24 de maio de 2018

Tensão:Maduro está prendendo militares na Venezuela

Prisões de militares indicam aumento de tensão na Venezuela
Maduro estaria buscando evitar rebeliões diante de mal-estar crescente
(AP Photo/Fernando Llano)
JANAÍNA FIGUEIREDO / ENVIADA ESPECIAL
CARACAS — Não existem dados oficiais, mas ONGs locais como a Foro Penal e jornalistas que monitoram de perto os quartéis venezuelanos asseguram que nas últimas semanas foram detidos entre 11 e 30 militares de diferentes regiões do país, num clima de elevada tensão na Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb). Outras fontes falam em até 200 prisões. O motivo principal que explicaria as ações do governo do presidente Nicolás Maduro é o crescente mal-estar entre os militares pela deterioração política, econômica e social do país. E com esse sentimento se instalando entre os membros da Fanb, o Palácio de Miraflores estaria buscando evitar eventuais rebeliões.
— O clima nas Forças Armadas está transbordando, a sensação é de que o mal-estar está chegando a níveis insustentáveis — comentou ao GLOBO a jornalista Sebastiana Barraez, considerada uma das mais bem informadas sobre o mundo militar.
Em seu blog, a jornalista escreveu um artigo intitulado “O ruidoso silêncio das detenções de oficiais na Fanb”, no qual incluiu uma lista de 83 militares presos nos últimos meses, com nome e sobrenome.
— Acho que as prisões de militares vão continuar nos próximos dias. O ruído, embora não saia dos quartéis, é grande — disse a jornalista, que também prevê mudanças na cúpula militar nas próximas semanas.
Para ela, “justamente por este mal-estar é provável que o governo faça alterações, para tentar manter o controle”:
— Nas últimas duas semanas, tivemos cerca de 30 detenções de militares em Caracas, Carabobo e Maracay — assegurou.
Os militares vivem a mesma crise econômica que o resto dos venezuelanos, que já é trágica para a grande maioria da população. Empresas de consultoria locais como a Ecoanalítica projetam uma hiperinflação de 18.000% para este ano. A isso somam-se a escassez de alimentos e medicamentos, a insegurança nas ruas e a falta de confiança em todos os políticos do país, chavistas e antichavistas. O êxodo de venezuelanos é cada vez mais expressivo e hoje calcula-se que um milhão de famílias sobrevivam graças ao dinheiro que recebem dos familiares emigrados.

ISOLAMENTO INTERNACIONAL
O panorama político é cada vez mais delicado, e o isolamento do governo Maduro, cada vez maior. Dos 14 países que integram o chamado Grupo de Lima, que não reconheceu a reeleição do presidente anunciada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), apenas Guiana deixaria seu embaixador no país. Especula-se sobre a saída, também, dos embaixadores de países da União Europeia (UE).
Nesta quarta-feira, uma das incógnitas em Caracas era saber do que se trata o recurso apresentado pelo chefe de Estado ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ), na última terça-feira. De acordo com o analista Oswaldo Ramírez Colina, uma das possibilidades é que Maduro esteja buscando que o STJ ratifique sua eleição para evitar denúncias de usurpação de poder, já que, de acordo com o calendário original do CNE, o pleito presidencial deveria ser realizado em dezembro.
— Não sabemos o que está por trás do recurso presidencial. Outra opção é que seja alguma medida para anular de vez a Assembleia Nacional (AN) controlada pela oposição — opinou o analista.
Para ele, a perseguição à oposição vai se acentuar nas próximas semanas. O deputado Julio Borges, fora do país, já foi declarado foragido da Justiça.
— O governo está sem margem de manobra, sem recursos, e sua única saída é se fechar cada vez mais e radicalizar — concluiu Ramírez Colina.
O Globo/montedo.com