1 de dezembro de 2015

Tiriós: uma existência integrada às Forças Armadas

A longa extensão da fronteira que compreende as cidades do Oiapoque (AP) e de Boa Vista (RR) chamou a atenção do brigadeiro Camarão, então chefe do I COMAR, em Belém (PA), ainda na década de 1970. Entre o município e a capital, fronteira com o Suriname, um grande vazio demográfico de difícil controle para a defesa. Assim nasceu a localidade de Tiriós.
De helicóptero, o brigadeiro Camarão conheceu a região, apoiou a instalação de indígenas da etnia Tiryó e convidou missionários da Ordem Franciscana para habitarem a localidade, que fica a 900 km de Belém. Hoje, a região abriga cerca de 1.500 indígenas, três irmãs e dois frades franciscanos, além de um efetivo da Aeronáutica e do Exército.
Nesta quinta-feira (26), o ministro da Defesa, Aldo Rebelo, e o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Nivaldo Luiz Rossato, visitaram Tiriós, acompanhado pelo chefe do I COMAR, brigadeiro Paulo Borba, que também preside a COMARA (Comissão e Aeroportos da Região Amazônica).
Tiriós está a cerca de trinta quilômetros do Suriname. Não há rio ou estrada para se chegar ao local. Tudo o que existe lá foi levado por via aérea, em aviões da COMARA, que é responsável por toda a infraestrutura construída na região. Material de construção, equipamentos, produtos asfálticos, búfalos e até uma usina de asfalto feita sob medida para ser transportada por uma aeronave C-130. O tempo de voo na aeronave C-130 HÉRCULES é de 2 horas, partindo da capital paraense.
A COMARA iniciou sua atuação em Tiriós em 1978, com a construção da pista de pouso nas dimensões de 1.280m x 30m em solo laterítico (piçarra/cascalho). Em 1979, para facilitar o acesso das tribos indígenas e da missão Franciscana, a COMARA construiu uma ponte de madeira com pilares em concreto para transpor um pequeno curso d'água. Em 1983, a COMARA construiu uma residência com dois pavimentos para apoiar uma missão religiosa.
Em 2004, iniciou a implantação de uma infraestrutura aeroportuária mais moderna, com ampliação da pista de 1.600 para 2.000 metros, do pátio com base em macadame hidráulico e revestimento em concreto asfáltico. Foram construídos acostamentos, stopways, sistema de drenagem, sinalização noturna, sinalização horizontal e cerca operacional. Como havia disponibilidade de jazidas de rocha e areia no local, a COMARA mobilizou uma central de britagem e uma usina de asfalto que foram transportados de Belém.
Em 2008, a COMARA executou obras para o Exército Brasileiro, incluindo a construção de moradias residenciais, terraplenagem de vias de acesso, rede de iluminação pública de vias internas e externas, construção de duas cisternas de 20 mil litros, fossa séptica e caixa d'água metálica de 10 mil litros.
Para atender às obras da pista e do Exército, foram produzidos mais de 400 mil tijolos e 80 mil m³ de brita na própria localidade. Foram transportados mais de 700 toneladas de produtos asfálticos, cerca de 600 mil litros de diesel e 100 equipamentos. Toda essa operação demandou cerca de 500 viagens em aeronave C-130 Hércules/C-105 AMAZONAS, a partir de Belém e Manaus.
Hoje, a energia que abastece o local é gerada a partir de um moderno sistema que utiliza a luz solar, por meio de placas, e o diesel. Segundo o coronel Carlos Henrique Afonso Silva, comandante do Cindacta IV (Manaus), a implantação do sistema solar reduziu em 46% o consumo do diesel. "Nosso fornecimento é estável.
Não podemos aceitar lapsos de energia", disse. Diversos órgãos governamentais, como o Ministério da Saúde, utilizam a estrutura da Aeronáutica para suas atividades na região. A refrigeração das vacinas, por exemplo, é feita pela Aeronáutica, em função da estabilidade do fornecimento de energia.

Visita
Ao chegar a Tiriós, o ministro e sua comitiva conheceram o Destacamento de Controle do Espaço Aéreo do local (DCTA-TS), um dos 26 que fazem parte do Cindacta IV. O radar da unidade é um dos primeiros da região a identificar aeronaves vindas do Norte e tem um alcance de 250 milhas, capaz de controlar o espaço aéreo das fronteiras com as Guianas e o Suriname. Em seguida, a comitiva visitou o 2º Batalhão de Infantaria da Selva e o 1º Pelotão Especial de Fronteira.
Lá, o ministro, o comandante da Aeronáutica e o brigadeiro Borba conversaram com lideranças indígenas da região e com os missionários franciscanos. Com 83 anos, o frei franciscano Protásio, vive em Tiriós há quase quarenta anos. Veio para o local com outros dois irmãos, já falecidos. De origem alemã, seu verdadeiro nome é Stücker. Franzino, com um semblante tranquilo, o frei disse gostar do lugar onde mora. "Aqui tem pouca briga. Todo mundo é amigo". Ele divide a moradia com um médico cubano, do Programa Mais Médicos, que atende a comunidade.
Entre os soldados do pelotão, atento à recepção da comitiva, um indígena se desdobrou no papel de tradutor da sua língua local, durante a conversa do ministro com as lideranças Tyrió. Gil é cabo temporário do corpo de saúde do Exército. Tem 23 anos, nasceu em Tiriós, na aldeia Missão Nova, e com 11 anos mudou-se para Macapá (AP). Formou-se em Patologia em uma escola técnica e está no Exército desde 2012. Tímido, Gil explica que fez patologia porque queria ajudar a sua comunidade.
E quis entrar para o Exército porque poderia voltar para sua aldeia. "Eu queria fazer a diferença na minha comunidade. Ajudar na saúde", disse. "Gosto muito do Exército. Aprendi muitas coisas que nunca tinha visto antes. A parceria que temos aqui é muito grande".
DefesaNet/montedo.com