17 de outubro de 2015

Cortes no Orçamento comprometerão vigilância de fronteiras, alerta Exército

LUCAS REIS
DE SÃO PAULO
Os cortes orçamentários anunciados pelo governo federal vão comprometer a vigilância das fronteiras brasileiras, atrasar programas estratégicos e até tornar o país mais suscetível a ataques virtuais, alerta o Exército.
No final de setembro, o general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército, declarou em audiência no Senado que os problemas oriundos do contingenciamento de gastos podem resultar em um retrocesso de até quatro décadas no Exército brasileiro.
Segundo a instituição, cerca de 24%, ou R$ 526 milhões, foram contingenciados em 2015. As despesas discricionárias autorizadas caíram 27% neste ano em relação a 2014 (corte de R$ 619 milhões) e as despesas oriundas do PAC tiveram recuo de 39%, o equivalente a R$ 217 milhões.
"Se a situação permanecer neste nível de restrições financeiras, a Força [Terrestre] poderá cancelar demandas previstas e/ou postergar a conclusão dos projetos", informou o Exército em nota enviada à Folha.
Um exemplo citado pelo general Villas Bôas é o Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras). Concebido em 2008 para reforçar a vigilância em mais de 16 mil km de fronteiras, o projeto recebeu 37,5% dos R$ 2,2 bilhões previstos para serem investidos até o momento.
"Há o risco de aumento do custo do projeto, tendo em vista a ampliação do prazo de execução, o esforço de replanejamento frequente, os reajustes contratuais e o constante movimento de desmobilização e mobilização das empresas envolvidas", afirma o Exército em nota.
Segundo Villas Bôas, o enfraquecimento do Sisfron pode aumentar o tráfico internacional de drogas, que tem forte presença na região amazônica, além do cultivo e manufatura dos entorpecentes. O monitoramento ambiental também é afetado.
Outra ameaça que ganha força é o monitoramento virtual. Segundo o Exército, o Brasil é alvo de mais de 1,5 milhão de ataques virtuais todos os anos, a maioria em sites do governo. Apenas durante a Copa do Mundo de de 2014, foram 756 tentativas.
"Os cortes do Orçamento vão impactar o tempo e o escopo dos projetos que compõem o Programa da Defesa Cibernética na Defesa Nacional, retardando o desenvolvimento de capacidades necessárias ao país para fazer face às novas ameaças da era da informação", diz a nota.
Diante da crise, o Exército informou que adotou medidas de austeridade, como priorizar contratos já firmados e obras em andamento e postergar despesas.
Villas Bôas também afirmou, na sexta (9), que vê risco de a atual crise virar uma "crise social" que afetaria a estabilidade do país. "Nos preocupamos porque passa a nos dizer respeito diretamente", afirmou o general em videoconferência a oficiais temporários de reserva.

INDÚSTRIA DE DEFESA
O ajuste fiscal não atinge apenas o Exército, que congela investimentos e projetos e, consequentemente, afeta a cadeia produtiva do setor.
"Infelizmente várias empresas tiveram que demitir colaboradores altamente especializados em face da desaceleração em alguns projetos. Outras empresas puderam realocar seus funcionários e, neste caso, o impacto foi menor", diz Carlos Afonso Pierantoni Gambôa, vice-presidente executivo da Abimde (Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança.
Procurado, o Ministério do Planejamento não se manifestou até a conclusão desta reportagem.
Folha de São Paulo/montedo.com