18 de junho de 2017

Transexual 'crucificada' vai desfilar fantasiada de capitão do exército na parada gay de SP

Transexual 'crucificada' vai desfilar de militar em Parada Gay de SP: 'Estamos em todos os lugares'
Viviany Beleboni ganhou notoriedade ao desfilar pendurada em cruz em 2015. Desfile da diversidade será realizado neste domingo na Avenida Paulista.
Viviany Beleboni fez ensaio fotográfico para o G1 com a fantasia que vai usar na Parada Gay 2017 (Foto: Foto e maquiagem: Marcio Desideri/Divulgação; cabelo: Diones Ford)
Viviany Beleboni vai sair de militar na Parada Gay (Foto e maquiagem: Marcio Desideri/Divulgação)
Gabriela Gonçalves, G1 SP, São Paulo
A atriz e modelo Viviany Beleboni, de 28 anos, vai desfilar neste domingo (18) na 21ª edição da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo vestida de militar em plena Avenida Paulista. Depois de aparecer “crucificada”, em 2015, e de representar a bíblia, em 2016, a jovem vai criticar o fundamentalismo religioso, o conservadorismo mundial e a falta de espaço para pessoas transexuais no Exército.
“Temos que aprender a votar antes que a extrema direita avance e tire nossos direitos. Esse movimento é muito grande, a parada LGBT é muito mais do que o desfile de domingo. Nós estamos em todos os lugares", disse Viviany ao G1.
Com o tema "Independente de nossas crenças, nenhuma religião é lei. Todos e todas por um estado laico", a Parada Gay acontece entre as 12h e as 18h deste domingo (18), no Centro da capital, e vai contar com a participação de Anitta, Daniela Mercury, Naiara Azevedo, entre outros artistas.
Além da roupa militar, Viviany vai segurar uma bazuca e três cartazes com críticas ao presidente americano Donald Trump; o russo Vladimir Putin e ao Brasil. Em sua performance, ela afirma que vai mirar sua arma em cada um dos elementos e ao atirar, sairá um buquê de rosas brancas que simbolizam um pedido de paz e união.
A escolha da roupa foi motivada por muitas questões, segundo a atriz. É uma crítica às torturas que pessoas LGBT têm sofrido na Chechênia, ao fundamentalismo religioso e à falta de espaço que pessoas transexuais têm no exército. “Eu sempre pesquiso a situação política, o que está acontecendo no mundo, para saber o eu acho construtivo para a sociedade discutir.”
Outra preocupação de Viviany são as eleições presidenciais que acontecem no Brasil em 2018. Ela pretende usar o debate gerado pela Parada Gay para que seja eleito um candidato que represente as pautas LGBT.
“A comunidade LGBT tem muitas nuances. Eu costumo falar que nós saímos do armário duas vezes: uma quando a gente se assume para a sociedade e família e outra quando a gente entende que somos iguais apesar de sermos diversos, independente se você é trans, bi ou homossexual”, explica a atriz.
"Tem pessoas que não se assumem, porque têm medo de perder o emprego, de não ser aceitos em suas famílias, porque têm vergonha. Parece que a gente tem que se esconder e se enquadrar dentro de um padrão. Quando você se assume sua beleza e seu talento parece que para de valer.”
Viviany Beleboni vai sair de militar na Parada Gay (Foto: Foto e maquiagem: Marcio Desideri/Divulgação)
Viviany Beleboni vai sair de militar na Parada Gay (Foto e maquiagem: Marcio Desideri/Divulgação)
Repercussão
Com escolhas polêmicas para os desfiles da Parada, Viviany afirma que não tem problemas com a repercussão de suas performances.
“Eu trago assuntos que precisam ser discutidos pela sociedade. É importante nesse dia os assuntos terem visibilidade. Eu, como artista, não quero aparecer por aparecer. A polêmica é a recepção de cada pessoa. Se gerar polêmica é discutir assuntos que precisam ser debatidos, então eu vou gerar polêmica.”
Neste ano, o evento terá artistas como Anitta, Daniela Mercury e Naiara Azevedo, o que promete atrair um grande público para a Avenida Paulista. Isso, no entanto, no agradou Viviany. "Quanto mais politizada a Parada for, a resposta vai ser melhor. Artistas conhecidos acabam tirando o foco da Parada, porque as pessoas acabam indo pelos shows e o tema discutido não é falado. Isso é uma Parada por direitos e não um carnaval fora de época."
Para Viviany, os direitos e pautas LGBT devem ser discutidas o ano todo. "Eu quero despertar e debater justamente isso para que o Brasil não vire uma Rússia. A gente não tem que pensar só na semana LGBT, a gente precisa se politizar antes que isso se torne um país ainda mais conservador."
G1/montedo.com