Ricardo Montedo
Em verdade, em verdade, meus amores, confesso que tenho sido mau pai.
Admito que, durante todos estes anos, tenho sido, de fato, um “mala” (daquelas antigas, forro de couro, cantoneiras de metal, sem alça e cheia de dicionários completos).
Tenho sido um cara chato, exigente, atento, autoritário, muitas vezes, carinhoso, nem sempre, que não os beijou e abraçou o suficiente, que não lhes disse “eu te amo” tantas vezes quantas teve vontade.
Hoje, porém, meus filhos, quero falar-vos das lágrimas choradas às escondidas, do sofrimento disfarçado, das angústias reprimidas, das noites insones assombradas pelo medo e a dúvida.
Quero dar-vos conta da ajuda anônima, do amparo discreto, das confidências aos amigos, relatando, orgulhoso, suas pequenas vitórias.
Quero dizer-lhes do medo, da insegurança, do ímpeto de querer fazer tudo em seu lugar, refreado pela consciência de que cada um é dono de suas decisões e de que são estas que ditam o seu destino.
Dou-vos hoje, meus filhos, o testemunho de minha alegria, meu orgulho, meu alívio e a constatação de que, afinal, fiz o melhor que pude.
“Mãe é teto, pai é viga”, assim diz um antigo ditado.
Vossa viga nunca quebrou, mas vergou-se muitas vezes, sob o peso da responsabilidade de ser pai pela vida afora.
E neste dia, em que me invade a saudade do meu velho, que há tanto se foi; neste dia, que há muito tempo tem sido um misto de alegria e saudade; pois, neste dia, meus amores, vos digo: obrigado!
Obrigado por existirem!
Obrigado por alegrarem a vida deste pai!
Obrigado pelo seu amor!
Obrigado por serem as jóias que Deus colocou em meu caminho, para que eu as protegesse e amasse mais do que a minha vida!
Um beijo no coração,
PAI!