13 de abril de 2018

RJ: treinamento do exército pretende diminuir número de PMs mortos em serviço e vítimas de balas perdidas

Cerca de 500 agentes receberão reciclagem. Batalhão de Bangu foi priorizado
Policiais Militares participam de treinamento realizado pelo Exército na Vila Militar, em Deodoro
Guito Moreto / Agência O Globo
NATÁLIA BOERE
RIO - “Vai morrer geral”, avisou o bandido. “Não atira, estou com meu filho no colo”, clamou uma moradora. “Temos um policial ferido”, exclamou um agente. A cena, que simulava um confronto entre a polícia e traficantes, “interpretados” por soldados do exército, fez parte do curso de reciclagem que começou a ser oferecido esta semana pelo Gabinete de Intervenção Federal a policiais militares.
Na aula, ministrada nesta quinta-feira no Centro de Adestramento Leste, na Vila Militar, em Deodoro, Zona Oeste do Rio, os PMs tiveram lições de como ocupar um abrigo corretamente, como usar o armamento com eficácia, como socorrer um companheiro ferido e como proteger a população civil do entorno.
- Um dos objetivos é diminuir o número de policiais mortos em serviço e de vítimas de balas perdidas em confrontos. No momento em que você melhora a técnica policial, você diminui consideravelmente os riscos de o policial ser atingido e de ele atingir inocentes que não têm nada a ver com a área conflagrada e estão ali meramente sob a tirania de organizações criminosas - afirmou o porta-voz do Comando Militar do Leste (CML), coronel Carlos Cinelli.
Na prática de progressão de tiro em áreas de confronto, descrita acima, os alunos usaram um dispositivo de simulação de engajamento tático, tecnologia exclusiva do exército.
- O dispositivo é composto por um conjunto de receptores acoplados no capacete e no colete do militar, associados a um emissor laser, que funciona por meio do acionamento do tiro de festim. O dispositivo possibilita, através de um alto-falante, acusar se o tiro está passando de raspão, próximo ao militar, para que ele possa se abrigar corretamente, se ele foi ferido, ou se foi morto em ação - explicou o tenente-coronel Ricardo Barreto, comandante do Centro de Adestramento Leste.
O Coronel Cinelli fez questão de destacar que "a técnica usada pela polícia militar em seus treinamentos é muito semelhante" e que o exército está cedendo sua tecnologia de engajamento "para que os policiais possam viver essa experiência da forma mais realista possível".
- O que estamos fazendo é sistematizar melhor e concentrar as principais disciplinas que eles precisam revisar. No campo das capacitações práticas, é necessário periodicamente revisar alguns atributos. Muitos estão ligados a gestos automatizados que eles executam que, com o tempo, vão perdendo a capacidade de executar. Nosso método visa uma prática mais regular, intensiva - disse Cinelli.
As aulas também estão sendo ministradas no Depósito Central de Munição, em Paracambi, na Baixada Fluminense. Ao todo, cerca de 500 homens serão treinados em quatro levas: 130 por semana, que, após o curso, estarão aptos a repassar os ensinamentos em seus batalhões. A duração do programa é de 40 horas, divididas em cinco dias. O treinamento ainda engloba teoria e práticas de tiro de pistola e de fuzil, além de montagem e desmontagem e manutenção do armamento. A primeira turma foi composta por policiais do 14° BPM (Bangu).
Policiais militares fazem treino de tiro com militares - Natália Boere
- Começamos com a polícia do 14º BPM porque é o batalhão que faz o patrulhamento na Vila Kennedy, comunidade que escolhemos como modelo (para a intervenção). Esta é a terceira fase de ações combinadas com os comandos da PM, da Polícia Civil, dos Bombeiros e da Secretaria de Administração Penitenciária dentro da intervenção federal na segurança do Rio. A primeira foi composta de reuniões com os comandos para identificar as necessidades de cada unidade. E a segunda, por vistorias nos batalhões e delegacias - explicou o coronel Roberto Itamar, porta-voz do Gabinete de Intervenção Federal.
O soldado Leonardo Ribeiro Barbosa, da UPP do Batan, considerou o treinamento muito proveitoso:
- Estamos aprimorando as técnicas com um apoio logístico maior. Isso traz mais confiança para o policial e mais segurança para a população. Com mais prática a gente vai mais confiante para as ruas.
O Globo/montedo.com