28 de janeiro de 2017

Ação em presídio pode fortalecer militares em debate sobre Previdência

LAÍS ALEGRETTI
GUSTAVO URIBE
DE BRASÍLIA
A atuação das Forças Armadas em presídios poderá fortalecer os militares e aumentar seu poder de negociação com o governo no debate sobre a reforma da Previdência, na avaliação de militares e funcionários do Palácio do Planalto ouvidos pela Folha.
A proposta de reforma da Previdência enviada pelo presidente Michel Temer ao Congresso deixou de fora as Forças Armadas, que têm regras próprias para aposentadorias e pensões, o que motivou críticas de especialistas.
O governo diz que deixou os militares de fora, inicialmente, porque seu regime de trabalho também é diferente —por exemplo, eles podem ser convocados depois de transferidos para a reserva.
Temer promete apresentar uma proposta com mudanças específicas para a os militares ainda neste ano.
Com a ressalva de que não houve uma "troca" e que se trata apenas de uma consequência positiva para eles, militares consideram que a ação nos presídios pode "sensibilizar" a opinião pública em relação ao papel deles.
Segundo um auxiliar de Temer, o resultado para a discussão sobre a Previdência será uma queda de braço entre a área econômica, preocupada com a questão fiscal, e as Forças Armadas, que querem preservar os militares.
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse à Folha que os militares estão entre as instituições mais prestigiadas do país e que a questão dos presídios não impacta a discussão sobre a previdência. "Vamos contribuir [para a reforma], de acordo com as especificidades da função militar."
O receio dos militares -que foi mencionado a Temer —é de que a atuação em presídios se torne rotineira. O entendimento deles é que a ação deve ter caráter emergencial.
Em reunião com governadores na quarta-feira (18), no entanto, Temer mencionou que as inspeções pelas Forças Armadas podem ser feitas "quem sabe mês a mês".
Integrantes da cúpula das Forças Armadas dizem que os militares se tornaram um "canivete suíço", com diversas utilidades. Em tom de brincadeira, também citam o posto Ipiranga, em referência à propaganda que coloca o estabelecimento como solução de qualquer problema.
Militares ouvidos pela Folha trabalham com possibilidade de elevação do tempo de contribuição exigido para aposentadoria de militares, de 30 para 35 anos, mas rejeitam um aumento da sua alíquota de contribuição, hoje 7,5%.
O deficit do regime dos militares foi de R$ 33 bilhões em 2015, com 297 mil beneficiados. O regime de servidores civis da União teve no mesmo período resultado negativo de R$ 40 bilhões, com pagamento a mais de 681 mil pessoas.
Folha/montedo.com