27 de janeiro de 2016

Com Bolsonaro presente, General Mourão deixa o Comando Militar do Sul

Polêmico, general Mourão deixa o Comando Militar do Sul
Posse ocorreu em Porto Alegre e não houve incidentes
Humberto Trezzi
Foi sem incidentes a posse nesta terça-feira, em Porto Alegre, do general de exército Edson Leal Pujol como novo chefe do Comando Militar do Sul (CMS), órgão máximo do Exército nos três Estados do Sul. Ele ocupava a Secretaria de Economia e Finanças do Exército.
Pujol substitui o general Antônio Hamilton Martins Mourão, retirado do CMS após criticar o governo federal e deixar que ocorresse em Santa Maria homenagem de subordinados seus a um dos símbolos do regime militar (1964-1985), o coronel Brilhante Ustra. Ustra, já falecido, foi comandante do DOI-Codi do II Exército, em São Paulo, onde teriam morrido 45 prisioneiros. Mourão vai ocupar a Secretaria de Finanças, aquela de onde veio seu sucessor, Pujol.
A cerimônia de posse, realizada na sede do 3º Regimento de Cavalaria de Guarda (bairro Partenon), foi prestigiada pelo Comandante do Exército, general de Exército Eduardo Villas Bôas. Apesar da constelação nos ombros dos generais presentes, a grande estrela da festa foi um capitão da reserva, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ).
Polêmico, general Mourão deixa o Comando Militar do Sul André Ávila/Agência RBSÉ que ele e o general Pujol foram colegas de turma na Academia Militar das Agulhas Negras, entre 1974 e 1977, em Resende, no Rio de Janeiro, o que motivou o convite para prestigiar o amigo no novo cargo. Alguns tinham expectativa de que Mourão, retirado do cargo em novembro, fizesse algum discurso ácido. Mas ele manteve a compostura, talvez pela presença do comandante do Exército (que o transferiu por conta das críticas feitas ao governo) na cerimônia. A vinda do chefe dos militares a cerimônias de posse nem sempre acontece, mas Villas Bôas marcou presença desta vez.
Remoção de general inquieta militares
Foi grande a gritaria nas redes sociais contra a remoção de Mourão do CMS, em novembro. Correntes na internet e no Facebook se formaram em apoio ao oficial, afastado do cargo após dois episódios. O primeiro foi quando ele afirmou que, no governo, "esquerda e direita se encontram na corrupção" e chegou a traçar cenários possíveis para o país, ante o enfraquecimento do governo Dilma: 1. Sobrevida: mesmo enfraquecido, o governo Dilma chega ao final do mandato. 2. Queda controlada: Dilma renuncia ou se afasta por iniciativa própria, negociando a transição. 3. Renovação: descontinuidade do governo com novas eleições. 4. Caos.
A segunda contrariedade governamental com Mourão foi por ele ter permitido homenagem póstuma ao coronel Ustra, ocorrida logo depois da morte dele, no dia 15 de outubro. O desagravo a Ustra aconteceu em Santa Maria, cidade natal dele, e teria sido autorizado pela 3ª Divisão de Exército, subordinada a Mourão. A divisão teria expedido convites para a cerimônia.
Mourão, no entanto, seguiu o protocolo e deu um fraterno abraço em seu sucessor, Pujol. A única alfinetada sobre política foi quando lembrou a data em que assumiu o CMS, 31 de março de 2014.
— 31 de março, grande data — disse Mourão. Muito viram a declaração como uma referência indireta ao movimento militar que derrubou o então presidente João Goulart, em 1964.
Considerado um dos mais preparados militares brasileiros, Pujol é gaúcho de Dom Pedrito, filho do coronel da BM Péricles Pujol. O general estudou no Colégio Militar de Porto Alegre de 1967 a 1970. Começou carreira militar em 1971, como aspirante a oficial, e cursou a famosa Academia Militar de Agulhas Negras (RJ). É da Cavalaria. Foi primeiro colocado na turma de Cavalaria da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. No Rio Grande do Sul, ele já comandou a 1ª Brigada de Cavalaria Mecanizada de Santiago. Entre março de 2013 e março de 2014, comandou a Força de Paz na Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah).
Ele também foi ligado ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, entre abril de 2014 e abril de 2015.
Zero Hora/montedo.com