Marinha cerca trechos de boulevard na Zona Portuária
Grades foram instaladas impedindo acesso a equipamentos públicos
SIMONE CANDIDA
RIO - Quando o último trecho da Orla Prefeito Luiz Paulo Conde foi inaugurado, no início de agosto, a cidade recebeu de volta o acesso a um pedaço do Centro, no contorno do Morro de São Bento, que, por mais de 250 anos, ficara restrito à Marinha, na área do I Distrito Naval. Com as obras do Porto Maravilha, o espaço ganhou calçadão, deque, jardins e mobiliário urbano, sendo integrado à nova frente marítima do Rio e permitindo a formação de um caminho contínuo de 3,5 quilômetros, do Museu Histórico Nacional ao boulevard da Zona Portuária. Passada a Olimpíada, cariocas e turistas que se acostumaram a caminhar por lá sem restrições estranharam que parte do Boulevard Olímpico começou a ser cercada pela Marinha. As grades foram instaladas dos dois lados, delimitando a beira do mar e o continente, criando no meio um corredor que se estende do Museu do Amanhã até os fundos da Casa França-Brasil. Em alguns trechos, as mesas e cadeiras ficaram cercadas e o gramado, inacessível.
A prefeitura acusa a Marinha de não cumprir o acordo firmado antes mesmo da derrubada do Elevado da Perimetral. Segundo Jorge Arraes, secretário especial de Concessões e Parcerias Público-Privadas (Secpar), pelo combinado no documento, a Marinha se comprometia a liberar a área para a construção da Orla do Centro e, em troca, receberia obras de reurbanização do interior do 1º Distrito Naval, um novo restaurante e um estacionamento subterrâneo.
— Antes, ali, havia uma área pública, embaixo de um viaduto, com vários estacionamentos, incluindo um da Marinha. Para a derrubada da Perimetral e liberação do acesso, fizemos o acordo. Das nossas contrapartidas, só está faltando concluir o acesso ao estacionamento, que já está pronto. Fomos surpreendidos pelo gradeamento desta área, que, pelo acordo, tornou-se pública. Não faria sentido instalarmos equipamento urbano, com gastos, numa área militar. Eles colocaram grades de eventos, inclusive, no trecho de mar, comprometendo a paisagem e contrariando o projeto, que optou por deixar livre a vista para a baía — disse Jorge Arraes, acrescentando que a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto (Cdurp) já tentou resolver o impasse com a Marinha, sem sucesso.
FREQUENTADORES CRITICAM GRADEAMENTO
O acordo previa ainda, explica Arraes, a construção de um deque avançando sobre o mar e passando por baixo da Ponte Arnaldo Luz, que dá acesso à Ilha das Cobras, também militar. A urbanização destacou as próprias edificações históricas da Marinha, como a sede do Comando do I Distrito Naval, o antigo Ministério da Marinha e, do outro lado da orla, os prédios das ilhas das Cobras e das Enxadas.
‘Pelo acordo, a área tornou-se pública. Não faria sentido instalarmos equipamento urbano numa área militar’- JORGE ARRAES, Secretário especial de Concessões e Parcerias Público-Privadas
— A Marinha exigiu que a segurança da área ficasse sob sua responsabilidade, o que a prefeitura aceitou — diz Arraes.
Frequentadores da Orla do Centro estão reclamando da perda de terreno.
— Não entendi por que alguns bancos, mesas, lixeiras e até um bicicletário agora estão em área militar — comentou a secretária Ana Lúcia Rodrigues, que nesta segunda-feira passeava pela região na hora do almoço.
Um dos deques de madeira da orla, que durante os Jogos Olímpicos foi um dos pontos de observação do pôr do sol, por exemplo, passou a ser considerado local de acesso restrito, já que a cerca de ferro da Marinha foi colocada bem no limite entre o passeio e área de convivência. Para o entregador José Carlos Teixeira, que trabalha numa farmácia do Centro, o gradeamento dá uma ideia de que a praça diminuiu.
— Durante a Olimpíada, a gente podia andar à vontade, e uma multidão veio aqui se divertir. Não sei se colocaram a grade com medo de destruírem, mas acho que isso não ia acontecer não. Os cariocas adoraram este lugar — disse ele, que lamenta não poder parar sua bike no bicicletário escondido pelo gradeamento.
A dona de casa Maria Eduarda de Souza, que nesta segunda-feira visitou pela primeira vez o passeio, acha que as grades não combinam com a paisagem.
—Não é para a gente caminhar à vontade? Então para que estas grades? — questionou.
No Largo da Candelária, entre a Praça Quinze e a Praça Barão de Ladário, as grades que demarcam a área militar enfeiam o lugar. O espaço, que recebeu uma das piras olímpicas, virou um dos pontos preferidos para selfies na cidade.
O arquiteto João Pedro Backheuser, um dos autores do projeto de urbanização da Orla Conde, não gostou do que viu:
— Fiquei bastante surpreso ao ver as grades no local, não sei por que foram colocadas. É claro que interferem no uso e na qualidade da paisagem da área. Espero que em breve sejam removidas.
A Marinha passou a ocupar a encosta do São Bento em 1763, numa época em que o Rio se tornara o porto mais importante do Brasil Colônia. Naquele período, o Conde da Cunha, enviado pelo Marquês de Pombal, assumiu o governo da Capitania Geral do Rio de Janeiro, com ordens de criar um estaleiro, que viria a ser o Arsenal de Marinha do Rio. O local escolhido era estratégico, no sopé do morro, em área antes pertencente aos monges beneditinos, entre a Praça Quinze e a Prainha (hoje Praça Mauá).
A cessão do terreno para a Marinha é um capítulo conturbado da história.
Área tem histórico de disputas
No livro, “Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, 425 anos. 1590-2015”, de George Ermakoff e dom Mauro Fragoso, os autores contam que desde o século XVII houve várias histórias de disputa envolvendo os monges beneditinos e as autoridades marítimas. Ermakoff lembra que a Ilha das Cobras foi adquirida pelos monges, mas acabou sendo doada ao Ministério da Marinha.
— Para fazer a expansão do Arsenal, a Marinha começou a dinamitar o pé do morro. Em 1910, quando fizeram uma ponte ligando o Arsenal à Ilha das Cobras, houve cargas de dinamite que fizeram tremer o morro. Os monges protestaram e o Almirante Alexandrino ameaçou bombardear o mosteiro e anexar o terreno todo ao Arsenal. Ninguém sabe como, mas obrigaram o abade a assinar uma escritura doando a parte de baixo do morro e a ilha para a Marinha — complementa Ermakoff.
O historiador e pesquisador Olínio Coelho diz que ficou até surpreso quando, na época do anúncio das obras da Zona Portuária, leu nos jornais que a Marinha havia liberado aquela área.
— Toda a área entre o morro e o mar, naquele trecho, sempre foi de acesso restrito. Só se chegava ali por dentro do prédio e do terreno da Marinha. Com as obras de revitalização, a cidade teve acesso àquela paisagem — comenta.
Segundo o 1º Distrito Naval, o gradeamento de toda aquela região já estava previsto antes do início das intervenções. Por meio de nota, a Marinha informou “que o espaço em questão, de propriedade da MB, foi cedido temporariamente à prefeitura do Rio para a construção do Túnel Prefeito Marcello Alencar. Foi utilizado, ainda pela prefeitura, durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, e após o encerramento dos eventos, devolvido à Marinha, conforme previsto.”
O GLOBO/montedo.com
Crivella afirma que Marinha sinalizou que vai rever grades na Orla Conde
Prefeito eleito afirmou que entrou em contato com comandante da Marinha. Corporação confirmou 'entendimentos preliminares'.
Por G1 Rio
O prefeito eleito do Rio, Marcelo Crivella afirmou que entrou em contato nesta terça-feira (20) com o comandante da Marinha do Brasil, Almirante Leal Ferreira, e apelou para que a área da Orla Conde, ocupada 1º Distrito Naval, fosse liberada. Segundo Crivella, o almirante sinalizou que vai rever a medida. A expectativa, ainda de acordo com o prefeito eleito, é de que isso aconteça já nos próximos dias.
A Marinha confirmou que em "entendimentos preliminares" com Crivella, foi acordado que serão retiradas as grades que circundam a área prevista para o estacionamento da Marinha. Mas, de acordo com a nota, as grades junto à Orla serão mantidas, para proporcionar maior segurança e evitar quedas.
A Orla Conde fica no Boulevard Olímpico, novo ponto turístico do Rio, que se tornou a área mais popular da cidade durante a Olimpíada. Grades colocadas pela Marinha após os jogos fizeram com que a circulação de pessoas ficasse restrita entre o Museu do Amanhã, na Praça Mauá, e a Casa França Brasil, na Candelária, A Marinha afirma que o espaço é dela. Já a prefeitura diz que há um acordo de cessão do espaço.
O impasse sobre o trecho da chamada Orla Conde, que foi cercado pela Marinha, foi divulgado em reportagem publicada na edição desta terça-feira (20) do Jornal O Globo. Conforme a publicação, a Marinha colocou grades dos dois lados, formando um corredor entre o mar e as edificações. Em alguns trechos o gramado ficou inacessível, assim como bancos públicos e bicicletários.
A prefeitura diz que a Marinha não cumpriu o acordo feito antes da obra. Pelo combinado, a Marinha liberaria a área para construir a orla e, em troca, receberia melhorias no 1º Distrito Naval, um novo restaurante e um estacionamento subterrâneo. A prefeitura diz que só falta construir o acesso ao estacionamento, que já está pronto.
De acordo com o secretário especial de Concessões e Parcerias Público-Privadas (Secpar), Jorge Arraes, o acordo foi firmado com a Marinha em 2014. Além disso, Arraes afirmou que a Prefeitura do Rio espera que a iniciativa seja desfeita.
Segundo a reportagem do Jornal O Globo, a Marinha afirmou que o gradeamento da área já estava previsto antes mesmo das obras e que o espaço foi cedido temporariamente à prefeitura para a construção do túnel subterrâneo Marcello Alencar.
G1/montedo.com