26 de julho de 2016

RJ: registros de crimes caem com Forças Armadas na ruas

Muitos bairros, porém, ainda não têm patrulhamento especial
FABIO TEIXEIRA / GISELLE OUCHANA / GUSTAVO SCHMITT / LUIZ ERNESTO MAGALHÃES
RIO - Uma Limousine rosa, lotada de adolescentes, vira a esquina da Avenida Princesa Isabel e entra na Nossa Senhora de Copacabana. As jovens acenam pelo teto solar. Fuzileiros navais, fortemente armados e vestidos com pesados uniformes camuflados, acenam de volta. Cenas como essa, com direito a selfies com os militares, aconteciam com naturalidade na manhã de ontem, quando 22 mil homens do Exército, da Marinha e da Aeronáutica começaram a ocupar as ruas e vias expressas da cidade para os Jogos.
Das 10h às 13h e das 14h às 16h, o GLOBO percorreu as principais vias do eixo olímpico. Na Zona Sul, só foram localizados soldados em Copacabana. A equipe de reportagem não encontrou patrulhamento em Ipanema, no Leblon ou na Lagoa. Também não se deparou com militares na Praia da Barra e no entorno Maracanã. Os oficiais alegaram que o patrulhamento não é estático e que as tropas se deslocam constantemente de carro e a pé. De toda forma, a presença dos soldados já surtiu efeito: ontem, o número de registros de ocorrências caiu consideravelmente em algumas delegacias do Rio.

AUMENTO NA SENSAÇÃO DE SEGURANÇA
Para a população, a expectativa é de aumento da sensação de segurança. Dono de uma banca de jornais na Nossa Senhora de Copacabana, Rocco Muro, de 75 anos, avaliava o possível impacto da presença de militares perto de seu ponto:
— Até agora não vieram falar comigo, mas está tudo bem. Não podem criar muita amizade. Polícia é uma coisa, militar é outra.
Garçom do restaurante Meia Pataca, em Copacabana, Izaias Storch, de 64 anos, mostrou otimismo:
— Espero que aumente a segurança aqui perto.
Funcionários do restaurante, localizado nas proximidades do futuro Museu da Imagem e do Som, já tiveram contato com os militares.
— Deve estar calor com aquele equipamento todo. Oferecemos água, mas eles disseram que têm a própria. De qualquer forma, já sabem que se precisarem usar o banheiro, é só pedir — contou Storch.
Segundo os militares ouvidos pelo GLOBO, o equipamento pesa dez quilos. Alguns demonstravam preocupação com a falta de planejamento para a rendição e com o horário do almoço.
— Não sabemos como vai funcionar — afirmou um fuzileiro naval, que preferiu não se identificar. — Está sendo cansativo, acordamos às 4h para estar aqui. Mas militarismo é isso aí.
A questão da segurança também motivou uma discussão política (unilateral) entre o servidor federal Paulo Vieira, de 61 anos, e os fuzileiros.
— O senhor não concorda que a presença de vocês é um sinal da falência da política de segurança? — questionou Paulo, que ficou sem resposta.
No Forte Duque de Caxias, no Leme, a presença de blindados e de caminhões da Marinha chamou a atenção de banhistas. O estacionamento do forte se tornou uma atração à parte para os filhos de Mário Perroni, de 41 anos. Allegra, de 8, e Matheus, de 6, foram recebidos pelos soldados, que os ajudaram a subir nos caminhões.
— Eles foram bem atenciosos — contou Mário. — Foi um programa a mais. Levei as crianças à praia e, depois, tivemos a surpresa de encontrar a Marinha em pleno domingo de sol.
Pelos próximos 61 dias, os homens da Marinha, Exército e Aeronáutica vão ocupar os principais pontos turísticos, vias expressas e corredores viários do Rio. Os militares terão poder de polícia, com base num decreto assinado no último dia 15 pelo presidente interino Michel Temer. Os soldados estão munidos de fuzis e de armamento não letal. Ontem, oficiais do Exército prenderam um homem por desacato na Vila Militar, em Deodoro.
Já que há uma escala dividida em turnos, pelo menos 6 mil militares atuarão no patrulhamento das ruas por vez. Ao percorrer as vias olímpicas, porém, o efetivo não era aparentemente tão numeroso. No Maracanã, a equipe de reportagem não encontrou militares. Na Linha Vermelha, havia apenas um grupo de seis homens do Exército em frente ao Batalhão da Polícia Militar da Maré. No Engenhão, a Força Nacional se fazia presente na entrada da estação do Engenho de Dentro. No Aterro do Flamengo, três fuzileiros navais estavam em frente ao monumento a Estácio de Sá e outros três, na altura do Hotel Glória. Na Praia de Botafogo, foram encontrados três oficiais da Marinha. Na Lagoa, uma cena inusitada: dois botes navegavam no espelho d’água com três militares armados de fuzis em cada um.
O maior contingente de militares foi visto no Aeroporto Internacional Tom Jobim e na Barra. Na Avenida Ayrton Senna, em frente à Cidade das Artes, 60 soldados estavam a postos entre as avenidas Salvador Allende, na altura da Vila dos Atletas, e Abelardo Bueno, nas proximidades do Parque Olímpico. Na Linha Amarela, homens do Exército circulavam nos dois sentidos. Na Praia do Recreio, as instalações olímpicas do Pontal eram patrulhadas pela Força Nacional.

OCORRÊNCIAS CAÍRAM NAS DELEGACIAS
A presença das tropas causou impacto no número de ocorrências policiais registradas nas delegacias que abrangem o eixo olímpico. Em Copacabana, agentes da 12ªDP perceberam a diferença de um dia para o outro: ontem houve apenas um registro, de um acidente de trânsito, enquanto que, no sábado, foram 16 ocorrências, entre roubos, furtos e uma briga. A 14ªDP (Leblon) registra, em média, 20 diariamente. Ontem, até as 16h, a delegacia só havia registrado quatro: dois roubos, um acidente e uma lesão corporal. Na Barra, até o início da tarde, o único registro feito na 16ªDP foi o roubo de um carro na subida para o Alto da Boa Vista. Em média, no entanto, a unidade registra quatro roubos de rua por dia e um de carro a cada 48 horas.
— Não tenho dúvidas de que os índices diminuirão com o reforço no patrulhamento — disse o delegado titular da 16ªDP, Marcus Braga.
Em outras unidades policiais, a expectativa é a mesma. Na 24ªDP (Piedade), que cobre o entorno do Engenhão, onde vão acontecer partidas de futebol e provas de atletismo, os agentes registraram apenas sete ocorrências até as 18h de ontem. Num domingo comum, de acordo com policiais, esse número seria o dobro. Já na 17ªDP (São Cristóvão), que recebe uma média de 18 a 20 ocorrências no domingo, apenas um registro foi feito até as 17h de ontem. Durante a madrugada, um carro foi roubado no bairro. Na 18ªDP (Praça da Bandeira), que abrange o entorno do Maracanã, palco da cerimônia de abertura, policiais não informaram o número de registros.
O Globo, via Jornal Floripa/montedo.com