14 de março de 2017

Após Haiti, próxima missão de paz do Brasil deve ser na África, diz Jungmann

Avaliação é que país caribenho retomou a estabilidade, segundo ministro da Defesa
RENATA MARIZ
BRASÍLIA - Após investir R$ 2,5 bilhões, dos quais R$ 930 milhões foram restituídos pela Organização das Nações Unidas (ONU), segundo dados contabilizados pelo governo até setembro passado, o Brasil deve deixar o Haiti em outubro deste ano. Apesar de ser possível uma extensão da operação até abril de 2018, a tendência é que as tropas brasileiras saiam antes, por considerar que o país caribenho retomou a estabilidade, disse o ministro da Defesa, Raul Jungmann. Com isso, o endereço da próxima missão de paz já vem sendo discutido pela pasta em conjunto com o Itamaraty.
Segundo as análises feitas até agora pela cúpula do governo, o destino mais cotado é a África, entre os 16 convites endereçados ao Brasil. Até porque metade desse total de opções está em território africano, aponta Jungmann. Há a possibilidade ainda de expansão de missões em andamento, como a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil), que tem homens brasileiros no comando da parte marítima e poderia contar com tropas também em terra.
Mas os interesses diplomáticos ainda estão sendo estudados antes de uma definição da próxima missão de paz. A continuidade das operações é a única questão fechada pelo governo brasileiro, mesmo com a economia combalida após um segundo ano consecutivo de recessão:
— Participar de missões de paz é uma política de diplomacia do Brasil importante para ampliar sua projeção no exterior. Isso representa muito em termos diplomáticos e o Haiti se transformou num paradigma. Vamos continuar as missões, mas sempre sob o manto da ONU (Organização das Nações Unidas) — disse Jungmann.
Uma reunião do Conselho de Segurança da ONU marcada para o fim de março e início de abril vai analisar a situação do Haiti e o melhor momento para a saída dos capacetes azuis, como são conhecidos os homens da missão de paz que há mais de uma década operam no país, arrasado por dois terremotos no período. No comando da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), o Brasil mandou 36.058 homens e mulheres, substituídos a cada seis meses, ao país.
Os gastos brasileiros com a Minustah somaram R$ 2,5 bilhões, incluindo o treinamento feito antes da missão, a logística de envio de homens e materiais e a manutenção das tropas no local. Em 2010, houve um salto nos recursos dispendidos, que atingiram R$ 673 milhões. A ONU reembolsa o Brasil apenas pelos custos assumidos durante a execução da missão no Haiti. Os valores somam R$ 930,9 milhões calculados com base na cotação do dólar da época.
A decisão pela saída da missão de paz do Haiti se consolidou com o fim do processo eleitoral que alçou Jovenel Moise à presidência sem contestações ou distúrbios de violência no início deste ano. Um grupo de avaliação estratégica da ONU esteve no país e constatou um nível de estabilidade suficiente para a retirada dos capacetes azuis. Além do equilíbrio político, foi verificada também a infraestrutura haitiana que, embora arrasada por dois terremotos desde a chegada da missão, vem melhorando paulatinamente.
O Globo/montedo.com