7 de março de 2017

Pousos de voos britânicos para as Malvinas geram mal-estar entre Brasil e Argentina

Argentina questiona Brasil por voos britânicos às Ilhas Malvinas
Dezoito voos militares teriam partido do país em direção ao arquipélago; brasileiros apoiam a reivindicação argentina pela soberania da região

A Argentina expressou nesta quarta-feira (1) sua “preocupação” com o Brasil após detectar que foram realizados pelo menos 18 voos militares da Real Força Aérea Britânica entre aeroportos do país e as Ilhas Malvinas nos últimos anos. A informação contradiz o apoio histórico dos brasileiros à reivindicação argentina pela soberania do arquipélago.
A chancelaria argentina disse em comunicado que a Direção Nacional de Controle de Tráfego Aéreo reportou durante 2016 “pelo menos seis voos militares operados pela Real Força Aérea entre aeroportos brasileiros e Monte Agradable” (Mount Pleasant, em inglês), onde está uma base militar britânica nas Malvinas. O governo argentino diz que em 2015 houve 12 voos similares a partir do Brasil.
O governo também manifestou formalmente “preocupação por tal situação” à chancelaria do Brasil e recordou “o compromisso brasileiro de não receber em seus aeroportos e portos aeronaves ou navios britânicos de guerra” dos arquipélagos em disputa, em concordância com a posição adotada pelo Mercosul e pela Unasul.
De acordo com a Argentina, a resposta da chancelaria brasileira foi de que “não tinha conhecimento de tais voos, comprometendo-se a desenvolver as consultas pertinentes ao Ministério da Defesa local”. Foi feita consulta similar à embaixada brasileira em Buenos Aires e a resposta foi similar. Ainda de acordo com a embaixada do Brasil, os voos podem ter se tratado de “questões humanitárias ou de emergências provocadas por problemas técnicos”.
A declaração oficial do governo argentino ocorre um dia após uma rede de notícias local divulgar um suposto documento secreto da chancelaria argentina que registrava voos militares britânicos entre as Malvinas e os aeroportos de Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
Em 1982, Argentina e Reino Unido travaram uma guerra pela soberania das ilhas, com saldo de 649 soldados argentinos e 255 britânicos mortos. A relação diplomática foi retomada na década de 1990, mas a negativa inglesa de discutir a soberania das Malvinas, chamadas por eles de Ilhas Falkland, é motivo de questionamentos permanentes dos governos argentinos ante organismos internacionais.
O presidente Mauricio Macri, afirmou, em mensagem de abertura do período ordinário de sessões do Congresso, nesta quarta-feira, que o diálogo “é o caminho para avançar em nossos interesses, incluindo nossa reivindicação legítima pela soberania das Ilhas Malvinas, Geórgia do Sul e Sandwich do Sul. O diálogo fortalece nossa posição e nos permite aproximarmo-nos para encontrar uma solução definitiva para este prolongado desacordo”. (Com Estadão Conteúdo)
Veja/montedo.com

Aviões militares britânicos pousam em Porto Alegre desde 2015, comprovam novas imagens
Presença de aeronaves da Royal Air Force em aeroportos causou mal-estar entre Brasil e Argentina; Governo brasileiro segue em silêncio

Rodrigo Lopes
Desde 2015, aviões militares britânicos pousam no Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, como escala rumo às Ilhas Malvinas (Falklands, para o Reino Unido). É o que comprovam novas imagens obtidas pela coluna nesta segunda-feira.
Nos registros, feitos pelo fotógrafo Raul Pereira, amante de aviação e editor do site Poa Spotter, uma aeronave Hércules C-130J, de prefixo ZH881 da Royal Air Force (força aérea britânica), aparece pousando no aeroporto da capital gaúcha, por volta das 14h do dia 6 de maio.
O uso de aeroportos brasileiros por aviões do Reino Unido em 2015 e 2016 é motivo de mal-estar entre os governos de Brasil e Argentina. Na semana passada, um documento do controle de tráfego aéreo do país vizinho veio à tona, identificando seis pousos nos aeroportos de Rio, São Paulo e Porto Alegre entre novembro e dezembro de 2016. Em 2015, foram 12 pousos.
Os aviões teriam como destino as Malvinas, território britânico no Atlântico Sul que a Argentina reivindica como seu e que foi palco de uma guerra em 1982.
Mais cedo, nesta segunda-feira, a coluna mostrou o flagrante de um pouso de outro Hércules britânico, de prefixo ZH882, em agosto de 2016.
A chancelaria argentina pediu explicações ao governo brasileiro sobre o caso. Oficialmente, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil não se manifesta sobre os voos. Já o Ministério da Defesa informou que o caso está com a Força Aérea Brasileira (FAB). Procurada por ZH, a FAB disse que está apurando a questão. Mas, até o momento, o governo brasileiro não reconhece o pouso dos aviões estrangeiros. O uso dos aeroportos por aeronaves britânicas tendo como destino as Malvinas viola, na opinião dos argentinos, acordos entre os dois países latino-americanos nos âmbitos do Mercosul e da Unasul.



Zero Hora/Zero Hora/montedo.com