Ricardo Montedo
Sobre a matéria de Jorge Serrão, postada abaixo, devo lembrar que já registrei aqui, em outras oportunidades, minha opinião, baseada na observação do comportamento dos chefes militares nos últimos trinta anos.
O que houve foi um progressivo afrouxamento, essa é a palavra, a pretexto de demonstrar disciplina intelectual. Ao longo das últimas décadas, por diversas vezes as Forças Armadas foram afrontadas por ladinos de plantão, sem que houvesse uma resposta à altura de seus comandantes.
Pouco a pouco, a tropa foi deixando de acreditar em seus generais, por não ver neles o comprometimento com a imagem da instituição, presumido de alguém que chegou ao ápice da carreira militar.
Assim, a lealdade progressivamente deixou de ser uma via de mão dupla, para transformar-se num quesito exigido dos subordinados, mas ao qual os superiores sentem-se cada vez mais à vontade para não atender.
E lá se foi, água abaixo, o respeito que os militares deveriam ter por seus chefes, o qual, porém, só obtém com atitudes firmes e coerentes, não por ditames regulamentares.
A profissão militar exige que os mais antigos, em qualquer nível, vez por outra, "dêem a cara à tapa", se quiserem granjear o respeito dos mais modernos. Nada mais funciona. É preciso lembrar, volta e meia, a um superior, que os regulamentos que ele exige que sejam obedecidos pelos subordinados valem também para si. E isso deve ser feito, a despeito do desgaste e do prejuízo profissional que possam advir de tal atitude.
Assim como as normas legais que regem a função militar valem para todos os fardados, desde o comandante da força ao recruta mais moderno, assim também a Constituição do País rege todos os cidadãos brasileiros, sejam militares ou civis, sejam soldados, generais, Ministros de Estado ou Presidentes da República.
Em diversas oportunidades, os militares esperaram de seus chefes uma postura altiva, digna, coerente com as melhores tradições castrenses, ante o abuso e o desrespeito sistemáticos à classe fardada.
Entretanto assistiram, entristecidos, a submissão dos comandantes a vontades e interesses nem sempre motivados por razões republicanas.
Lamentavelmente, militares com posturas firmes e coerentes são raça em extinção entre os altos coturnos.
Há tempos, o que mais se vê no meio castrense são chefes que silenciam, que se omitem, que permitem que as Forças Armadas sejam empurradas cada vez mais para o precipício, que disfarçam sua pusilanimidade sob o manto dos regulamentos.
De há muito, virou motivo de piada entre os baixos coturnos a expressão “nossos chefes estão preocupados”, proferida pelos comandantes como mantra sagrado para acalmar a tropa, a cada turbulência. Ninguém, seja comandante ou comandado, acredita mais nisso. Virou uma espécie de fala protocolar, que deve ser dita e a qual todos devem ouvir, porém, não tem importância nenhuma, pois já se sabe que os fardados estão novamente sobre um fio de navalha, a espera da boa vontade, de um gesto pretensamente magnânimo dos políticos da vez.
Muito mais do que aumento de salário, comida no rancho ou renovação de equipamentos, as Forças Armadas precisam com urgência, de Comandantes, com C maiúsculo, que honrem as tradições que representam. É isso, e recuperar a dignidade, ou continuar a caminhada inexorável para virar polícia do estado, instrumento político na mão do governante de plantão.