1 de abril de 2016

Quem diria? Primeiro presidente do PMDB foi um general

POLÍTICOS E MILITARES ESTÃO DEVENDO

Carlos Chagas
Completaram-se esta semana cinquenta anos de fundação do PMDB, no começo sem o “P”, condenado a ser oposição até o desaparecimento do regime militar. Quando de seu aparecimento, o partido quase não apareceu: a lei celerada – o AI-2, baixada pelo marechal Castello Branco – exigia determinado número de senadores, para que pudesse funcionar. Como a maioria deles optou por ingressar na legenda dos militares, faltaram dois. Envergonhados pela sombra do partido único, os donos do poder manobraram para que dois senadores inscritos na ARENA mudassem de lado, saindo da situação e inscrevendo-se na oposição. Consumou-se a farsa. Tratou-se de escolher o presidente do novo partido, por causa disso mesmo o general e senador Oscar Passos, do Acre, herói da Força Expedicionária Brasileira.
Com as eleições de 1966, o bravo velhinho perdeu nova eleição para o Senado, assumindo o vice-presidente, deputado Ulysses Guimarães, que dali em diante reinou absoluto, apesar de perseguições, eleições indiretas, senadores biônicos, cassações, prisões e outros horrores que duraram até o retorno à democracia.
A passagem dos cinquenta anos vem sendo marcada por todo o tipo de comemorações, com o PMDB, faz muito, tendo-se tornado o maior partido nacional. Só foi marcado por uma ausência: esqueceram o senador Oscar Passos. De volta das batalhas na Itália, acabou entrando na política. Foi para o PTB e a oposição, até que perdeu sua primeira eleição, no MDB, décadas depois.
Naqueles idos, vivendo de aposentadorias, passou dificuldades. Ulysses Guimarães preocupou-se com o futuro do antecessor e procurou o único governador do ainda MDB, Chagas Freitas, da Guanabara, capaz de nomeá-lo para algum cargo. O diabo é que tratava-se de um traidor. De oposicionista, Chagas Freitas não tinha nada, pelo contrário. Até o mais feroz dos ministros do Exército, o general Orlando Geisel, compareceu à sua posse. Assim, como governador, nem ligou para o pedido do “presidente” de seu partido. Alegou como serviço prestado aos militares haver deixado o primeiro chefe da oposição terminar a vida em dificuldades.
Esses cinquenta anos de lutas do PMDB bem que mereceriam, se não homenagens, ao menos lembranças dos companheiros de Oscar Passos. Aliás, tanto dos políticos quanto dos militares.
DIÁRIO do PODER/montedo.com