8 de março de 2018

A "Namorada Guerreira"

Nazistas mataram seu marido. Ela comprou um tanque para se vingar
Mariya Oktyabrskaya doou um T-34 ao Exército Vermelho e pessoalmente o pilotou em combate, ganhando fama por sua bravura suicida

Mariya no topo do "Namorada"Domínio Público

Thais Uehara
A má notícia levara dois anos para chegar a Mariya Oktyabrskaya. Foi só em 1943 que ela ficou sabendo que seu marido, Ilya, havia sido morto em agosto de 1941, logo no começo da invasão nazista, em Kiev, Ucrânia.

Até aí, uma triste história que se repetiria inúmeras vezes no país que perderia entre 10 e 12 milhões de pessoas em combate — de longe, o maior número de perdas militares e mais que o dobro dos da Alemanha Nazista.
Mariya, porém, queria vingança e queria agora. Ela pegou suas economias e enviou uma carta para Stalin.
“Meu marido foi morto em ação defendendo a pátria. Eu quero me vingar dos cães fascistas pela morte e pela morte do povo soviético torturado pelos bárbaros fascistas. Para esse efeito , depositei todas as minhas poupanças pessoais — 50.000 rublos — para o Banco Nacional, a fim de construir um tanque. Gostaria de nomear o tanque 'Namorada Guerreira' e ser enviada para a linha de frente como motorista do referido tanque.”
Farejando boa publicidade, o Comitê de Defesa do Estado decidiu conceder seu desejo. Mariya foi alistada e treinada por 5 meses como piloto de tanques. Na torreta do T-34 a ela destinado, gravou as palavras: Боевая подруга (Boyevaya Podruga). "Namorada Guerreira". Tinha então 38 anos. 
Mariya posando no T-34 | <i>Crédito: Domínio Público
Mariya posando no T-34 | Crédito: Domínio Público


A VINGANÇA
Em sua primeira batalha, em Smolensk, 21 de outubro de 1943, o "Namorada" destruiu posições de artilharia e metralhadora alemãs. Quando o veículo foi antigido, ignorando ordens, ela foi para fora, em meio ao fogo inimigo, e conseguiu consertá-lo. Isso rendeu-lhe a promoção a sargento.
Em 17 de novembro, na reconquista soviética de Novoye Selo, o mesmo aconteceu: seu tanque perdeu a lagarta para um tiro de artilharia e ela saiu, conseguindo consertá-lo para se juntar novamente à coluna do Exército Vermelho. Logo a fama se espalhou sobre a piloto que simplesmente não podia ser parada.
Sua carreira seria meteórica, mas curta. No dia 17 de janeiro de 1944, Mariya e sua equipe haviam cruzado as linhas alemães e atacavam trincheiras e ninhos de metralhadoras, conseguindo destruir uma grande peça de artilharia autopropulsionada. Foi quando, no que já era rotina, um projétil antitanque atingiu a Namorada Guerreira e destruiu uma de suas lagartas.
Como de costume, a piloto saiu para tentar consertar. Consegui botar o tanque para andar, mas sua sorte havia acabado. Um fragmento da exposão de um tiro de artilharia atingiu-a na cabeça. 
Mariya entrou em coma. Dois meses depois de sua última batalha, sem recuperar à consciência, sucumbiu à sua lesão. No dia 2 de agosto de 1944 ela receberia postumamente o título de Herói da União Soviética, a maior honraria oferecida pelo govenro soviético. Era a primeira mulher piloto de tanque a ter esse reconhecimento.