Fábio Góis
As tropas militares de Honduras não vão desfazer o cerco à embaixada brasileira na capital Tegucigalpa, onde o presidente deposto Manuel Zelaya permanece desde segunda-feira (21) na tentativa de voltar ao poder. A decisão, segundo o presidente hondurenho interino, estaria de acordo com as exigências do governo brasileiro em relação à segurança da sede diplomática.
“Estamos respondendo ao pedido de Lula ao governo de Honduras, que nós iríamos garantir a integridade da embaixada e também a vida de quem está lá dentro. É o que estamos fazendo. Tiramos um pouco de gente lá de dentro, e estamos deixando inteiramente a liberdade de mobilidade. Estamos comprometidos em garantir o acesso à parte de fora da embaixada ao povo e ao governo do Brasil”, declarou o chefe do governo golpista, que, como apoio do congresso, do judiciário e do exército hondurenhos, tomou o poder em junho. As informações são da Agência Brasil.
A situação em Tegucigalpa é de tensão constante, de acordo com diversos veículos da imprensa internacional que dividem suas atenções entre o que acontece em Honduras e a repercussão na Assembléia Gera da ONU, em curso nos Estados Unidos. É lá que o presidente Lula, à frente do país posto no centro do debate sobre o golpe em razão do abrigo a Zelaya, tenta uma solução pacífica com o amparo do Conselho de Segurança da ONU. O governo brasileiro não reconhece a legitimidade do governo de Micheletti, que convocou novas eleições para o fim do ano.
Ontem (25), Zelaya acusou as tropas hondurenhas de usar a tubulação da embaixada brasileira para jogar gás venenoso nas dependências do prédio, que funciona com estrutura mínima. Os gases tóxicos teriam provocado problemas respiratórios e sangramento nasal e nas vias urinárias de alguns correligionários. Agências de notícia veicularam imagens de Zelaya com um tecido branco manchado de sangue, que teria sido usado por um de seus apoiadores. As autoridades do governo interino negam as acusações.
No início da tarde de hoje (sábado, 26), o ministro-conselheiro de Negócios do Brasil em Honduras, Francisco Catunda, deixou a sede diplomática brasileira com críticas à ação do governo golpista. Segundo Catunda, que teve a saída da embaixada dificultada pelos militares sob o argumento da segurança, “é um verdadeiro absurdo” o episódio em curso na capital hondurenha.
O governo federal está preparando um documento a ser apresentado na 2ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da América do Sul e da África (ASA), no sentido de buscar um consenso entre as nações reunidas no encontro sobre o processo democrático em Honduras.
Zelaya diz que só aceita negociar com Michelleti caso haja um acordo pré-estipulado. Por sua vez, o presidente interino avisa que não haverá entendimento enquanto o presidente deposto mantiver a ocupação da embaixada e a suposta postura de incentivar protestos de zelayistas.