Exército barra moto por causa de acidentes
Preocupado com a segurança, 38º BI adota medidas para evitar o uso do veículo
Raquel Lopes
rflopes@redegazeta.com.br
Depois de acidentes recentes de moto envolvendo militares do 38º Batalhão de Infantaria, em Vila Velha, o comandante do batalhão, coronel Edson Massayuki Hiroshi, fez um pedido para que a corporação não use o veículo. A opção por utilizar ou não será critério para escolher quem irá atuar no local.
O acidente mais recente foi a morte do cabo Maxiel Ribeiro, 21. Ele morreu ao bater em um poste, em 1º de janeiro, na ES 010, na Serra. Para o comandante, uma forma de garantir a segurança da corporação é manter atuando no batalhão quem não andar de moto. Cerca de 250 militares, que estão como temporários, entre eles oficiais, sargentos, cabos e soldados, precisam todos os anos passar por uma renovação entre março e maio. Para renovar a permanência, um dos critérios será a não utilização da motocicleta.
“Não posso proibir o uso da moto, mas posso escolher quais militares temporários, que precisam de parecer do comandante para continuar no batalhão, irão continuar. Estou dando preferência para que permaneçam servindo aqueles que não usam moto. Já os que se alistaram e têm perfil para entrar, vou dar preferência aos que não utilizam moto”, afirmou.
O militar que se comprometer a não usar moto, inclusive na garupa, terá que assinar um termo. Dessa forma, caso seja visto no veículo, é como se estivesse mentindo, o que é transgressão disciplinar, sujeita a punições. Para quem tem apenas moto como meio de locomoção, será dado vale transporte. Hiroshi acrescenta que promoverá palestras para incentivar os demais militares a não usarem moto.
Motocicletas lideram acidentes no Estado
O maior número de acidentes de trânsito no Estado ocorre com motos, segundo a Secretaria de Estado de Saúde do Espírito Santo (Sesa). Os acidentes de moto também representam a maior parte dos atendimentos feitos por serviços de resgate como Samu e Corpo de Bombeiros.
Somente de janeiro a junho do ano passado ocorreram 2.222 acidentes na Grande Vitória, uma média de 12 ocorrências por dia. Deste total, 25 motociclistas morreram, segundo dados do Batalhão da Polícia de Trânsito (BPTran). Além disso, o governo do Estado chega a gastar com internação hospitalar R$ 11 mil com cada vítima de acidente.
Segundo o coronel Hiroshi, é alto o número de militares envolvidos em acidentes. No Batalhão, representa o maior problema de afastamento da corporação. “Os militares ficam mais tempo sem trabalhar por causa de acidentes de moto. Temos um trânsito que causa morte no país e a maior vítima é o motociclista. Com tudo isso, fiz uma análise como responsável para saber o que poderia fazer além de inúmeras palestras”, aponta.
GAZETAONLINE/montedo.com
Comento
Evidentemente, a preocupação do comandante é legítima. É só pesquisar aqui no blog para constatar a quantidade de militares jovens, principalmente cabos e soldados, vitimados em acidentes de trânsito, a grande maioria pilotando motocicletas.
Mas também é evidente que os critérios estabelecidos pelo coronel para prorrogar o tempo de serviço de seus subordinados são uma afronta às liberdades individuais, garantidas pela Constituição. Num País que se quer democrático, o que não é proibido - obviamente! - é permitido. Se a utilização de motocicleta por pessoas habilitadas é absolutamente legal, deveria ser impensável criar restrições administrativas em sentido contrário no âmbito interno dos quartéis, à luz de um poder discricionário conferido por regulamentos e portarias situados muitos degraus abaixo da Carta Magna no estamento jurídico.
Releiam este absurdo: "O militar que se comprometer a não usar moto, inclusive na garupa, terá que assinar um termo. Dessa forma, caso seja visto no veículo, é como se estivesse mentindo, o que é transgressão disciplinar, sujeita a punições."
Se algo de positivo há nesse episódio, é o 'sincericídio' cometido pelo comandante, que escancara a prática - tão comum quanto velada - de aplicar critérios personalistas, prepotentes e ilegais na tomada de decisões atrás dos muros dos quartéis.
Urge mudar as mentes, não impor critérios descabidos.