2 de novembro de 2009

SONHEI QUE EU ERA O PRESIDENTE

Sempre achei um enorme desperdício, soldados das Forças Armadas fazendo tarefas que não exigem preparo militar. Eles servem cafezinhos a oficiais, abrem e fecham correntes de estacionamentos, são mordomos nas casas dos generais etc. Será que um militar que se preparou para ingressar nas Forças Armadas está satisfeito em podar arbustos e alimentar animais de madames, enquanto tantas situações aguardam iniciativas qualificadas?
Bem, mas eu era o Presidente e podia tentar modificar algumas coisas.
Imediatamente solicitei reunião com os ministros da Defesa e da Justiça. Pedi que eles convocassem oficiais de alta patente do Exército, Marinha, Aeronáutica, Polícia Federal e BOPE para fazermos uma pequena operação. Aeronaves e veículos entregariam homens equipados e preparados, intelectual e fisicamente, entre 4:30h e 5:00h da manhã, em determinados pontos dos morros e do asfalto do Rio de Janeiro para capturar toda a rede alinhavada pelo tráfico e lavagem de dinheiro, incluindo políticos e magnatas esclarecidos que aguardavam suas fatias majoritárias de lucro, em suas mansões.
Sem qualquer espanto, recebi a notícia de que a Polícia Federal já tinha todos os registros, nomes de parentes, possíveis localizações de fuga, endereços estipulados como plano B, horários de trânsito, tudo rastreado em tempo real, em enormes monitores numa sala da qual já tinha ouvido falar.
Mandei que a Aeronáutica preparasse um cargueiro para ser o transporte de todos os capturados, com a logística necessária para suas novas funções, em novas terras.
Enviei comunicado à Marinha, ordenando – também – a revista de todas as embarcações de luxo que navegassem em águas brasileiras, sem exceção, de quaisquer proprietários, em quaisquer fronteiras. Antes das primeiras movimentações, instaurei um decreto acabando de vez com essa palhaçada, chamada: “Imunidade Parlamentar”.
Em conversa com dirigentes de Estados do Nordeste, delimitamos terreno na região do semi-árido, onde outra força militar levantaria, o mais rápido possível, nova prisão de segurança máxima, com irrigação artificial, abastecida pela abundante energia solar, sem sinal de telefonia celular e com variadas oficinas para todos os itens de necessidades básicas. Partiríamos do plantio e manipulação de frutas e verduras, passando pela confecção de pães e derivados, até o fabrico de movelaria diversa. Os detentos com nível superior ou equivalente, além do trabalho braçal, dariam aulas de ensino fundamental.
Foi uma experiência de sucesso com imediato resultado. Os níveis de violência e impunidade caíram abruptamente, e os jovens passaram a seguir novos e melhores exemplos. Naquele momento começávamos construir nova ética para gerações futuras.
Percebi que, com poucas decisões iniciais, consegui modificar situações internacionalmente vergonhosas.
O Distrito Federal teve de rapidamente abrir concursos para repor grande vazio repentino, enquanto eleições emergenciais se espalhavam por todo o país.
Quando acordei e refleti sobre meu sonho, tive a certeza de que a única coisa que realmente nos falta, chama-se: vontade.