15 de julho de 2015

General perde a espada para os ladrões

General Osório sem a espada Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Caio Barretto Briso - O Globo
RIO — Com a cara fechada, a estátua em homenagem ao gaúcho Manuel Luís Osório, o General Osório, mostra o militar mais benquisto do século XIX empunhando uma espada sobre seu cavalo. Está lá, no coração da Praça Quinze, desde 1894. Meses atrás, ao redor do equino, havia 20 balas de canhão dos tempos da Guerra do Paraguai, uma das muitas campanhas do Exército Brasileiro da qual Osório voltou como herói. Mas já não há mais balas de canhão, tampouco espada. Nem mesmo a grade em bronze que protegia o monumento existe mais. O general foi saqueado.
Osório era tão querido que sua estátua foi construída com dinheiro de doações da população carioca. Cada um podia contribuir com o valor máximo de 500 réis. Contratou-se, então, o escultor Rodolfo Bernadelli por 160 contos de réis. Ele montou seu ateliê no antigo Beco da Pouca Vergonha (hoje Rua Vinte de Abril) e precisou de dois anos de trabalho apenas para fazer o cavalo.
Por tudo isso, é surpreendente que a estátua de oito metros, diante do Paço Imperial, esteja em estado de conservação deplorável.
— Eles chegam de madrugada, às vezes com o dia amanhecendo. A última vez que vieram foi há uns três meses. Abri com força a porta da banca, eles se assustaram e correram. Mas sempre voltam, e ninguém faz nada — lamenta Leônidas Aguiar, que há 39 anos possui uma banca de jornal diante do general.
Quem são “eles”? Segundo o restaurador de móveis Marconi Andrade, um dos fundadores da página no Facebook “S.O.S. Patrimônio”, são especialistas em dilapidar a História.
— Já fiz diversas denúncias, mas a prefeitura dá de ombros. Só não roubaram a estátua inteira porque é muito pesada — afirma.
Inauguração da estátua do Marechal Osório, em 1894 (Imagem: Blog a História dos Monumentos do Rio)
Inaugurado no dia 12 de novembro de 1894, no governo do presidente Floriano Peixoto, o monumento guardava em sua cripta o corpo do general, morto em 1879 (mais tarde, os restos foram levados ao Rio Grande do Sul). Imagens antigas mostram a Praça Quinze apinhada de gente: além do próprio presidente, havia na inauguração membros do governo, militares de todas as patentes, bandas de música e até uma delegação do Uruguai, aliado do Brasil na Guerra do Paraguai.
— Era um general que declamava poesia, que contava piadas para a tropa. Foi também um político liberal, aberto a ideias progressistas. A popularidade de Osório começou a ser ameaçada quando o Exército passou por divisões e começou a cultuar a imagem de Duque de Caxias, que era o mais conservador dos líderes militares. Mas a grande quantidade de logradouros em homenagem a Osório, em todo o Brasil, mostra quem era o mais querido — afirma o historiador Marcus Dezemone, professor da Uerj e da UFF.
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SECRETARIA PROMETE REFORMA
Responsável pelos 1.200 monumentos espalhados pela cidade, a Secretaria de Conservação e Serviços Públicos reformou a estátua pela última vez em setembro de 2011, ao custo de R$ 250 mil.
Em nota, a secretaria reconhece que a estátua “foi alvo recente de vândalos que furtaram grande parte das grades em bronze, além da espada e outras peças”. O monumento, diz a nota, será “totalmente revitalizado até o fim do ano”.
— Mas, e depois? — indaga Andrade. — Sem manutenção, sem polícia por perto, o que será de Osório?
EXTRA/montedo.com