha família. Também tem a questão da comida de lá, que eu não gosto muito. Vai ser um choque cultural grande.
Já Luiz Felipe Gomide, de 19 anos, foi aceito em Notre Dame, no estado de Indiana. Ele, que chegou a pensar em seguir carreira militar no Exército Brasileiro, cursará Economia e Negócios, e ressalta que a escolha também foi embasada na qualificação da faculdade: é a melhor do país nesta área de atuação. Receoso com a diferença cultural, Gomide foi convidado à visitar a universidade e percebeu um ambiente acolhedor.
Outro fator que contou na escolha por estudar fora do país, foi a possibilidade de poder focar diretamente em uma área. Para ele, os cursos no país parecem vagos.
— No Brasil você se forma e não sabe em que área quer trabalhar.
Questionados, os quatro pensam em voltar ao Brasil para ajudar no desenvolvimento de outros estudantes. Para os alunos do CMB, é unanimidade que as atividades extracurriculares oferecidas pela escola, são o diferencial. Elas variam de aulas de instrumentos musicais, coral, corpo de baile, esportes e atividades com foco na carreira militar.

Educação diferenciada
Para o comandante do CMB, o colégio se diferencia por preparar o
aluno como cidadão e não só para o vestibular (Douglas Lemos/R7)
De acordo com o Coronel Denison, comandante da unidade, ver o sucesso dos alunos é sinônimo de felicidade. Com toda a estrutura e qualidade de ensino oferecidos pelo CMB, ele ainda credita a conquista aos alunos.
— Mesmo dentro das suas limitações, o colégio oferece condições para todos. Mas o mérito é deles.
Conforme o comandante da unidade, o fato de os alunos pertencerem a uma escola pública ajudou no processo de seleção das universidades.
Ao todo, são 12 colégios militares em 10 unidades federativas, que não são subordinados ao MEC (Ministério da Educação) e sim ao Depa (Diretoria de Educação Preparatória e Assistencial) do Exército. A verba que o colégio recebe, vem diretamente da força militar.
O Coronel reforça a preocupação de preparar o aluno como cidadão. O colégio oferece profissionais de educação civis e militares que fazem um trabalho de desenvolvimento de habilidades motoras dos alunos e que oferecem as escolinhas para aqueles que tem habilidades desenvolvidas. Há também estrutura de banda musical para 900 alunos.
O comandante também ressalta que a cultura fora do Brasil ultrapassa as boas nota. Ele ressaltou que fora do país, as universidades querem saber detalhes da vida da pessoa.
— As universidades americanas não estão interessadas em alunos bons apenas na parte cognitiva. Eles buscam pessoas que tem outras riquezas a oferecer.
Vitor Freitas, reforça a tese de que o CMB – que possui 2.798 alunos do 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio – é um exemplo para as escolas públicas, já que consegue fazer muito com o que recebe.
— É possível ver a verba que recebe ser aplicada. [O colégio] se preocupa muito em formar não só um estudante, mas também um cidadão.
O Colégio Militar é público e, para ingressar, é necessário ser filho de militar do exército, aeronáutica ou marinha; ou através de concurso público para o 6º ano do ensino fundamental ou para o 1º ano do ensino médio.

A seleção
Nos Estados Unidos o processo para entrar em uma faculdade privada não é feito através de uma prova de conhecimentos, como no Brasil. Há uma análise de currículo escolar, de atividades extracurriculares e, também, do estilo de vida do estudante. As bolsas são oferecidas de acordo com a necessidade do aluno. Somadas as mensalidades das universidades, moradia e alimentação, o custo total pode variar de US$ 30 mil a US$ 60 mil.
Os estudantes que foram aceitos nas universidades americanas participaram de um processo anual da Fundação Estudar, para quem quer fazer a graduação ou pós graduação no exterior. Podem participar estudantes de 16 a 34 anos. O processo é composto por etapas online e presenciais que começam com testes de perfil e raciocínio lógico, além de depoimento vídeo e questionário sobre a trajetória e experiências do candidato.
As próximas duas etapas são compostas por entrevistas online com a equipe da Fundação, e partir daí os selecionados são chamados para uma dinâmica em grupo. Os jovens que ficarem melhor ranqueados são chamados para uma conversa com ex-bolsistas e, se selecionados, passam para a fase final: uma entrevista com os membros do conselho administrativo da Estudar.
Na hora de voltar ao Brasil, todos os alunos terão que legalizar o diploma. Isso pode ser um problema na hora de assumir um cargo público após concurso, por exemplo, já que há a exigência de apresentar de diplomas validados no Brasil. Além disso, os alunos terão que se inserir no mercado de trabalho após quatro anos fora. Para os que se formaram em universidades muito conhecidas, a dificuldade pode ser menor. Porém, existem muitas universidades com boa qualidade de ensino e que não é de conhecimento do brasileiro, o que pode tornar o processo de arrumar emprego no Brasil algo mais complicado.
Para ser aprovado no processo de seleção, é essencial se identificar com os valores da organização e ter a ambição de deixar um legado para o país. Em 2014, mais de 30 mil jovens se inscreveram no Programa de Bolsas e 28 jovens foram selecionados. Mais de R$ 1 milhão foram investidos em bolsas de estudos somente no último ano.
R7/montedo.com