14 de dezembro de 2016

Histórias de Quartel: O prisma assombrado

O prisma assombrado
A imagem pode conter: árvore, planta, grama, céu, atividades ao ar livre e natureza
Ruben Barcellos
Na Instrução Básica do Combatente (IBC) do ano de 1986 fomos para o Ibaré com o CFS. Na época, um dos monitores era o sargento Ferreira.
No patrulhão, o Ferreira ficaria num dos muitos postos de controle ao longo do percurso estabelecido. E onde o Ferreira ficou? Bem num cemitério ao lado da estrada. Olha, de noite, mesmo para os que não tem medo, isso é uma coisa chata de encarar, ainda mais à luz de lanterna.
Ferreira colocou o prisma em cima do muro, fácil de identificar de longe, mas teriam de se aproximar para anotar o número deste e o próximo azimute (direção a ser seguida indicada pela bússola).
Chegou a primeira patrulha, comandada pelo aluno Vieira. Confabularam na entrada do cemitério, tomaram as medidas de segurança e o comandante da patrulha escalou:
- Julio, tu é o comandante da esquadra de assalto; vai até o prisma e anota tudo.
Julio foi, mais pela honra em jogo do que pela própria vontade.
Ferreira escutou o nome do cabo da patrulha e sorriu:
- Julio, hein...bota sebo nas canelas!
A uns três passos do prisma, com a missão quase cumprida, suor empapando a testa e as mãos, Júlio tinha um olho no prisma e outro no portão do cemitério. A caneta do Julio tremia na base.
Ferreira leva a mão no prisma e murmura:
- Te peguei cabo cagão!
Julio soltou o FAL, a carta, a caneta, a coragem e o grito de "mãããiiiiiiiiiiiêêêêêê!" E sumiu noite a dentro!
Esse grito, dizem as línguas afiadas, ainda se ouve por aqueles lados.