31 de julho de 2009

ARAGUAIA: APÓS DELIMITAÇÃO DAS ÁREAS, ESCAVAÇÕES COMEÇAM EM AGOSTO

Alex Rodrigues

Com o fim da primeira etapa das atividades em campo, ontem (28), o grupo de trabalho criado pelo Ministério da Defesa para localizar e resgatar os restos mortais dos desaparecidos da Guerrilha do Araguaia acrescentou três novos locais à relação de prováveis pontos onde podem ter sido enterrados os corpos de guerrilheiros e de eventuais agricultores mortos durante os combates entre opositores do regime militar e tropas do Exército, durante a primeira metade da década de 1970.
Segundo o general Mário Lúcio Alves de Araújo, coordenador logístico do grupo, os três novos locais foram indicados por ex-mateiros e por moradores de Marabá, São Domingos do Araguaia e São Geraldo do Araguaia, cidades paraenses próximas à região onde estão concentradas as buscas.
Dos 17 pontos identificados durante a fase de reconhecimento da área onde os corpos podem ter sido enterrados, dez serão escavados já a partir do próximo dia 10 de agosto. De acordo com o general, há “fortes indícios da presença de restos mortais” nestes locais, apontados por pessoas que presenciaram as mortes e a ocultação dos corpos e que, hoje, servem voluntariamente de guias para o grupo de militares, antropólogos, geólogos, médicos legistas e observadores nomeados pelo ministério. A ausência de representantes de parentes dos desaparecidos motivou críticas à iniciativa por parte da Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.
“Vamos limpar o terreno, passar um radar de penetração terrestre [GPR ou Geo-Radar] capaz de fazer a leitura do terreno, em busca de alvos [vestígios], a uma profundidade de até dois metros. Onde estes alvos forem identificados, será feita uma escavação para verificar se de fato se trata de ossadas”, explicou Araújo à Agência Brasil. “Pode ser que entre os outros sete pontos surjam novos dados, indícios fortes, que então serão submetidos ao grupo para que sejam incluídos ou não entre os factíveis de encontrar restos mortais.”
A fase de escavações se estenderá até o final de outubro, quando começam as chuvas na região. “A partir daí não há mais como escavar [o terreno]. A parte técnica fica muito prejudicada com o período chuvoso”, afirma o general, lembrando que, se necessário e a critério do Ministério da Defesa, as escavações poderão ser retomadas após o fim do período chuvoso.
Segundo o general, com o tempo decorrido desde o episódio, a região passou por inúmeras mudanças, o que dificulta a localização do ponto exato onde alguns corpos foram enterrados. Daí a importância dos guias locais. Araújo diz que os ex-mateiros foram identificados e indicados para colaborar com o grupo por alguns dos observadores independentes, pessoas que já atuam na região.
“Essas pessoas têm grande conhecimento da área devido ao trabalho político que desenvolvem na região e conseguiram agregar ex-mateiros e guias remanescentes do episódio. E são estas pessoas que têm contribuído para apontar os locais onde ocorreram os enterros. Apesar da passagem do tempo, essas pessoas dispõem de lembranças para nos indicar esses locais. Sem o trabalho dos guias, teríamos que nos basear apenas nos relatórios de expedições anteriores e na bibliografia existente.”
Araújo evitou comentar suas expectativas quanto ao resultado das buscas, mas garantiu que todos os esforços estão sendo empreendidos para que os restos mortais sejam encontrados. “Não posso adiantar nada, mas estamos com muita esperança de que a missão seja exitosa e estamos trabalhando com muito empenho para isso. A abordagem tem que ser extremamente técnica e sem paixão.”
De acordo com o oficial, pelo menos 30 pessoas estão envolvidas diretamente nas buscas. Considerando o trabalho logístico, desde alojamento até transporte dos integrantes do grupo de trabalho, outras 70 pessoas participam indiretamente da operação. Ainda segundo o general, somente a fase de reconhecimento custou em torno de R$ 600 mil, alocados pelo Ministério da Defesa. Os custos das duas próximas etapas – escavações e identificação dos corpos, esta última a cargo de laboratórios especializados contratados para esse fim – ainda estão sendo levantados.